Retirado do estudo do Bhagavad Gita
02 – A
renúncia dos frutos e a ação inegoísta, ambas conduzem à libertação; porém entre
as duas, a karma-yoga ou a ação impessoal e inegoísta é superior à simples
renúncia de agir.
Renunciar ao fruto da ação é renunciar ao que a ação
lhe dá. Por exemplo: você veste uma roupa nova. Isso é uma ação. Qual o fruto de
vestir uma roupa nova? A vaidade, o prazer, a soberba, etc. É isso que
Krishna está ensinando: renunciar a tudo que o ato pode lhe trazer...
Outro
exemplo. Hoje você orienta uma pessoa para fazer determinadas ações e ela faz.
Quando constata isso, se enche de soberba por ver que aquela pessoa fez o que
mandou fazer. Este não renunciou ao fruto da ação, pois ainda alimentou-se do
que adveio da ação.
Este renunciar ao que a ação oferece vale para todas as
coisas, sejam elas consideradas positivas ou negativas. No exemplo da pessoa
fazer o que você quer, se ela não fizer, o verdadeiro yogue renuncia ao
sofrimento advindo do não acontecer o que se espera.
Esta é a ação com a
renúncia dos frutos. Ela existe quando o ser humanizado participa dele, mas não
se alimenta daquilo que surge da prática do ato. Já a ação inegoísta é
diferente. Ela se consiste em participar do acontecimento sem ter a intenção de
ganhar individualmente, de ter lucro pessoal, sem esperança que determinados
resultados surjam da ação que é praticada.
A ação inegoísta acontece
quando você faz alguma coisa para alguém e não espera resultados dela. Aquele
que age inegoisticamente, por exemplo, limpa uma mesa, mas não é por isso que
ele espera que ela não se suje mais. Quem não participa desta ação com esta
disposição, vai sofrer, porque não há mesa que consiga se manter limpa com o
passar do tempo.
Compreendeu a diferença? Um participa da ação de limpar a
mesa sem esperar que ela permaneça limpa; o outro a limpa, mas não se alimenta
da soberba de dizer que possui uma casa limpa, que sabe limpar bem uma casa. Um
deixa de ganhar; o outro age sem intenção. As duas conduzem à elevação
espiritual, mas Krishna afirma: a ação inegoísta é superior à renúncia de agir.
Portanto, concentre-se em praticá-la, ou seja, concentre-se em silenciar as
intenções que o ego lhe cria.
Mas, mesmo com esta concentração, preocupe-se
ainda em ao praticar a ação de dar a quem precisa, por exemplo, não esperar que
este venha lhe elogiar por conta deste fato; não espere que lhe chamem de bom,
de caridoso, nem que vá ganhar um terreno no céu por causa disso. Aja sempre sem
esperar nada em troca, nem que seja um muito obrigado. Como vocês só participam
da ação de forma egoísta, ainda acham que é obrigação daquele que recebe seu ato
dizer pelo menos obrigado. Isso não é atitude de alguém que diz que quer buscar
a elevação espiritual.
Quem não lhe diz muito obrigado não é mal educado: é
Deus lhe dando uma prova para ver se você vai praticar a renúncia da ação ou
não.
Participante: então, as duas formas de agir conduzem a elevação
espiritual. Uma se consiste em participar da ação sem esperar lucros e a outra é
renunciar aos frutos da ação.
Perfeito. Só para distinguir melhor uma coisa
da outra, posso dizer que aquele que renuncia ao fruto da ação está envolvido
com sentimentos enquanto aquele que age inegoisticamente está ligado a
acontecimentos materiais. Quem renuncia ao fruto da ação, renuncia ao sentimento
que aquela ação faz surgir. Quem age inegoisticamente não espera resposta física
ao que fez.
Por exemplo: o ato de comprar uma roupa. Aquele que renuncia ao
fruto da ação não vibra dentro da emoção de sentir-se vaidoso porque está com
uma roupa nova, de sentir-se mais bem arrumado que os outros, etc. Já aquele que
participa desta ação de uma forma inegoísta não espera que a sua blusa seja
elogiada, não espera que os outros reparem que ele comprou uma blusa nova.
Isso precisa ser feito por aquele que busca a elevação espiritual a cada
segundo de sua existência, já que em cada momento existe sempre uma prova. No
momento que está comprando existem ações que são esperadas pela parte dos outros
e sensações que são criadas pelo ego do ser encarnado. Quando vestir a blusa e
admirar-se no espelho e quando estiver vestindo-a junto a outras pessoas, novas
atitudes serão esperadas e novas sensações serão criadas pelo ego. Por isso, em
cada um destes momentos aquele que deseja a elevação espiritual precisa agir
para poder se manter equânime.
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