A coisa mais importante desta vida
Ai de vocês, guias de cegos, que ensinam assim:
se alguém jurar pelo templo não é obrigado a cumprir o juramento; mas, se alguém
jurar pelo ouro do templo é obrigado a cumprir o que jurou. Qual é mais
importante: o ouro ou o templo que santifica o ouro? Também ensinam isso: se
alguém jurar pelo altar não é obrigado a cumprir o juramento; mas, se jurarem
pela oferta que está no altar, então é obrigado a cumprir o que jurou. Cegos,
qual é mais importante, a oferta ou o altar que santifica a oferta?
O que é mais importante: o ouro ou o templo que
o santifica? O que é mais importante para você: a sua casa ou o Deus que a
santifica? Esta é a pergunta que Cristo faz aos seus seguidores de então, mas
que também continua fazendo aos de hoje... Responda...
Para os seres
humanizados eu sei que é a casa. Eles se preocupam antes de qualquer coisa em
ter uma casa, porque não imaginam como pode se viver sem tê-la. Se ele estiver
sem casa vai sofrer, chorar, ranger os dentes. Mas, o que é mais importante: ter
uma casa ou ter Deus, ter um carro ou ter Deus ao seu lado?
Santificar o ouro
é dar a ele um valor espiritual, dar um valor santo às coisas do mundo. Não se
trata de santificar o ouro, mas sim em dar a ele o seu valor
universal.
Durante todo esse tempo estamos falando que não existe vida
material, mas sim existência espiritual que se vivencia em diferentes planos. Se
isso é verdade, é preciso que o ser humanizado santifique a vida material. Para
isso, não estou dizendo que não se pode ter casa, mas sim ter uma casa no seu
sentido espiritual.
Ter uma casa dentro deste sentido é não possuir a casa
(‘ele é minha’), mas habitar um lugar que pertence a Deus. É saber que a casa
está sob sua guarda por empréstimo feito por Deus e que Ele pode dispor dela da
forma que quiser: jogá-la abaixo, sujar a parede, inundá-la, etc. Quem convive
com a casa onde mora numa relação espiritualizada, mora nela, mas não se diz
capaz de definir o seu destino, pois sabe que é apenas um locatário e não um
proprietário.
Mas, os seres humanizados não vivem assim: se imaginam
proprietários do imóvel. É por isso que quando aparece um defeito na casa ele
diz que ela não presta. Quando está velha, diz que não serve para nada. Isso
porque o ser humanizado vive a casa sem santificá-la. Ele não dá o valor
espiritual a casa, mas a utiliza pelo ouro, pela matéria. Se ela estiver bonita,
limpa e arrumada, os ser humanizado gosta dela, mas se isso não acontecer, não
gosta mais dela.
É por não dar o valor espiritual à casa que Deus, o
proprietário, despeja o ser humanizado. Como vive pelo ouro, este ser, então,
xinga a Deus com o seu sofrimento. Mas, que culpa tem Deus disso? Ele teve que
tirá-lo de lá porque ele não estava satisfeito com ela, não convivia
harmonicamente com a casa no estado que estava.
O ser humanizado vive pelo
ouro do templo e não pelo próprio templo. Se Deus lhe dá um carro ele já quer um
modelo mais novo, com mais acessórios; se o Pai lhe dá uma roupa, o ser
humanizado diz que ela está fora de moda e quer outra; se o Senhor lhe dá um
salário, o ser humanizado reclama dizendo que é pouco e que quer mais. É isso
que é viver o ouro do templo.
Aquele que busca a consciência crística age ao
contrário, santifica o ouro do templo: se o carro está velho ou sem novas
tecnologias, o ser humanizado vive com ele em paz; se a roupa está gasta ou
puída, vive harmonizado com ela; se o salário é pouco, vive com felicidade o
pouco que pode desfrutar. Quem vive assim esta usando o ouro de uma forma santa,
ou seja, está amando tudo que tem no estado que está e contendo o que
contêm.
O ser humanizado não aceita o que tem. Está sempre buscando mudar
aquilo com o que convive para satisfazer os seus conceitos de bom, certo,
moderno, melhor. Santificar o que tem é vivenciar em paz, harmonia e felicidade
o que tem sem achar que merece mais ou melhor. Santificar o ouro é agradecer a
Deus tudo o que tem.
Não se está falando aqui em não ter desejos de outras
coisas. O desejo é inerente ao ser humanizado. Ele sempre irá querer além
daquilo que tem. Isso é algo normal e aquele que vivencia a consciência crística
também quer, mas vivencia o que tem santificando-o, ou seja, convivendo com o
que tem neste momento de uma forma harmônica, enquanto quem não santifica o ouro
sofre com o que tem.
Além de falar em santificar o ouro, Cristo nos diz ainda
que aquele que tem a consciência crística santifica a oferta. O que quer dizer
isso?
A oferta a Deus é a existência que o ser humanizado vivencia. A vida
humana de um ser é uma oferta ao Senhor.
Aquele que santifica a sua oferta a
Deus vive harmonizado com aquilo que tem. Aquele que santifica o altar ao invés
da oferta vive sempre buscando ter mais do que tem.
Quem só tem um prato de
comida simples para comer, mas louva a Deus por isso santifica a sua existência.
Aquele que sofre porque só tem um prato para o dia inteiro e quer fazer todas as
refeições santifica o altar e não a oferta.
Estes são os dois ensinamentos de
Cristo neste trecho. Mas, a amplitude deste ensinamento pode ser maior se
extrapolarmos as possessões individuais e analisarmos o ensinamento na vida
societária.
O que é santificar o ouro e o altar no tocante a convivência com
os outros? É aceitar tudo o que o outro faz sem críticas, sem julgamentos. Quem
santifica o ouro e o altar vive harmonicamente com o próximo mesmo que ele não
faça ou não diga aquilo que o ser humanizado espera dele.
É isso que Cristo
está dizendo. Aquele que alcança a consciência crística santifica, ou seja, vive
harmonicamente, tudo aquilo que possui e tudo aquilo que os outros fazem para
ele.
Existe algo que já falamos aqui e que os seres humanizados esquecem: se
alguém não fizer algo contra ele ou se sua existência estiver perfeita dentro
dos seus padrões individuais, não existe elevação. Alcançar a consciência
crística depende totalmente do que se vivencia, pois ela é o resultado da
santificação que se faz destas coisas.
Sabe, o seu filho deixar um quarto
bagunçado é lhe dar a oportunidade de elevação... Uma pessoa lhe contrariar,
dizer que você não sabe nada, lhe ofender, morar numa casa que não se gosta, ter
algo que se acha atrasado, é oportunidade de elevação.
Tudo o que ser
humanizado tem e vivencia é uma ação que dá a oportunidade do ser humanizado
santificar a sua existência. Pergunto: se o ser universal não passar por estas
coisas, para que encarnou. Para se divertir? No Universo, o ser universal se
diverte de outras formas.
O ser humanizado precisa compreender que tudo o que
tem e vivencia é necessário para que ele se liberte dos conceitos com que vive.
Alcançar esta consciência é santificar tudo o que tem e todos os atos que as
pessoas praticam à sua frente. Isso é santificar o ouro. Quem não vive assim,
simplesmente utiliza o ouro, ou seja, sobrevive, passa pela vida.
Sem
compreender que cada pessoa com a qual o ser humanizado convive faz exatamente o
que ele precisa para a sua elevação espiritual, ele não santifica o ouro e o
altar, ou seja, a sua oportunidade de encarnação. Quem não age assim vive na
hipocrisia. Vive na falsidade de que o que ele quer e acha correto é o certo
para o Universo.
Quem alcança a consciência crística santificando o que tem
e o que vivencia não se sente vítima nem tem algoz. Sabe que tudo e todos são
instrumentos necessários ao seu trabalho durante a encarnação.
O ser
humanizado precisa mudar a visão que tem sobre as coisas e as pessoas do mundo.
Precisa acabar com a visão do ouro pelo ouro e começar a ver de uma forma santa
o ouro e o altar. Para isso é preciso alcançar a compreensão da santidade do
ouro.
Tudo o que existe e acontece é santo. Não importa se estamos falando
de uma simples ofensa (‘você é bobo’) ou de um assassinato: tudo faz parte do
plano divino para a elevação espiritual de um ser universal. Tudo o que existe e
acontece para um ser é o melhor para ele, pois é a justa medida daquilo que
precisa para o seu trabalho de alcançar a consciência crística. Nem mais nem
menos...
Vida é oportunidade de elevação; é carma em ação: mais nada... Um
homem não se apaixona por uma mulher e vive junto com ela. Se estes dois seres
humanizados estão juntos é porque cada um é o carma do outro, ou seja, cada um
possui os elementos necessários para que o outro possa fazer a sua elevação. Se
isso não fosse realidade, jamais estes dois seres teriam se encontrados nem
estariam juntos. Para que estariam juntos? Para se divertir? No sentido
espiritual, isso seria uma perda de tempo e no Universo isso não
acontece...
Será que Deus colocaria dois seres convivendo juntos para que
eles pudessem gozar o prazer de estarem juntos? Isso, no sentido da existência
eterna, seria uma perda de tempo... Sobre isso, deixe-me dizer uma coisa: Deus
não perde tempo, até porque Ele não tem tempo para perder... O que Ele quer é
resolver a questão da elevação de cada ser. Fazer isso é dar a cada o que merece
e precisa para realizar o trabalho necessário para alcançar a consciência
crística.
Participante: Não há algo que um ser possa gerar por sua vontade
mesmo que não esteja programado para o trabalho da elevação
espiritual?
Impossível... Existe um Senhor que é onipotente, onipresente e
onisciente e que por isso comanda pessoalmente todo o programa do trabalho da
elevação espiritual.
O ser humanizado pode ter a ilusão de achar que faz o
que quer, mas isso não pode acontecer. Sendo isso possível, pelo objetivo que
lhe move (viver o ouro pelo ouro) e que é diferente de quando não humanizado, o
ser não realizaria o trabalho necessário para a evolução.
Sendo isso verdade,
não existe nada errado. Tudo que acontece e o que o ser humanizado possui é
sempre uma oportunidade para que ele possa conhecer os conceitos que possui
sobre os elementos do mundo e libertar-se deles. Tudo está sempre perfeito
segundo a intenção de Deus: que o ser universal possa prosseguir na sua
caminhada eterna. Apesar disso afirmo que apenas Deus conhece realmente a
necessidade de cada um.
O ser quando se conscientiza de que a sua jornada
humana é escrita por Deus para a sua elevação quer saber porque está trilhando
este ou aquele caminho, mas isso é impossível. O ser humanizado não pode
perscrutar as ações de Deus: só pode santificá-las ou não.
Joaquim de Aruanda