sexta-feira, 7 de agosto de 2015

TIQUE NERVOSO

Ação mecânica do corpo e vício

Uma pessoa me fala agora que possui um hábito, um vício de realizar determinado ato físico em momentos da sua vida. Diz ainda que não pena em realiza-lo, que não quer fazê-lo, mas quando vê está praticando a ação que não gosta. Fala, ainda, que esta prática traz danos aos seu corpo físico. Por isso não quer mais praticar esta ação. Para isso, inclusive, já pediu ajuda a Deus através da oração para acabar com o vício de agir desta forma. 

A partir deste histórico, ela me pergunta como agir, levando em consideração que só possuímos o livre arbítrio das emoções, algo em que ela acredita. Vou tentar responder a essa pessoa como sempre faço: analisando tudo o que envolve a questão. 


Primeiro detalhe: você chama essa ação que pratica regularmente de vício e quer combater este vício. Só que ela não é um vício. Vamos tentar entender isso.


Vício é dependência. É viciado aquele que é dependente de alguma coisas para algo. Precisa ter para ser ou precisa ser para ter: esses são os viciados. 


No seu caso onde a ação é um tique nervoso não há dependência alguma. Digo isso porque você não precisa realizar esta ação para conseguir alguma coisa. A prática desta ação não é usada como condição para se ter ou ser alguma coisa.


Por isso diria que o seu ato está muito mais para uma ação mecânica do corpo do que para um vício. Esta ação, na minha visão, é algo que você começa a fazer e nem se dá conta de estar realizando, que não pretendia fazer, que não começou a fazer esperando ganhar alguma coisa com ela. 


A sua ação é quase como um espasmo. É como uma ação muscular sem controle. Por isso, não há como combater a ação levando em consideração a ideia de que ela é um vício. Digo isso porque do vício nós nos libertamos não mais desejando aquilo em que somos viciados. Se você não depende do tique, como pode se libertar dele? 


Esse é o primeiro detalhe desta questão: você não tem vício, mas vive uma ação mecânica. Entender essa questão é importante e faz diferença na vida, pois o combate é diferente.


TIQUE NERVOSO - 2/3

• O vício real

Ora se o que vive é uma ação mecânica do corpo físico, para não mais realizar essa ação deveria controlar o seu corpo. Com isso não mais a praticaria. Consegue fazer isso? Não. Então, esse não é um caminho plausível.

Diante do que vivemos, então, o caminho para a vivência em paz com o seu tique não é libertar-se do vício nem da ação. Ele tem que ser outro. Que caminho é esse? Aprender a viver com o tique que tem sendo feliz. Aprender a viver com a ação mecânica que seu corpo exerce sem contrariar-se. 


Como faz isso? Acabando com o vício de achar que precisa parar de ter tique. 


Repare bem. Dissemos que vício é a dependência de fazer alguma coisa para conseguir algo. Pois bem, essa descrição não se prende à realização da sua ação, mas se adequa perfeitamente ao fato de querer parar de fazer o que faz. 


O que estou querendo lhe mostrar é que você está dependente de parar de fazer uma ação para ser feliz. Isso é um vício. Por isso, levando em consideração a questão de que só temos o livre arbítrio emocional, digo que precisa eliminar o vício de querer parar de praticar essa ação e aprender a ser feliz com o que tem. 


Como se faz isso? Diga a si mesmo: ‘e daí que eu pratico essa ação. Não consigo controlar o que o corpo faz e é ele que pratica essa ação de uma forma mecânica. Eu não quero ganhar nada com o tique que tenho, então, porque quero acabar com ele’? 


O que você precisa, levando-se em conta que só temos o livre arbítrio das emoções é não aceitar que precisa acabar com a ação, mas que ela faz parte natural de você. Nesse caso pode ser que a ação pare.


Veja, a ação lhe foi dada justamente para que trabalhe o seu vício. Qual é ele? Não querer praticá-la.


Sei que me relata que o tique chega a causar danos ao seu corpo físico. E daí? Você não tem controle sobre o que faz, não consegue mudar-se, não consegue deixar de fazer. O tique é mais forte, nasce do nada espontaneamente. Não há uma decisão da sua parte para começar a praticá-lo. Como, então, pode deixar de praticar essa ação? Por isso afirmo que o resultado que ela faz é impossível de ser anulado. Por isso, aprenda a sofrer os danos físicos que o ato traz sem querer deixar de tê-los.


TIQUE NERVOSO - 3/3

• A subordinação à humanidade causa vícios

O seu vício, então, é outro. Ele não tem nada a ver com a ação, mas sim na subordinação ao sistema humano de vida. Deixe-me tentar explicar isso.

Os cacoetes que algumas pessoas possuem são motivo de chacota por parte de outros seres humanos. Determinadas ações são tratadas até como problemas mentais ou neurológicos pela humanidade. Por isso, os seres encarnados querem se livrar da prática destas ações. Inconscientemente é isso que você está vivendo. 


O que está vivendo é o desagrado de ser diferente dos outros. Mas, o que importa se é diferente ou não do restante da humanidade? 


Porque precisa ser igual aos outros? Porque não pode ser diferente? Porque não pode se aceitar, já que não consegue se mudar, do jeito que é? Porque precisa e depende dos outros da similitude com os outros para poder se considerar uma pessoa normal? 


É este o caminho que precisa usar no seu trabalho emocional para ser feliz com a vida que tem. O caminho é se libertar do ter que ser igual aos outros. Só que para fazer esta caminhada é preciso se libertar do vício de não ser, estar ou fazer o que é, faz ou está. 


Como costumo brincar com as pessoas que me pedem ajuda, também lhe afirmo: veio buscar lenha e saiu tosquiado. Posso ainda lhe dizer que o tiro saiu pela culatra. Você me fala de um vício, mas eu lhe digo que ele é outro; me pede um caminho para combater uma coisa, mas eu lhe mostro que deve combater outra, pois está combatendo algo que não é viciado e esse próprio combate é um vício.


Se você acredita que nosso único livre arbítrio diz respeito à questão emocional, eu lhe oriento: ame-se do jeito que é, aceite que o seu corpo tem esta particularidade e que não tem jeito de ser diferente enquanto não for. Essa é a única saída para o seu sofrimento.


Com as graças de Deus.


Pai Joaquim

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.