quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Choque de realidade

Joaquim tem nos falado a respeito da busca da felicidade. Não é um assunto novo – aliás, nem esta idéia de se estudar os acontecimentos da vida é nova, pois já está presente no estudo Carmas humanos, mas, vejo as pessoas perdidas com as informações que ele passa. Por isso, gostaria de passar a vocês algumas idéias que foram se formando na minha mente ao longo dos anos e que contempla tudo o que ele está falando e que já falou até hoje. Chamo esta técnica de choque de realidade. 

Antes de falar da técnica em si, quero dizer que já a venho colocando em prática algumas vezes comigo mesmo e quando consigo fazer isso dá resultado. Ou seja, consigo passar pelo momento com certo grau de tranqüilidade e paz. 

Mas, vamos lá... 

Krishna ensina que devemos assistir a nossa vida. Este ensinamento tem sido a base de tudo o que Joaquim nos falou desde aquele remoto dia de 2004 quando estudamos o Bhagavad Gita. Essa também é a base da técnica Choque de Realidade.

Assistir a vida é assistir aos acontecimentos dela. Ver o que está acontecendo sem participar das ações. Mas, como participamos das ações ao invés de apenas observá-las? Querendo nos intrometer no fluxo dos acontecimentos... Por isso, a primeira premissa para se alcançar a tranqüilidade é não querer influir no fluxo dos acontecimentos da vida.

O que são os acontecimentos da vida? Eles ocorrem em dois planos: mental e físico. Tudo aquilo que vivemos é determinado por uma ação externa e por uma consciência interna. A primeira dá a percepção; a segunda, dita o que está acontecendo. 

A primeira é simples de entender do que se compõe: daquilo que percebemos através dos órgãos dos sentidos. A segunda é um pouco mais complexa. Ela é composta daquilo que sabemos pela razão (pensamentos) e daquilo que sentimos (inteligência emocional). A soma do que percebemos mais o que a razão nos diz que está acontecendo e o que estamos sentindo naquele momento é o acontecimento de nossas vidas. 

É a isso que devemos assistir, segundo o ensinamento de Krishna encampado por Joaquim. Por isso essa é a base do choque de realidade. Para isso, utilizo três passos distintos. Para falar deles, vou usar um exemplo: alguém lhe rouba...

Primeiro passo: excluir o agente causador do acontecimento, seja você ou outra pessoa ou objeto.

Somos seres humanos e por mais que digamos que entendamos e acreditamos nos ensinamentos fatalistas, ainda achamos que os acontecimentos precisam de um agente causador. Mas, se a vida vive por si mesmo ou se Deus é a Causa Primária de todas as coisas, não existe agente causador dos acontecimentos. O acontecimento acontece por ele próprio e não porque alguém o faz a acontecer. 


Sendo assim, dentro do exemplo que estou utilizando a primeira coisa é retirar a figura de um ladrão, de alguém que tenha roubado. Não foi uma pessoa que tirou o dinheiro, mas sim a própria vida. Foi ela, ou melhor, o acontecimento dela, que criou a percepção de você ter perdido um bem. 


Essa ação é necessária para não participarmos do acontecimento. Se ainda achamos que alguém foi o agente causador daquele acontecimento, nós vamos nos imiscuir na vida criando conceitos sobre ele. Vamos interferir na vida criando rótulos para as pessoas que participam dela. Se não houver agentes, continuamos apenas observando as pessoas que transitam nos acontecimentos de nossa vida como elas são: pessoas...


Portanto, ao vivermos o acontecimento que está nos servindo de exemplo devemos apenas ter a consciência de que não possuímos mais o bem ao invés de dizer que ele foi roubado por alguém.


Segundo passo: encarar a realidade...


Assistir ao acontecimento é saber o que está acontecendo. Participar da ação é viver as emoções que a mente está criando e as conseqüências que ela mesma cria para ele. Por isso, é preciso encarar a realidade frente. Quando fazemos isso, ou seja, sabemos apenas do acontecimento, mas não vivemos as conseqüências dele, conseguimos a paz. Vou explicar...
Quando a mente cria um acontecimento, ela não se limita apenas a criá-lo, mas fala dele. Criando uma situação de roubo, vai dizer que aquilo é injusto, que aquele acontecimento não deveria ter acontecido, que ele poderia ter sido evitado, que aquilo lhe causará prejuízo futuro, etc. Além disso, cria determinadas emoções para quem participa da ação que não podem ser evitados: sentir-se injustiçado, sentir-se injuriado, sentir medo, etc. 


Quem vive o acontecimento vive tudo isso; quem assiste o acontecimento não participa dessas coisas. Quem assiste ao acontecimento encara a realidade de frente: 'Fui roubado sim, e daí? O que eu posso fazer? O presente do roubo já aconteceu e não pode ser mudado. Se foi justo ou não, não sei: sei apenas que fui roubado e isso não pode mudar'. Quem assiste ao acontecimento de frente não se deixa levar pelos comentários da mente: 'Sei lá se eu vou ser assaltado de novo... Sei lá se o que me foi roubado fará falta no futuro'. 


Quem assiste a vida vê o roubo acontecer, mas não se sente roubado. Por isso não aceita nem as emoções que a mente cria no momento nem as declarações que ela faz sobre o acontecimento. Mas, para encarar a realidade de frente é preciso ainda algo importante: descobrir o que a mente está usando para criar toda a declaração e as emoções daquele momento. Isso sempre tem a ver com os desejos...


Terceiro passo: identificar o desejo


Falar em retirar do acontecimento as conclusões e emoções que a mente cria é chover no molhado, é óbvio. Se não queremos sofrer e se fazemos isso porque a mente nos propõe esta postura sentimental, se extinguimos estas coisas, deixamos de sofrer. Mas, esta ação que aparentemente é tão simples torna-se muito difícil. Por quê? Porque não secamos a fonte da mente...


Ser assaltado é um acontecimento normal da vida de qualquer um. Milhares de pessoas todos os dias são assaltadas nas ruas de todas as cidades do mundo. Sendo assim, todos estão sujeitos a passar por esta situação. Se isso é verdade, ou seja, se sabemos disso racionalmente, porque a mente ainda cria sofrimentos quando este acontecimento ocorre? Porque ela está presa em razões escondidas... Estas razões são os desejos...


A mente só cria estas emoções sofredoras porque contém uma verdade que diz que aquela pessoa não deve ser assaltada. Mas, por que não deve, se muitos são? Será que ela é melhor que os outros seres humanos? Será que ela é mais pura e por isso não precisa passar por esta situação?


Aí está, no meu entender, a grande sacada para não sofrer: encarar de frente a realidade, mas principalmente encarar de frente os desejos da mente. Encará-los de frente é ver que a mente trata a pessoa como ser especial, muito digno, uma pessoa que não deve receber nada além daquilo que os seus desejos dizem que ela tem que receber. Mas, não existem pessoas assim. Todos somos seres humanos, todos dividimos a responsabilidade de viver e construir a história deste planeta sem privilégios. Portanto, tudo o que acontece aos outros, pode acontecer conosco, independente do que os desejos queiram...


Aí está o choque de realidade e ele tem este nome porque se resume a enfrentar a realidade que está acontecendo ao invés de viver o que a mente está dizendo ou sentindo naquele momento. Como disse, isso tem me ajudado muito a manter a paz, a calma e o equilíbrio em muitos momentos da vida. Por isso quis compartilhá-lo com vocês.

A nuvem branca

Uma nuvem branca existe sem nenhuma raiz. Mas ainda assim existe.
A existência inteira é como uma nuvem branca – sem qualquer raiz, sem qualquer causalidade – ela existe. Existe como um mistério.
 
Uma nuvem branca não tem, na realidade, nenhum caminho próprio. Vagueia. Não tem onde chegar, não tem objetivo, não tem destino a ser cumprido. Não tem fim.
Você não pode deixar uma nuvem branca frustrada, porque onde quer que ela chegue, é a meta.
 
Se você tem uma meta, está destinado a ficar frustrado. Quanto mais a mente é orientada para uma meta, mais angústia, mais ansiedade e mais frustração possui – porque quando você tem uma meta começa a se mover em direção a um objetivo fixo.
 
E a existência inteira existe sem qualquer destino. O todo não está indo a lugar algum; não possui nenhuma meta, nenhuma finalidade.
 
Se você tem uma finalidade, está indo contra a existência – você ficará frustrado.
 
Uma nuvem branca deixa-se levar para onde quer que o vento a dirija – não resiste, não luta. Uma nuvem branca não é um conquistador, e mesmo assim flutua acima de tudo. Você não pode conquista-la, não pode vencê-la. Ela não tem nenhuma mente para ser conquistada.
Quando você está fixado numa meta, propósito, destino ou significado, quando adquire essa loucura de chegar a algum lugar, os problemas começam a surgir. E você acaba sendo derrotado – isto é certo. Sua derrota está na própria natureza da existência.
 
Uma nuvem branca não tem para onde ir. Movimenta-se, vai para todos os lugares. Todas as dimensões lhe pertencem, todas as direções lhe pertencem. Não rejeita nada. Tudo é, existe, numa total aceitação.
 
Por isso chamo meu caminho de “O caminho das nuvens brancas”, diz Osho.