quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Eu e Deus somos um - Parte 2


Eu e Deus somos um


Juros

Juros
Na Bíblia Cristo diz assim: se alguém lhe pedir; se alguém lhe pedir emprestado, não cobre juros. Sei que muitos ficam surpresos quando falo destes ensinamentos, porque acreditam que a questão do emprestar e dos juros não tem nada a ver com o mundo espiritual, mas tem. Tanto tem que Cristo passou esses ensinamentos.

Sendo assim, seria justo imaginar que todos deveriam dar ao invés de emprestar e mesmo quando emprestassem, não cobrassem juros. Só que os ensinamentos de Cristo só tem força para aqueles que querem se aproximar de Deus. Aqueles que não querem fazer isso, que querem viver a vida humana pelos valores humanos, não são obrigados a seguir este caminho. 
 
Antes que falem alguma coisa sobre isso, vou deixar bem claro: ninguém é obrigado a buscar a Deus, neste ou e qualquer mundo. Todos têm o livre arbítrio e por isso nem Deus pode cobrar que se viva com este objetivo. O Pai não cobra nada de ninguém.

Por este motivo, afirmo que aquele que não pratica este ensinamento de Cristo, não está errado. Este não é um pecador, porque este ensinamento não é verdade para ele, não é objetivo de vida. Por isso não está errado em cobrar juros.

• Juros altos
A pessoa que me procura afirma que o juros cobrados dele são altos. A partir disso, pergunto: o que são juros altos? É uma extorsão, é cobrar mais do que o combinado. 

Os juros não podem ser definidos como baixos ou altos pelo valor que possui, mas pelo fato de estar acima do que foi combinado. Porque estou falando isso? Porque há um ditado no mundo humano que diz o seguinte: o que é combinado não é caro. 
 
Ora, se foi pegar dinheiro emprestado e quem lhe emprestou disse que o juros era cem por cento ao mês e você aceitou essa condição e pegou o dinheiro, qual o problema com esse valor? Ele é o justo, pois é o que foi acertado entre as partes no início do negócio. Este juros, por maior que seja, nunca poderá ser considerado abusivo. Ele será sempre o perfeito, pois é o que foi combinado.

Portanto, no caso dessa pessoa e de todos os que vivem a mesma situação, acredito que ao tomarem o empréstimo acertaram um valor para os juros. Foram informados do quanto iriam pagar e mesmo assim disseram que precisavam do dinheiro. Acabou, neste caso, não existe juros alto, mas sim justos. 
Porque falei de tudo isso antes de falar como aplicar o poder da felicidade? Porque o ser humanizado perde a sua felicidade quando acusa o outro de lhe cobrar o que é devido e dos juros que são anexados à dívida. 
 
O outro não está errado em cobrar: está pedindo a restituição do que é dele. Não está errado em cobrar o juros que cobra, pois aqueles foram os juros acertados no momento do empréstimo. Na hora que precisava, aceitou, por isso agora não há como reclamar de nada.

Aqui começa o trabalho da felicidade. É preciso deter o processo mental que está transformando uma situação de vida que foi lícita, justa e combinada em algo que se transformou algo que não deveria ser feito ou uma extorsão. Não está acontecendo nada disso. O que está acontecendo é alguém lhe pedindo a restituição do que pegou de acordo com o que foi combinado no momento em que pegou. Só essa mudança de visão do fato, do ato, já lhe dará uma tranquilidade para viver a mesma situação que está vivendo hoje intranquilo, nervoso, com sofrimento. 
 
Eu sempre digo: meu trabalho não é o de socorrer as necessidades humanas de vocês. Nós não nos impressionamos com os acontecimentos do mundo humano. Nosso trabalho tem por finalidade lhe orientar para que passe pelas situações de vida que acontecem na sua existência de uma forma diferente. O que fazemos é lhe ensinar a passar pela mesma situação que tem hoje, só que sem dor, sofrimento, intranquilidade e desarmonia.

Para este trabalho, o importante é isso: é compreender que o fato do outro estar lhe cobrando e no valor que é cobrado não há nada errado, injusto, maldoso. O que existe é apenas aquilo que foi pedido e combinado de ser devolvido. Este é o primeiro detalhe desta questão.

Pai Joaquim

Lidando com quem quer lhe ensinar o certo

Participante: como agir quando tudo que expressamos é prontamente qualificado? Os outros querem nos enfiar goela abaixo o que pensam ou querem. Como agir neste caso?

Grande pergunta...

Como agir quando o outro quer lhe enfiar a verdade dele goela abaixo? Dando ao outro o direito de lhe enfiar a verdade dele. Dando a ele a liberdade de fazer isso com relação a você. Precisa fazer isso porque você acredita que todos possuem a liberdade irrestrita. 

Apesar de dizer que acredita nisso, você ainda se revolta quando alguém quer lhe impor a verdade. Por que isso acontece? Porque mesmo sabendo que todos são livres, ainda acha que sabe a verdade das coisas. 

A sua revolta nasce da sua crença de que sabe o que é verdadeiro. Acontece porque acredita que sabe mais do que os outros sobre o assunto que está em pauta naquela conversa. É por conta desta crença que acredita que eles não têm o direito de lhe impor a verdade deles. Acontece que eles têm si. Tanto tem que estão fazendo isso. 

É o que estou dizendo hoje e há muito tempo: é preciso voltar-se para o mundo interno e analisar você mesmo para descobrir porque aquele acontecimento lhe causa sofrimento? Ao invés de me perguntar porque as pessoas se acham no direito de lhe impor suas verdades, volte-se para o seu mundo interno e busque o que dentro de você está gerando sofrimento por conta deste ato.

Disse que sua pergunta era muito boa e oportuna porque me dá a oportunidade de deixar aqui um conselho para vocês: ouçam a conversa que tivemos sobre espiritologia. 

NOTA: o amigo espiritual refere-se aos arquivos de som rotulados como Espiritologia 1, já que os que receberam o título de Espiritologia 2 ainda não haviam sido gravados. 

Nesta conversa falei sobre a árvore da vida, ou seja, das coisas que influenciam as consciências que têm sobre as coisas da vida. Lá disse que tudo o que lhe vêm à mente está fundamentado em posses, paixões e desejos. Não há nenhum pensamento que esteja desprovido destas coisas. 

Sabe o que é uma posse? Aquilo que você possui, que quer comandar o destino. Temos três tipos de posses: a posse moral, que acontece quando você acredita saber a verdade das coisas, a posse sentimental, quando você acredita que algo é bom ou mal e a posse material, que é a crença que o objeto material é seu ou de qualquer pessoa. 

Sabe o que é uma paixão? É o que você pensa sobre determinadas coisas. Por exemplo: alguém que você considera amigo. Ele é uma paixão que está ligada a uma pessoa sentimental, moral e material. 

Sabe o que é um desejo? É aquilo que você deseja para as suas paixões. Ele existe, por exemplo, quando você quer que o seu amigo lhe compreenda sempre, que aceite tudo o que você diz como real, que faça aquilo que você espera que ele faça.

Sabendo de tudo isso, volte à sua pergunta que é a expressão de uma consciência com a qual vivencia determinados momentos. Porque você se sente mal quando alguém quer lhe empurrar garganta abaixo uma verdade? Porque possui uma posse moral. O que é a paixão nesta sua consciência? É a verdade que você acredita. A informação só leva o rótulo de verdade porque você possui uma paixão por ela. Onde está o desejo na sua consciência? Ele está camuflado na contrariedade pelo fato dos outros não aceitarem o que você diz. A contrariedade só surge porque você tem o desejo que todos aceitem a sua paixão como verdadeira e real.

Pronto, eis aí o que está por trás do pensamento que teve. Você não viu a presença da posse, da paixão e do desejo porque ao tê-la não se voltou para dentro e foi analisar o que estava sendo pensado. Se fizesse isso à luz dos ensinamentos que já conversamos, poderia naquele momento ter dado a liberdade para que o outro agisse do jeito que agiu e com isso não se contrariaria. 

Vocês estão sempre muito preocupados com a parte do ensinamento que falo a cada encontro, mas há questões que levantamos antes que influenciam o que está sendo dito agora. Uma das coisas é a compreensão da formação dos pensamentos. 

Usando o que já falamos anteriormente vocês compreenderiam porque se sentem mal quando alguém quer lhe empurrar alguma coisa garganta abaixo. Entenderiam porque se sentem mal quando alguém age desta forma; entenderiam como aquele raciocínio foi criado; e entenderiam porque na sua mente existe a ideia que aquela pessoa não deveria ter agido daquele jeito. 

Disse que sua pergunta foi muito oportuna porque além de relembrar o ensinamento sobre a formação dos pensamentos, você me deu a oportunidade de justificar a forma como comecei nossa conversa de hoje. Lembram como comecei a conversa nesta noite? 

“Há algum tempo que não conversamos, não é mesmo? Sei que vocês sentiram minha falta, mas esta ausência foi importante. Isso porque, como já tinha dito, de nada adianta ficar apenas estudando se quando o livro é fechado tudo o que foi visto fica esquecido. É preciso entre cada estudo haver um tempo para se buscar colocar em prática aquilo que foi estudado”.

Pois é, você me deu a oportunidade de lembrá-los que está faltando a prática do que já foi ouvido para poder continuar ouvindo qualquer outra coisa.

Pai Joaquim

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Necessidade de conhecer-se

Participante: no início de nossa conversa o senhor falou que devemos nos conhecer. Se formos um a cada momento, não viveremos uma hipocrisia sabendo que somos nós? 

O conhece a ti mesmo é interessante. Isso porque ele não envolve um saber quem é você. Conhecer a si mesmo é identificar quem você está naquele momento por conta do fato de estar sonhando, ou seja, estar preso à realidade criada pela mente, e não saber exatamente quem é você. É saber quem a mente está lhe dizendo que é e não ser aquilo.

Não importa o que a mente diga sobre quem é você como fruto da sua busca de conhecer-se, não acredite nisso, já que qualquer resposta a essa busca será mais um personagem criado dentro do sonho e não a sua realidade. Na verdade o conhece a ti mesmo deve lhe levar apenas a identificação do personagem que a mente está criando dentro do sonho. Identificando este personagem, você pode saber que ele não é você. Como? Dizendo para si mesmo que você não é aquilo. Mas, para isso é preciso fazer o trabalho do conhece a ti mesmo sem querer chegar a resposta alguma.

Saiba de uma coisa: o trabalho do conhece a ti mesmo como instrumento do despertar não pode ser realizado no atacado, ou seja, chegar a uma conclusão global sobre você mesmo. Ele precisa ser feito no varejo: a cada momento.

Já que em cada acontecimento que a mente cria ela lhe confere uma personalidade, um eu, é preciso que constantemente você esteja se questionando quem está imaginando ser para poder libertar-se da ideia de ser aquele personagem. A cada momento é preciso tentar identificar quem a mente diz que você está porque assim poderá identificar qual o personagem criado pela mente ela está afirmando ser você. Conhecer quem a mente está afirmando que você é não para se conhecer, mas para identificar o personagem e aí poder desvincular-se do sonho. 

Este é o verdadeiro conhece a ti mesmo. Ele existe quando você reconhece que não se conhece, mesmo que a mente diz que você é determinado personagem no sonho. Quando busca a cada momento reconhecer quem se é sem identificar-se a quem a mente está dizendo que é, você pode deixar de vivenciar a hipocrisia que está sendo criada naquele momento. Só assim conseguirá sair realmente do sonho.

A hipocrisia que a mente cria tem múltiplas facetas. Como já disse, ela não se prende apenas ao errado, mas também ao certo que mente cria. Fazendo o trabalho do conhece a ti mesmo no varejo conseguirá ver a hipocrisia que está gritante, mas também conseguirá se libertar da hipocrisia de deixar de ser hipócrita quando a mente criar a ideia de que deixou de ser.

Tudo que lhe vem a razão é criado pela mente, mesmo a consciência de ter despertado. Sendo assim, quando há em você uma consciência de ter acordado, ainda estará dormindo. Este eu desperto que imagina ser é apenas uma criação da mente e não um estado seu.

Pai Joaquim

O sentido da vida

Participante: então, um espiritualista acreditar que a vida não tem sentido é ser hipócrita.
Mesmo o não espiritualista que afirma que a vida não tem sentido está sendo hipócrita, porque quem acredita que ela não tem sentido já deu um a ela: o sentido de não ter sentido...

Não estou falando que a vida não tenha sentido: ela sempre terá um, mesmo que seja o não ter. Aquele que vivenciar o que falamos aqui continuará a ter um sentido na vida. Só que este não será mais apegado aos sonhos que a mente cria. Não estará mais apegado ao ser, estar ou fazer alguma coisa...

Não esqueçam nunca disso: ser, estar e fazer. Toda consciência sonhadora e hipócrita que a mente cria é construída com base nestes três elementos. Tudo que o ser humano tem consciência é construído no ser, estar e fazer e tudo que é construído com este tripé e não a partir do vivenciar o que está feito é sonho. 

Sabem o que é tudo? É todas as coisas... Qualquer palavra, qualquer som, qualquer figura ou qualquer ideia é fundamentada em ser alguma coisa, fazer algo ou estar em algum lugar ou de uma determinada forma. 

Ora, se todas as consciências que a mente forma são fundamentadas neste tripé e se as consciências que ela cria formam o campo de provações dos espíritos, posso, então, dizer que a provação do espírito baseia-se nelas.

A compreensão que o espiritualista precisa ter é que o sonho que a mente humana vive é a prova que o espírito vem fazer nesta encarnação. Como responder a ela? Com o bem, ou seja, entregando-se à vida com fé em Deus, ou com o mal, sonhando o sonho.

Pai Joaquim

Como amar a Deus estando preso na necessidade de fazer?

Participante: se, como o senhor diz, vivemos apenas presos num sonho de ser, estar e fazer o que caracteriza o nosso egoísmo, como podemos amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo?

Saiba de uma coisa: achar que ama alguém ou alguma coisa é o maior sonho que o ser humano vivencia. Por isso digo que é a maior hipocrisia que o ser humano vivencia. Vamos falar sobre isso...

Vamos supor que você ame a pessoa que está ao seu lado. Diga-me, porque você o ama?
Participante: porque ele participa das mesmas crenças que eu...

Está certo, este é um dos motivos pelos quais os seres humanos acreditam que amam outros. Mas, lhe pergunto: se há esta condição para amar, quando ela não mais existir você não o amará. Você ama o que, então: a ele ou a condição existente entre vocês?

Neste simples exemplo já lhe mostrei duas características do amor. A primeira é que ele é racional e não sentimental. Você só diz que ama se racionalmente encontrar motivos para isso. Isso não se restringe apenas a amores sem vínculos sanguíneos, mais a qualquer amor. Por que você ama sua mãe? Não é apenas porque ela é sua mãe, pois tem muitos que não gostam da mãe. A ama porque além de ser sua mãe ela satisfaz as suas exigências para ser amada: é sua amiga, companheira, atende suas necessidades, busca realizar seus sonhos, etc. 

A segunda característica do amor humano que denota a hipocrisia é a temporalidade. Quem ama, amará sempre. Não importa o que esteja acontecendo, o ser humano continuará a nutrir aquele sentimento por aquela pessoa ou aquela coisa. Mas, não é isso que existe no amor de vocês. Ele só é sentido enquanto houver a condição estipulada para tanto. Na verdade, as duas características se interagem: o amor é temporal porque ele depende de condições para existir. 

Portanto, o achar que está amando é um sonho. Se a mulher amasse realmente o marido, pouco importava se convivessem debaixo do mesmo teto ou não, ela o amaria. É isso que acontece? Não, se o marido vai embora, acabou o amor. Isso é amor ou posse? A mente diz que é amor, mas a razão que resulta da análise da vida sem romantismo nos diz que é posse, não é mesmo? 

A mulher sonhando que ama e que é amada vive o sonho do ‘felizes para sempre’. Por não estar desperta não vê que o amor que o marido diz que tem nada mais é do uma satisfação por encontrar nela concordância com aquilo que ele quer. Por isso, se a mulher deixar de suprir estas expectativas, se as expectativas do marido mudarem ou se aparecer alguém que as supra melhor o amor acaba.

A consciência que a mente cria de que o ser humano está amando alguma coisa é criada apenas para mantê-lo preso ao sonho, porque é ela que sustenta a possibilidade do ser feliz plenamente. Para a mulher cria o sonho de que ela e o marido se amam; para aqueles cuja mente diz que não querem dividir sua privacidade com ninguém, dá o sonho de amar sua independência. Não importa o que a mente diga que você está amando, o que ela quer é encontrar subsídios para que você viva o que ela diz, ou seja, sonhe e não alcance a realidade. Desta forma, enquanto você está iludido com o sonho, está sujeito ao sofrimento. Preso ao sonho vai passar a vida inteira procurando a felicidade plena e não vai achá-la. Para o espiritualista isso devia ficar bem claro... 

Se, como já vimos, são as consciências que a mente cria que geram as provações que o espírito pede para passar, ela precisa criar tanto a felicidade relativa (prazer), aquela que é sentida quando existe similitude entre a consciência e o acontecimento da vida, assim como o sofrimento. Sem esta dupla criação não existiria a vicissitude que, como também já vimos, é algo que deve ser vivenciado pelo espírito encarnado.

Participante: então, o amor entre seres humanos não existe...

Existe sim: para aqueles que por estarem dormindo acreditam que a posse é amor. Mas, esta crença não transforma esta razão em um amor real, mas sim algo ilusório, um sonho sonhado.

Pai Joaquim

O amor

Participante: fale-me do amor que o senhor prega. Como ele é?
 
Ele é isso que estamos conversando. 
 
Este amor existe quando interiormente você diz ao seu irmão: ‘parabéns, eu perdi e você venceu’. 
Este amor existe quando interiormente, sentimentalmente, você diz ao seu irmão: ‘você quer que as coisas fiquem deste jeito, então deixa assim’. 

Este amor existe quando interiormente afirma: ´desta vez não deu para conseguir, quem sabe na próxima consigo’? 
 
Este amor existe quando interiormente afirma: ‘eu fiz o meu melhor, mas se não fui considerado certo, não posso me culpar por isso’. 
 
Ele existe quando ao invés de sofrer porque alguém foi promovido na sua frente, você aceita o acontecimento em paz e harmonia. Ele existe quando, ao invés de se lamentar por hoje não ter conseguido vencer, esperar em paz e harmonia que Deus faça a sua hora chegar. Ele existe mesmo quando esta hora demora a acontecer e você não se desespera.

Isto não é só o amor que nós pregamos, mas, pelo menos para mim, a única expressão do amor. Não aceitar o que a vida lhe oferece ou querer impor-se ao outro para obrigá-lo a ser, estar e fazer o que quer que seja feito, por mais que um código humano determine que seja feito daquela forma, para mim não pode jamais ser expressão de amor.

Sei que não conseguem ver nas minhas palavras o tema amor, pois falo de racionalidade, de racionalizar o pensamento, mas tudo o que disse é sobre o amar. O problema é que vocês são cem por cento razão, pois mesmo quando sentem ainda possuem motivos racionais para isso, mas querem amar sentimentalmente. Isso é impossível. O que vocês podem aprender é a raciocinar amorosamente e não amar.

Portanto, compreenda que o amar para vocês têm que ser vivenciado através de razões e a razão que espelha o amar é exatamente o libertar-se do vício do egoísmo, do querer para si antes do próximo. O ser humanizado ama quando acata racionalmente a realidade sem exigir que ela esteja de acordo com o que quer.

Pai Joaquim

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Aquele dia


O respeito a decisão da comunidade

Participante: como tomar uma decisão para a casa quando não existe maioria para decidir?
Pela própria decisão da comunidade. O que ela decidir será a decisão da comunidade, ou seja, de todos.

Estou entendendo a sua preocupação. Você quer saber como se chega a uma diretriz. Vou tentar lhe explicar. 

Imaginam que para decidir o que o caminho que uma comunidade tomará devem agir da seguinte forma: todos da comunidade votam e decidem o que será a verdade dela; a partir daí todos seriam obrigados a cumpri-la. Não é disso que estou falando.

Como já falei anteriormente, a obrigação acaba com a neutralidade necessária para a execução dos trabalhos. Não estou falando em submeter-se à decisão da maioria já que quer participar daquela comunidade, mas em integrar-se perfeitamente a ela.

Não estou falando que não deve haver votação: pode até haver. O que estou dizendo é que depois de uma votação, não existe mais maioria ou minoria: existe uma decisão da comunidade. Por respeito a esta decisão aquele que foi voto vencido na votação muda a sua forma de pensar.

Digamos que a uma comunidade se juntou para decidir em que dia ia trabalhar com apometria. Depois de todos falarem sobre o assunto defendendo o seu ponto de vista e votarem, se quiserem, fica decidido que isso acontecerá na terça-feira. Os trabalhadores que achavam que existia outro dia da semana melhor ou mais propício para a realização dele devem esquecer a sua posição individual e aderir ao que a comunidade entendeu como certo. É isso que estou falando.

O problema é que quando não há o respeito pela comunidade, as pessoas que foram contrárias a decisão que saiu vencedora não mudam seu ponto de vista e com isso gera-se instabilidade no grupo. Quando isso acontece, morre o respeito à comunidade.

Quando o trabalhador respeita a sua comunidade, ele não quer que sua vontade se imponha aos outros. Quando ela é acatada, aquele que foi à favor da decisão tomada não se regozija; já aquele que vê a sua opinião ser descartada, por respeito à comunidade, abre mão de sua opinião. Quando alguém se sente integrante de uma comunidade e a respeita, quando ela toma uma decisão esta passa a ser dele também. Quando não há esta postura, a comunidade está malfadada.

Se alguém participa de uma comunidade sem respeito a ela, quando se toma uma decisão em nome dela, esta pessoa não muda a sua opinião. A partir daí, começa a fazer fofocas com a intenção de minar aquela decisão e acabar sobrepujando a sua vontade. Um cenário desse leva a comunidade à desagregação e a se transformar em apenas um bando de pessoas.
O trabalhador que não respeita a própria comunidade torna-se um câncer para ela. Se ele não tiver respeito pela comunidade e adotar a decisão comum como sua, podem ter certeza que o câncer vai comer toda a comunidade.

Por isso, oriento a todas as comunidades de trabalhadores que compõem uma casa: conversem, estabeleçam suas diretrizes de comum e respeitem a decisão do grupo. Não porque alguém foi voto vencido, não porque não conseguiu impor seu desejo, mas porque você pertence à comunidade e tem respeito por ela.

Pai Joaquim

Pagar o que deve

Participante: Ao se referir à expiação o senhor disse que os espíritas chamam este objetivo da encarnação de pagar o que deve.

Sim, no ensinamento espírita o termo expiar é compreendido como pagar débitos, pagar o que se deve. Eu não gosto deste termo porque dá a impressão de que estamos falando de penalidades.


Na verdade, expiação é vivenciar situações que expressem a sua opção sentimental em momento anterior onde não amou universalmente. Isso é a expiação ou carma. 


Quando você vive o carma, não está pagando pelo que fez, mas sim expiando faltas anteriores, ou seja, está tendo uma nova chance, uma nova oportunidade de plantar diferente dessa vez.

Para alcançar a elevação espiritual

Participante: Sinto que para poder superar isso parece que temos que exercitar uma entrega imensa. Deveríamos, para poder superar a realidade, viver assistindo o que está acontecendo. É isso: viver assistindo a vida? 

Você usou dois ensinamentos de mestres.

Primeiro: entrega. Cristo falou disso, da entrega a Deus: Pai, me entrego em seus braços.
Sim é isso: a entrega a Deus é fundamental. Quando falarmos especificamente nos ensinamentos dos mestres, vamos falar da fé. Fé é entrega a Deus e sem ela você, o espírito, não conseguirá chegar a bom termo na sua aventura encarnatória. 

Segundo ensinamento que citou: assista a sua vida. É Krishna que ensina isso no Bhagavad Gita: repousa em mim e assista a sua vida. Sim, é isso que você, o espírito, precisa fazer. 

Essa realidade virtual criada pelo ego é como se fosse um filme onde os acontecimentos acontecem sem a sua participação ou determinação para que aconteça. Você, o espírito, não está participando daquele acontecimento, mas sim simplesmente pulsando energias, enquanto toda a ação está sendo criada virtualmente a partir de um programa programado anteriormente. 

Portanto, assista às imagens criadas por esse programa, como assiste à televisão no mundo de hoje. A televisão é uma realidade virtual que você assiste sem participar diretamente das realidades que ela. A vida também deve ser vivenciada desta forma: apenas assistida.

Esse seria o ideal, mas, como no caso da televisão, não é o que acontece. Da mesma forma que o ser humano assiste televisão envolvendo-se emocionalmente com os programas, a maioria dos espíritos que estão vivendo a sua grande aventura se envolve emocionalmente com o ego.

Pai Joaquim

Tomada de decisões

Participante: O senhor poderia ser mais claro? O ser humano que toma decisões baseadas nas emoções está errado?

O ser humano não toma decisão baseado na emoção e nem na lógica. Na verdade, a personalidade humana não toma decisões. 

Tomar uma decisão através da razão é uma ação e como todas as ações humanas, esta está programada anteriormente. Na verdade ninguém está tomando uma decisão frente a qualquer situação: o que o ser humano tem é a ilusão de estar decidindo algo.

Já você, o espírito, nem está vivendo aquela situação, que dizer se imaginar protagonista de alguma coisa. A única coisa que você, o espírito, pode protagonizar neste momento é se prender a ação proposta como se fosse acontecimento de agora, ou seja, achar que tomou a decisão, ou dizer: foi o meu ego que tomou esta decisão. 

Apesar de falar assim, você, o espírito, pode fazer mais. Vamos ver que mais você, o espírito, pode fazer.

Além de criar a ideia de que alguma coisa está sendo decidida naquele momento, o ego vai ainda gerar a ideia que esta decisão será sucedida por determinado acontecimento. Neste momento, você, o espírito, deve também duvidar desta afirmação, pois o que irá acontecer não seguirá uma lógica humana, mas sim a uma programação feita anteriormente.

Vou dar um exemplo: uma pessoa lhe convida para ir a casa dela e você responde que vai. Não foi a pessoa que lhe convidou e nem você, o espírito, que respondeu. Tudo isso foi articulado por egos para servir de provação a espíritos. 

Você, o espírito, é exposto no consciente a este diálogo e imagina que, porque se comprometeu, irá com certeza. Acontece que mesmo você humano sabe muito bem que decidir ir não é garantia de que irá. Poderá ir ou não. 

Você, ser humano, sabe muito bem que a questão de ir ou não independe da sua decisão, pois muitas vezes se programa para ir a algum lugar e acaba não indo por diversos motivos. Quantas vezes isso não aconteceu na existência de vocês?

Se isso é verdade mesmo para a lógica humana, que imagina que pode criar situações apenas pela sua vontade própria, que dirá para o espírito, que sabe que está apenas vivendo um teatro onde os acontecimentos fazem parte da sua grande aventura? Sendo assim, o que você, o espírito, precisa fazer é dizer para si mesmo: ‘a personalidade humana está afirmando que vai, mas isso não quer dizer que irá com certeza. Se no desenrolar desse filme ela for, foi; agora, se não for, não foi. Não há nada de errado nisso’.

Respondendo-lhe diretamente agora, afirmo que a primeira coisa que precisa é fugir da ideia de achar que decidiu alguma coisa. Você, o espírito, só pode decidir permanecer em paz, amor e felicidade universal ou não, indo ou não indo. Não possui a capacidade de decidir ir ou ficar em lugar nenhum. 

É por isso que Cristo diz: não jure por nada que seja do céu ou da terra. Este ensinamento, que está na Bíblia, no Sermão do Monte, quer dizer exatamente isso: não assuma responsabilidade por nada, não dê nada como certo de acontecer.

Se o ego garantir que vai a algum lugar, não se comprometa com esta ideia, pois o resultado dessa ação, tanto faz indo ou não, pode acabar com a sua paz, a sua harmonia e a sua felicidade.

Pai Joaquim

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

ARAUTO DO SOFRIMENTO

A felicidade depende do senhor que se serve

Agora, para fazer isso, é preciso escolher a que senhor irá servir. Escolhendo como prioridade básica na sua vida ser o bonzinho para os outros, sofrerá. Escolhendo servir a Deus, ou seja, amar a tudo, não se contrariará como arauto de situações onde os outros escolhem sofrer.

É isso que precisa fazer. É isso que precisa buscar se conscientizar e pôr em prática quando puser.
Aquele que tem o poder da felicidade sabe que é senhor apenas da felicidade e não da vida. Sabe que é senhor do seu mundo emocional, mas sabe que é – não vou dizer escravo – mas um serviçal que opera nas hostes divinas. Quando tem essa consciência, luta para servir a Deus e não à matéria. 

Parece incongruente dizer que é um serviçal, mas que precisa escolher servir a Deus ou à matéria, mas isso não é real. Tem muito serviçal que fisicamente serve a um senhor, mas não se entrega interiormente a ele. Este cumpre com o seu trabalho, mas não cumpre o seu trabalho com dedicação ao senhor.

Servir externamente e internamente parece a mesma coisa, mas não é. Em um tipo de serviço serve apenas fisicamente, no outro serve de corpo e alma. O primeiro serve à matéria; o segundo a Deus.

Só que para viver assim é preciso antes compreender que nunca será portador de sofrimento ao próximo, mas que cada um escolhe sofrer ou não com a ação que é praticada. Precisa entender também que não pode levar só o que quer, só o que humanamente falando é bonito, mas que precisa levar o que Deus acha que aquele precisa. 

Para poder viver feliz, você precisa ser um porta voz de Deus à serviço Dele e não à serviço da sua materialidade. 

Participante: como é ser um porta voz de Deus e não da sua materialidade na prática?
Você falou alguma coisa, a pessoa que ouviu não gostou. Neste momento deve dizer a si mesmo: ‘Deus me mandou falar isso, se o outro não gostou, não é problema meu’. 

Participante: não se contrariar com o que fala?

Não se contrariar porque aparentemente está causando sofrimento.

Isso tem a ver com a intencionalidade. Tendo a intencionalidade humana, está a serviço da humanidade, irá querer fazer o que humanamente é melhor para o próximo. Estando à serviço de Deus, não se importa com o que faz para os outros, mas mantém-se em paz e harmonia interna, porque foi isso que Deus lhe mandou fazer. 

Isso só vale para usar depois que aconteceu, depois que já deu a notícia. Na hora que está se imaginando o que será feito, isso vira argumento da mente para justificar o que acontecerá.

Participante: neste último caso o senhor está se referindo ao momento em que ainda não aconteceu a ação e nós estamos preocupados no que irá dar da nossa ação?
Não. 

Estou me referindo ao momento onde a mente lhe diz: ‘vou chegar lá, irei falar o que quero, porque aquela pessoa merece que eu diga o que tenho para dizer, pois ela não presta mesmo’. Isso são argumentos que a mente está usando para justificar o que irá acontecer. 

Quando você já fez e a mente lhe acusa ou vangloria-se por ter feito, este é o momento de cortar. 

Participante: e quando a mente está em dúvida se faz ou não, mas acaba fazendo e depois avalia o que foi feito?

A mente nunca está em dúvida. Na verdade, ela está lhe dando a ideia de haver uma dúvida. Por isso é preciso responder a ela: ‘o que acontecer, acontecerá’. 

Agora, se conseguiu fazer, não aceite nem a culpa nem a glória pelo que aconteceu.

Pai Joaquim

FALTA DE EMPREGO

FALTA DE EMPREGO - 1/3

• Querer o que não se tem

A questão que agora me é apresentada fala de uma contrariedade específica: a falta de emprego. Uma pessoa me diz que o que lhe causa contrariedade e não ter emprego e por este motivo não consegue feliz. Para esta pessoa, a vida vai passando e ela não consegue viver o aqui e agora. Vamos conversar sobre isso.
Será que realmente é falta de emprego que não deixa viver o aqui e agora? Acho que não. Digo isso porque tem muita gente que não tem trabalho e consegue viver o momento presente. 


Será que é a falta de emprego que para a vida de qualquer um, que atrasa a vida? Também acho que não, pois tem muita gente que não tem emprego e continua vivendo, crescendo e realizando coisas durante a existência. 


Ora, se não é a falta do trabalho que trava a vida, o que pode ser? A ânsia de ter um emprego.
Repare numa coisa. Essa pessoa está colocando toda a sua existência na dependência de um trabalho, mas será que se ela arrumar um emprego ela destravará. Será que conseguirá viver o aqui e agora, se soltar? Acho que vai, mas por pouco tempo. Vou tentar explicar isso.


Essa pessoa poderia me dizer que a sua vida está parada porque não tem dinheiro para comprar coisas, por exemplo. Diria que se arrumasse um trabalho teria dinheiro e com isso poderia comprar coisas e este fato se constituiria numa vida destravada. Doce ilusão.


Durante algum tempo com certeza ela se sentiria realizada por conta dos benefícios que o emprego traria. ‘Que maravilha, agora posso comprar um celular porque tenho um emprego, posso assumir uma dívida porque estou trabalhando’. Achar que isso influenciará definitivamente a vivência da vida é uma utopia.
A ilusão de que a realização de coisas humanas trará uma felicidade é utopia. Sabe por que? Porque depois de passar algum tempo das conquistas, com certeza essa pessoa irá querer outras coisas. Neste momento, quando não conseguir tudo o que sonha, começará a sentir que o emprego que tanto queria e em quem depositou todas as esperanças para ser feliz, não consegue mais sustentar os desejos.


O emprego pode destravar um momento da existência dos seres, mas certamente mais tarde a mente humana irá gerar novas necessidades que o trabalho conquistado será incapaz de dar. Com isso, ela novamente travará a vida. Isso acontecerá não por culpa dela, mas porque o ser humanizado aceita que o que trava a vida é a falta do gerador de condições para realizar coisas para se sentir feliz, realizar-se.
Sei que estou usando nos exemplos coisas materiais e vocês podem até me dizer que não se ligam nestas coisas. Sim, concordo que isso possa acontecer, mas a linha de raciocínio que estou desenvolvendo serve para outras coisas. 


O ser pode, por exemplo, conseguir o emprego. No início se sentirá bem, mas logo depois vai querer ter uma ascensão profissional. O fato de não ser promovido voltará novamente a trazer a sensação de que a vida está parada e ficará assim até que encontre um novo emprego onde possa existir a ascensão.
O ser pode, ainda, querer um emprego para que melhore o seu ambiente no convívio com as família. No início tudo poderá melhorar, mas quando este emprego exigir maiores responsabilidades e o tempo para a família diminuir, ele novamente sentirá sua vida travada. 


Enfim, qualquer coisa que o ser humanizado possa desejar pode ser momentaneamente atendido, mas certamente no futuro a mente irá gerar novas vontades e com isso aquilo que serviu para destravar a vida, tornará a travá-la. Isso porque a realização de qualquer desejo pode ser causador de felicidade. Se for, sempre existirá um novo que servirá para fazer sofrer agora.


FALTA DE EMPREGO - 2/3

• Viva feliz com o que tem

Conseguir realizar coisas, jamais poderá trazer a felicidade. Isso porque ela é algo que se coloca no que se tem e não que se extraia do que se tem. É você que deve aprender a viver feliz dentro das limitações que a vida traz.

Se hoje a limitação da vida é não ter emprego, busque, continue procurando, mas enquanto não achar aprenda a viver sem emprego. Isso destrava a sua vida. 


Se hoje não tem dinheiro para comprar coisas materiais, aprenda a viver sem elas. Aprenda a ser feliz sem elas: isso destrava a sua vida. Se hoje não tem valorização nem ascensão profissional, aprenda a viver feliz no estágio da evolução profissional que está: isso destrava a sua vida. Se hoje não consegue ter tempo para conviver com a sua família, aprenda a aproveitar o máximo possível o tempo que dispõe: isso destrava a sua vida. 


O trabalho daquele que busca a felicidade, e sei que estou sendo repetitivo, é viver o que a vida apresenta. Saber extrair da vida humana como é apresentada algo que o faça feliz.


Em outro trabalho já dei este mesmo exemplo. Vocês estão na luta diária trabalhando e ficam esperando as férias, os feriados e a aposentadoria porque diz que o trabalho não deixa ser feliz. Só que quando se aposenta e não tem o que fazer sofre porque não tem o que fazer. 


Mas, enquanto estava trabalhando não achava que o dia que se aposentasse seria feliz? Pronto, agora está em casa o tempo inteiro sem ter nada para fazer como queria antes. Porque, então, não consegue viver a felicidade?


Sabe, são esses exemplos que vocês precisam prestar atenção para poderem se conscientizar de que a sua mente jamais manterá o padrão de felicidade por causa de uma conquista no mundo humano. A aceitação do que a vida a apresenta a cada momento é o que o ser precisa usar para poder ser feliz com o que tem agora.


‘Hoje não tenho emprego, sei que no momento que tiver serei mais feliz do que agora, mas sei, também, que essa sensação não durará, pois neste momento irei querer mais do que terei. Por isso, vou aproveitar o momento de agora onde há a carência na minha vida para não depender de supri-las para ser feliz’. Esse é o caminho que indico a todos que sofrem por não ter alguma coisa.


FALTA DE EMPREGO - 3/3

• Querer fazer uma limonada

Esse é o trabalho de deter o poder da felicidade. Lembro que dizia que se a vida lhe der um limão ... Quando falava essas palavras as pessoas se apressavam em continuar dizendo: faça uma limonada ... Ouvi algumas vezes calado essa resposta, mas em uma hora retruquei: falei que a vida lhe deu um limão, mas não água nem açúcar. Como, então, pode fazer uma limonada?

Nesta conversa, fica bem claro o sonho do ser humanizado. Ele sonha em idealizar, gerar o momento presente de tal forma que ele se torne tragável, que possa ser engolido. Por isso, se a vida lhe dá algo amargo, o sonho é logo torna-lo doce. Só que não isso é impossível. 


Conseguir fazer isso não existe no mundo real, a não ser nos devaneios da mente. É preciso enfrentar o amargor da vida, a realidade, cara a cara, sem diluir ou adoçar o que está acontecendo para poder ser feliz, ao invés de ficar gerando síndromes, sonhos que não são reais e não poderão ser.


Por isso, passei a dizer as pessoas: se a vida lhe der um limão, chupe-o. Isso porque o limão é a única coisa que tem e se não chupá-lo, poderá morrer de fome. Usando este exemplo, diria a pessoa que levantou a questão que estamos respondendo e a todos que se encontram em situação análoga: chupe o seu desemprego, o fazer concursos e não passar, o que tem a cada momento, extraindo daquilo o sumo para lhe dar sustento na vida. 


Sei que vocês não querem chupar limão, mas se esquecem que ele possui vitamina ‘C’ que ajuda e lhe fortalece para viver. O caldo desta fruta não precisa do açúcar, que aliás faz mal à saúde, para poder ser engolido e o não o engolir afeta a saúde. 


O problema é que como não gostam do sabor do limão, ao invés de chupá-lo, preferem comprar remédios que contém esta vitamina de forma sintética. É exatamente isso que fazem quando depositam a felicidade na realização de desejos: abrem mão da vitamina natural e preferem algo artificial, que neste caso é a satisfação de ter seus desejos atendidos, o prazer, para sentirem-se felizes. Como isso é algo natural, logo o seu efeito passa e terá que novamente tomar outra cápsula.


Portanto, o ser humano não consegue ser feliz porque não tem um emprego, mas sim porque se deixa levar pela mente que quer sempre que aconteça a coisa que humanamente é considerada como melhor. Por isso acredita que a realização dos sonhos, desejos e vontades é a solução para os problemas da vida, quando não é assim. Esta realização trata-se apenas de um estágio para novos momentos sofredores. 


Enfrente a sua vida. ‘Não tenho emprego, não consigo passar em concursos, mas se quiser ser feliz, tenho que conseguir isso com todas as carências que possuo’. Estou dizendo isso porque de nada adianta ficar em casa chorando, se lamentando, porque o emprego não cairá do céu. 


Aprenda a viver a sua vida, as suas carências, sem dependências, que será feliz.
Com as graças de Deus.

Pai Joaquim

Mudança interna

Participante: ainda tenho dúvidas de como viver a reforma íntima, porque você disse que não tem como mudar nossa natureza e sim aprender a lidar com ela. Depois disse que a personalidade é a atual posição que o espirito ocupar, mas precisa ser mudar, lutar contra. Parece um paradoxo, algo criado pra aprendermos amar e que não tem como mudar (natureza humana). O espirito é que precisa sair do lugar ... Como é difícil isso pra mim entender ... O que tem a dizer?

Você me fala que é difícil entender a questão da mudança íntima, pois falo que a natureza humana não pode ser alterada e ao mesmo tempo digo que o ser precisa alterar a sua natureza. Não há complicação nesta afirmação. O que há é incompreensão sobre alguns assuntos. 

O que não pode ser alterado? A natureza humana, o jeito humano de pensar, de ser estar e fazer as coisas. Vou dar um exemplo para que possa compreender o que estou dizendo. Se você é uma pessoa, um ser humano, uma personalidade humana que está presa à regra, normas, conceitos sobre qualquer coisa, não pode alterar o seu jeito de ser. Se não for alterada pela própria natureza, você sempre continuará presa às normas, regras e conceitos.
Isso é impossível de ser alterado. O que precisa ser mudado é o jeito de se lidar com essas coisas. O que digo é que deve aprender a conviver com a natureza humana sem apego à ela. Vou tentar lhe explicar isso. Para isso, vou colocar um exemplo.

Se você sabe qual o lugar certo das coisas, onde e como precisa se arrumar algo, isso faz parte da natureza humana e, por isso, não pode ser alterado. Agora, pode lidar com estas coisas de duas formas. A primeira, apegado, ou seja, achando certo que a natureza humana fala. Achando que o que a natureza humana exige deve ser realizado. Essa é uma forma de conviver com a sua natureza.

A outra é lidar dizendo: ‘a minha natureza humana acha isso, mas eu não sei, não tenho certeza disso’. Essa é uma forma desapegada de viver. 

Com o exemplo que demos e as formas de interagir com a natureza humana, vemos o eu tínhamos afirmado antes: a natureza não muda, mas você muda na forma de interagir com a natureza. Essa é a reforma que aconselho.

Respondida esta parte da sua pergunta, vamos à próxima. Você diz que eu afirmo que a natureza humana é daquele jeito por conta da natureza do próprio ser. Sim, isso é verdade. Se a sua natureza humana é apegada à normas, regras e obrigações, você enquanto espírito também o é.

Só que hoje, nesta encarnação, é um ser dentro de uma condição especial. Vou explicar isso.
Você é um espírito que está apegado à normas, regras e obrigações, mas que já sabe, já tem notícias de que ser assim é viver em desarmonia com o universo. Portanto, usando como figura apenas, eu diria que a sua condição especial momentânea é ainda estar apegado à normas, regras e obrigações, mas ter a informação de que não deve ser assim. Mais: ter o anseio de deixar de ser.

Resumindo então, afirmo que existe a natureza humana e a espiritual. Afirmo, ainda que é cópia da espiritual. No entanto, ressalto que existe uma diferença entre elas: na natureza espiritual existe a informação e o desejo de não ter mais aqueles elementos. Por isso, uma acha certo ser deste jeito enquanto a outra sabe que precisa se mudar.

Com todos os estas características, você encarna. Para que? Para libertar-se daquilo que está na natureza espiritual e diz que não quer mais ter. Entra nesta condição especial, encarnação, justamente para provar a si mesmo que aprendeu que não deve ser como é. Vive ligado à personalidade humana para provar que pode se libertar da influência que a natureza humana provoca.

O que acontece é que essa libertação, se for realizada, não gerará mudanças na natureza humana, mas apenas na espiritual, que serviu de base para a constituição da humana. Acho que é aqui que reside a sua dúvida.

Vocês imaginam que ao libertarem-se da natureza humana ela se alterará. Isso é impossível. Como ensina o Espírito da Verdade, depois de escolhidos os gêneros de provação para uma existência, a natureza humana nada pode mais ser alterado. 

Portanto, a natureza humana continua igual quando você age seguindo o seu anseio espiritual. Apenas a natureza espiritual pode ser alterada, mas o que é vivido lá depois da escolha do gênero das provações não pode mais ser sentido aqui.

Na verdade, compreender o processo é simples, mas torna-se complexo porque vocês não separam a natureza humana do próprio espírito. Enquanto não fizerem esta separação ficarão confusos com o processo. 

As coisas do mundo espiritual não podem ser compreendidos neste. Por isso é preciso separar as duas coisas. Uma delas, por exemplo, é a própria questão da natureza.
É óbvio que o espírito não possui uma natureza que seja idêntica àquilo que é chamado assim no mundo humano. Nesta resposta e em todos os ensinamentos uso este termo por falta de outro que possa descrever o que o espírito possui. Uso o mesmo termo fazendo uma analogia apenas para que você possa ter alguma compreensão sobre o assunto. 

Na verdade, tento tratar o espírito com elementos do mundo humano apenas para que possamos conversar, estabelecer uma ideia. Só que isso não deve lhe levar a entender que hoje, durante a condição especial que vive, a consciência que possui sobre as coisas pertence apenas à natureza humana. Nada há nela que reporte a realidade do mundo espiritual.

O que estou tentando lhe dizer é que a natureza humana é cópia da espiritual. Ela reflete o que existia no espírito antes da escolha dos gêneros da provação. Depois que se entra na encarnação, apesar de haver mudança na natureza espiritual durante a vivência não apegado às coisas humanas, a natureza humana não pode ser alterada. Ou seja, apesar de ser gerada à imagem da espiritual, essa influência cessa quando a encarnação começa. 

Resumindo, posso dizer que a natureza humana serve sempre como prova para que o ser possa, aos poucos, ir alterando a sua própria. Isso se faz libertando-se das verdades, regras e obrigações que estão na mente humana. Acontece que esta libertação, que altera a natureza espiritual, não é percebida na consciência material. 

Este é o processo da reforma íntima. Trata-se de algo realizado no íntimo do espírito e não do humano. Ela só será conhecida quando houver o desligamento total da natureza humana, porque a consciência deste momento é incapaz de detectar o que acontece na espiritual.
Sei que o tema é meio complexo. Se quiser continuar com o assunto 

Pai Joaquim

As cinco verdades universais

Escute no link: http://www.meeu.org/cinco-verdades-universais

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A morte

Participante: Existe uma crença que se chama a melhora da morte. O paciente está no hospital, por exemplo, ruim e têm uma melhora surpreendente e depois morre. Isso realmente já aconteceu várias vezes. 

Pode ser essa lucidez do mundo melhor que irá viver e com isso começa a se apagar a dor. Pode ser, mas também pode ser muitas outras coisas. 

Pode ser uma nova ilusão para aquele que estão apegados a carne, com a finalidade de verificar se ele vai naquele curto espaço mudar a sua forma de viver ou se vai continuar preso à que estava. Vamos dizer assim: uma pessoa muito rabugenta tem essa última chance de se libertar da rabugice e aí não se liberta. 

Isso são detalhes de desencarnes. O que precisamos compreender realmente é muito mais do que detalhes. É saber que existem tratamentos diferenciados para o processo morte, de acordo com o merecimento de cada um. 

O que importa realmente é não criar regras, mas saber que o momento do seu desencarne será ditado como merecimento da sua existência carnal. Ou seja, ele depende da sua maneira de viver: se vive preso ao materialismo, vai ter um determinado padrão no desencarne; estando liberto, vai ter outro. 

Portanto, mais importante do que querer saber o que acontece no desencarne é compreendermos que não há morte e que devemos nos preparar a vida inteira para morrer. Isso pode lhe garantir o desencarne sem traumas. 

Aliás, só isso pode lhe garantir um desencarne sem traumas. Enquanto você viver o mundo material de forma diferente do espiritual aguardando chegar a morte para colocar em prática os ensinamentos dos mestres, certamente terá trauma no seu desencarne. 

Este trauma é inevitável porque neste caso estará saindo de um lugar e irá para outro, de uma condição e para outra. O choque entre culturas e objetivos de existência é grande e isso causa traumas.

Por isso Cristo nos ensina na primeira logia do Evangelho Tomé: aquele que descobrir o segredo dessas palavras não encontrará a morte. Fomos bem claro quando comentamos este ensinamento: é preciso se compreender que não há morte, mas para alcançar esta compreensão é preciso se entender que não há vida humana independente da espiritual. 

Viver a vida humana como independente da espiritual leva à morte, ou seja, a traumas no desencarne. Viver a vida material como extensão da existência espiritual e, portanto, com os mesmos valores, não leva a morte. 

Por isso sempre digo: é preciso destruir a separação entre espiritual e material. Compreender o mundo inteiro, a existência como uma coisa só. É preciso viver tanto a encarnação quanto a vida desencarnada num só sentido, de uma só forma, numa só intenção. Quando o espírito alcança isso acaba com a morte. Neste momento, não haverá processos de mudança e com isso não haverá traumas. 

Mas, se o espírito viver a vida material, por mais elevado que seja em conhecimentos espirituais, sem os objetivos espirituais, estará criando para si um trauma no momento do desencarne. Isso porque separou a vida espiritual da material. 

Isso que é importante compreender. Sem este entendimento os espíritos encarnados ainda ficam presos no querer entender a morte, saber como ela ocorre. Só que a morte não se entende; ninguém conhece com antecedência o seu desencarne individual. 

Sabe por que nenhum ser humano entende a morte? Porque a morte é individual. Cada um morre diferente do outro. O processo morte para aqueles que estão presos à matéria faz parte do carma e o carma é individual. 

É por isso que até hoje ninguém pode dizer: morrer é isso ou aquilo. A morte é um carma e não um processo genérico para todos os espíritos. Cada um morre de um jeito diferente. É por isso que ninguém consegue descrever a morte. 

Muito mais importante do que se preparar para a morte é destruí-la, destruir o processo de distinção entre vidas. Se você tiver um processo morte, ou seja, se acreditar que há outra vida independente desta, certamente viverá um processo morte e com isso sofrerá um trauma, que não será igual ao de nenhum outro espírito, pois a morte é carma individual. 

Para acabar com esse processo morte você precisa morrer em vida, destruir a vida. Ou seja, precisa viver a vida material como se espiritual fosse, porque ela já é. Precisa mover-se pelos mesmos modos e objetivos do mundo que você chama fora da carne.

É preciso a vida de uma forma diferente, viver de outro jeito: é isso que quer dizer quem descobriu o segredo dessas palavras não encontrará a morte, que Cristo falou no Evangelho de Tomé. Ou seja, quem descobrir o segredo dessas palavras encontrará uma nova forma de viver que não lhe levará a um processo de morte. 

Ficou claro isso? Quando destruímos o mundo material e o espiritual e vivemos as existências de forma única, acaba a morte. Porque, como foi dito, o espírito já vai estar consciente do que está acontecendo.

Portanto, não adianta se ensinar a morrer: é preciso ensinar a viver. É por isso que nós dizemos assim: o Espiritualismo Ecumênico Universal é uma doutrina de vida. Seus ensinamentos precisam ser postos em prática nesta existência.

Apesar disso, tem gente me ouvindo e guardando para colocar em prática o que digo depois de morrer. O problema é que este não vai saber nem que morreu. Como é que vai saber à hora de colocar em prática?

Pai Joaquim

Encontros depois da morte

Participante: Aqui está sendo falado de um encontro real e não de uma simples imaginação.
Também estou falando de encontro real.

Mas, para mim, o mais importante não é o encontrar, mas sim que esse encontro só acontece porque há uma busca. Ou seja, você acorda do outro lado e diz: ‘morri; cadê meu pai, que já tinha morrido, cadê minha mãe’?

O importante por agora é compreendermos que existe uma busca com a intenção de encontrar.

Participante: Tem gente que encontra.

Sim, tem gente que encontra de acordo com a sua afeição, como diz o Espírito da Verdade.
Tendo obsessão pela sua mãe que já morreu, quando sair da carne vai procurá-la e poderá até encontrá-la. Mas, se você não tem essa obsessão, não vai buscá-la porque não precisa a encontrar.

Participante: Mas para se encontrar essa afeição tem que ser recíproca?

Muitas vezes o outro já saiu antes da carne mais elevado e não precisa deste reencontro para ser feliz, mas atende ao chamado por compaixão. Ele vem pela afeição entre espíritos e não pela busca do filho, por exemplo.

Aquele espírito que viveu o papel de mãe não está buscando o filho, apesar de quem viveu o papel de filho estar buscando a mãe.

Participante: O espírito que vem pode até não ter vivido o papel de mãe, não é mesmo?
Sim, pode até nem ter vivido este papel.

Como já dissemos, a identidade material não tem nada a ver com a identidade espiritual. Outros espíritos podem assumir uma identidade material de outros espíritos.

O que precisa ficar claro nesta resposta é: você se relaciona com as pessoas de acordo com a afeição que tem por ela. Tendo uma afeição obsessiva, buscará sempre esta pessoa, esteja onde estiver; não tendo, não precisa buscá-la sempre.

Apenas um detalhe que estamos nos esquecendo: o encontrar depende do carma. Nada pode independer do carma. Portanto, procurar é uma coisa; encontrar ou não é uma questão de merecimento.

Pai Joaquim

TIQUE NERVOSO

Ação mecânica do corpo e vício

Uma pessoa me fala agora que possui um hábito, um vício de realizar determinado ato físico em momentos da sua vida. Diz ainda que não pena em realiza-lo, que não quer fazê-lo, mas quando vê está praticando a ação que não gosta. Fala, ainda, que esta prática traz danos aos seu corpo físico. Por isso não quer mais praticar esta ação. Para isso, inclusive, já pediu ajuda a Deus através da oração para acabar com o vício de agir desta forma. 

A partir deste histórico, ela me pergunta como agir, levando em consideração que só possuímos o livre arbítrio das emoções, algo em que ela acredita. Vou tentar responder a essa pessoa como sempre faço: analisando tudo o que envolve a questão. 


Primeiro detalhe: você chama essa ação que pratica regularmente de vício e quer combater este vício. Só que ela não é um vício. Vamos tentar entender isso.


Vício é dependência. É viciado aquele que é dependente de alguma coisas para algo. Precisa ter para ser ou precisa ser para ter: esses são os viciados. 


No seu caso onde a ação é um tique nervoso não há dependência alguma. Digo isso porque você não precisa realizar esta ação para conseguir alguma coisa. A prática desta ação não é usada como condição para se ter ou ser alguma coisa.


Por isso diria que o seu ato está muito mais para uma ação mecânica do corpo do que para um vício. Esta ação, na minha visão, é algo que você começa a fazer e nem se dá conta de estar realizando, que não pretendia fazer, que não começou a fazer esperando ganhar alguma coisa com ela. 


A sua ação é quase como um espasmo. É como uma ação muscular sem controle. Por isso, não há como combater a ação levando em consideração a ideia de que ela é um vício. Digo isso porque do vício nós nos libertamos não mais desejando aquilo em que somos viciados. Se você não depende do tique, como pode se libertar dele? 


Esse é o primeiro detalhe desta questão: você não tem vício, mas vive uma ação mecânica. Entender essa questão é importante e faz diferença na vida, pois o combate é diferente.


TIQUE NERVOSO - 2/3

• O vício real

Ora se o que vive é uma ação mecânica do corpo físico, para não mais realizar essa ação deveria controlar o seu corpo. Com isso não mais a praticaria. Consegue fazer isso? Não. Então, esse não é um caminho plausível.

Diante do que vivemos, então, o caminho para a vivência em paz com o seu tique não é libertar-se do vício nem da ação. Ele tem que ser outro. Que caminho é esse? Aprender a viver com o tique que tem sendo feliz. Aprender a viver com a ação mecânica que seu corpo exerce sem contrariar-se. 


Como faz isso? Acabando com o vício de achar que precisa parar de ter tique. 


Repare bem. Dissemos que vício é a dependência de fazer alguma coisa para conseguir algo. Pois bem, essa descrição não se prende à realização da sua ação, mas se adequa perfeitamente ao fato de querer parar de fazer o que faz. 


O que estou querendo lhe mostrar é que você está dependente de parar de fazer uma ação para ser feliz. Isso é um vício. Por isso, levando em consideração a questão de que só temos o livre arbítrio emocional, digo que precisa eliminar o vício de querer parar de praticar essa ação e aprender a ser feliz com o que tem. 


Como se faz isso? Diga a si mesmo: ‘e daí que eu pratico essa ação. Não consigo controlar o que o corpo faz e é ele que pratica essa ação de uma forma mecânica. Eu não quero ganhar nada com o tique que tenho, então, porque quero acabar com ele’? 


O que você precisa, levando-se em conta que só temos o livre arbítrio das emoções é não aceitar que precisa acabar com a ação, mas que ela faz parte natural de você. Nesse caso pode ser que a ação pare.


Veja, a ação lhe foi dada justamente para que trabalhe o seu vício. Qual é ele? Não querer praticá-la.


Sei que me relata que o tique chega a causar danos ao seu corpo físico. E daí? Você não tem controle sobre o que faz, não consegue mudar-se, não consegue deixar de fazer. O tique é mais forte, nasce do nada espontaneamente. Não há uma decisão da sua parte para começar a praticá-lo. Como, então, pode deixar de praticar essa ação? Por isso afirmo que o resultado que ela faz é impossível de ser anulado. Por isso, aprenda a sofrer os danos físicos que o ato traz sem querer deixar de tê-los.


TIQUE NERVOSO - 3/3

• A subordinação à humanidade causa vícios

O seu vício, então, é outro. Ele não tem nada a ver com a ação, mas sim na subordinação ao sistema humano de vida. Deixe-me tentar explicar isso.

Os cacoetes que algumas pessoas possuem são motivo de chacota por parte de outros seres humanos. Determinadas ações são tratadas até como problemas mentais ou neurológicos pela humanidade. Por isso, os seres encarnados querem se livrar da prática destas ações. Inconscientemente é isso que você está vivendo. 


O que está vivendo é o desagrado de ser diferente dos outros. Mas, o que importa se é diferente ou não do restante da humanidade? 


Porque precisa ser igual aos outros? Porque não pode ser diferente? Porque não pode se aceitar, já que não consegue se mudar, do jeito que é? Porque precisa e depende dos outros da similitude com os outros para poder se considerar uma pessoa normal? 


É este o caminho que precisa usar no seu trabalho emocional para ser feliz com a vida que tem. O caminho é se libertar do ter que ser igual aos outros. Só que para fazer esta caminhada é preciso se libertar do vício de não ser, estar ou fazer o que é, faz ou está. 


Como costumo brincar com as pessoas que me pedem ajuda, também lhe afirmo: veio buscar lenha e saiu tosquiado. Posso ainda lhe dizer que o tiro saiu pela culatra. Você me fala de um vício, mas eu lhe digo que ele é outro; me pede um caminho para combater uma coisa, mas eu lhe mostro que deve combater outra, pois está combatendo algo que não é viciado e esse próprio combate é um vício.


Se você acredita que nosso único livre arbítrio diz respeito à questão emocional, eu lhe oriento: ame-se do jeito que é, aceite que o seu corpo tem esta particularidade e que não tem jeito de ser diferente enquanto não for. Essa é a única saída para o seu sofrimento.


Com as graças de Deus.


Pai Joaquim