quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Como amar a Deus estando preso na necessidade de fazer?

Participante: se, como o senhor diz, vivemos apenas presos num sonho de ser, estar e fazer o que caracteriza o nosso egoísmo, como podemos amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo?

Saiba de uma coisa: achar que ama alguém ou alguma coisa é o maior sonho que o ser humano vivencia. Por isso digo que é a maior hipocrisia que o ser humano vivencia. Vamos falar sobre isso...

Vamos supor que você ame a pessoa que está ao seu lado. Diga-me, porque você o ama?
Participante: porque ele participa das mesmas crenças que eu...

Está certo, este é um dos motivos pelos quais os seres humanos acreditam que amam outros. Mas, lhe pergunto: se há esta condição para amar, quando ela não mais existir você não o amará. Você ama o que, então: a ele ou a condição existente entre vocês?

Neste simples exemplo já lhe mostrei duas características do amor. A primeira é que ele é racional e não sentimental. Você só diz que ama se racionalmente encontrar motivos para isso. Isso não se restringe apenas a amores sem vínculos sanguíneos, mais a qualquer amor. Por que você ama sua mãe? Não é apenas porque ela é sua mãe, pois tem muitos que não gostam da mãe. A ama porque além de ser sua mãe ela satisfaz as suas exigências para ser amada: é sua amiga, companheira, atende suas necessidades, busca realizar seus sonhos, etc. 

A segunda característica do amor humano que denota a hipocrisia é a temporalidade. Quem ama, amará sempre. Não importa o que esteja acontecendo, o ser humano continuará a nutrir aquele sentimento por aquela pessoa ou aquela coisa. Mas, não é isso que existe no amor de vocês. Ele só é sentido enquanto houver a condição estipulada para tanto. Na verdade, as duas características se interagem: o amor é temporal porque ele depende de condições para existir. 

Portanto, o achar que está amando é um sonho. Se a mulher amasse realmente o marido, pouco importava se convivessem debaixo do mesmo teto ou não, ela o amaria. É isso que acontece? Não, se o marido vai embora, acabou o amor. Isso é amor ou posse? A mente diz que é amor, mas a razão que resulta da análise da vida sem romantismo nos diz que é posse, não é mesmo? 

A mulher sonhando que ama e que é amada vive o sonho do ‘felizes para sempre’. Por não estar desperta não vê que o amor que o marido diz que tem nada mais é do uma satisfação por encontrar nela concordância com aquilo que ele quer. Por isso, se a mulher deixar de suprir estas expectativas, se as expectativas do marido mudarem ou se aparecer alguém que as supra melhor o amor acaba.

A consciência que a mente cria de que o ser humano está amando alguma coisa é criada apenas para mantê-lo preso ao sonho, porque é ela que sustenta a possibilidade do ser feliz plenamente. Para a mulher cria o sonho de que ela e o marido se amam; para aqueles cuja mente diz que não querem dividir sua privacidade com ninguém, dá o sonho de amar sua independência. Não importa o que a mente diga que você está amando, o que ela quer é encontrar subsídios para que você viva o que ela diz, ou seja, sonhe e não alcance a realidade. Desta forma, enquanto você está iludido com o sonho, está sujeito ao sofrimento. Preso ao sonho vai passar a vida inteira procurando a felicidade plena e não vai achá-la. Para o espiritualista isso devia ficar bem claro... 

Se, como já vimos, são as consciências que a mente cria que geram as provações que o espírito pede para passar, ela precisa criar tanto a felicidade relativa (prazer), aquela que é sentida quando existe similitude entre a consciência e o acontecimento da vida, assim como o sofrimento. Sem esta dupla criação não existiria a vicissitude que, como também já vimos, é algo que deve ser vivenciado pelo espírito encarnado.

Participante: então, o amor entre seres humanos não existe...

Existe sim: para aqueles que por estarem dormindo acreditam que a posse é amor. Mas, esta crença não transforma esta razão em um amor real, mas sim algo ilusório, um sonho sonhado.

Pai Joaquim

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