quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Ter prazer

Agora uma pessoa me fala do prazer. Afirma que eu disse, e isso é certo, que o ego se alimenta do prazer e da dor e por isso essa pessoa acha importante se libertar do prazer. Desta informação, concluo que esta pessoa está sofrendo quando tem prazer. 

Parece estranho, mas é verdade. Aquele que acha errado ter o prazer porque ele é um alimento do ego, sofre quando o tem. Será a partir da existência desse sofrimento que tentarei responder a sua pergunta: ‘dá para se ter prazer, se viver nesta emoção, de uma forma saudável’? Responderei, portanto, a esta questão tendo como ideia de que para você ter o prazer nos moldes de hoje é um sofrimento.


Primeira coisa que precisamos entender: o que é o prazer. Como definição lhe digo que prazer é a satisfação dos desejos atendidos. Esse é o primeiro detalhe.


Prazer não tem nada de anormal, de pecaminoso. Prazer é a simples satisfação do desejo atendido. Sendo assim, ele em si não traz problema algum para aquele que busca a elevação espiritual.
‘Se o prazer não tem problema algum, porque você, Joaquim, disse que não devemos ter prazer’, vocês me perguntariam. Vou tentar responder esta questão.


Como disse agora a pouco, tê-lo não é problema. O que é problemático é querer tê-lo. O que leva problemas ao pretendente da elevação espiritual é querer ter o prazer, é ansiar por ele, é viver para tê-lo.
Ter o prazer e viver para tê-lo são duas coisas diferentes. Aquele que tem o prazer é aquele que como humano que está, possui desejos, consegue tê-lo realizado. Este diz: ‘que bom, meu desejo foi realizado’. Este ser por viver isso não trouxe problema algum para a sua busca espiritual. 


Esse, na questão da elevação espiritual e na própria ideia de viver a felicidade incondicional não trouxe complicação alguma a essa busca, porque não ansiou pelo prazer, não o esperou, não viveu para tê-lo. O problema se consiste naquele que quer ter o prazer. Porque isso? Porque nesse caso o prazer vira um condicionante da felicidade. 


Quem anseia pelo prazer condiciona a felicidade a existência do prazer. ‘Serei feliz quando o que quero acontecer’. Quem pensa assim tem problemas. Porque? Porque não é feliz agora. Não consegue ser feliz neste momento, pois se sente um carente, um necessitado. 


É neste aspecto que prazer é danoso. Ele possui esta caraterística quando é desejado, esperado, querido e não quando acontece por acontecer. Aquele que vive o prazer como decorrência natural de acontecimentos oriundos do processamento da personalidade humana é feliz, mesmo quando o que é desejado não acontece. Já aquele que anseia tê-lo, que quer e exige do mundo que o prega, que anseia, deseja aconteça, esse tem problema, pois não é feliz agora.


Portanto, fica muito claro que o ego se alimenta do prazer, mas daquele que é ansiado e não daquele que acontece como decorrência natural da vida. Esse não alimenta o ego. A alimentação que o ego precisa é a sensação da vitória, o querer e conquistar e isso não está presente naquele que não anseia pelo prazer, mas assim mesmo o tem 


Diante de tudo isso, posso responder, quando me pergunta se há um prazer que não seja danoso à saúde espiritual, que sim: aquele prazer que não é vivido com a busca do prazer. 


Quando o prazer não é vivido com a busca dele, ou seja, quando não há a satisfação de haver conseguido as coisas, não se tem um dano ao processo de busca da elevação espiritual. Agora, quando ele é vivido num processo de excitação, na busca de conseguir uma vitória, de conseguir o que é desejado, há um dano à existência espiritual do ser. 


O que estou tentando lhe mostrar agora é mais ou menos o que falo sobre a questão do orgulho e da soberba. Muitos dizem que não devem ter orgulho, que ele é danoso à questão da elevação espiritual, mas eu digo ao contrário. Afirmo que devem tê-lo. 


Orgulho é a sensação do dever cumprido. Orgulho é dizer, que queria e conseguiu. Já a soberba, que não indico, existe quando quer e consegue algo e se vibra por esta vitória, se acha melhor que o outro por ter conseguido, imagina que sua conquista é mais importante e mais difícil de ser obtida do que a dos outros. 


A soberba existe quando é projetada uma vitória sobre o outro. Orgulho é quando se vive as suas vitórias e dá a todos o direito de ter as deles. Aquele que não se vangloria da derrota dos outros nem enaltece a sua própria, não possui problema algum por ter orgulho do que foi feito. 


No prazer é a mesma coisa. O prazer que foi vivido sem a sensação da vitória, do ter conseguido sobre outro, não causa mal a ninguém. Pelo contrário: pode ajudar o ser a colocar novas frentes de batalha para aproximar-se de Deus. Já o prazer que é vivido com a sensação da vitória por ter derrotado algo ou alguém, nem que seja a própria a vida, é o alimento do ego. 


Que você esteja na paz.

Pai Joaquim

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