A necessidade da sangha
Respondida às questões, tenho dois avisos para
dar para encerrarmos a conversa de hoje. O que vamos falar agora será um
aprofundamento do que comentei na primeira conversa: sozinhos vocês não vão
conseguir libertarem-se da mente. Não falei mais nada sobre isso e por este
motivo muitos estão agoniados. Vou falar agora.
Tudo o que estamos falando
neste estudo está dentro dos ensinamentos de Sidarta Gautama, o Buda. Este mestre
da humanidade em seus ensinamentos diz o seguinte: ‘para se alcançar a plenitude
da vivência da felicidade é preciso que o ser humano tenha um deus, um caminho e
uma sangha’. Vou falar sobre isso agora.
Sei que disse para não trabalharmos
nesta conversa com elementos espirituais, mas o deus que Buda afirma ser
necessário não tem nada a ver com o Senhor do Universo. O deus que é necessário
para que se conquiste a felicidade é algo ao qual o buscador se entregue.
Qual deve ser o deus, àquilo a que o buscador da felicidade deve se
entregar? À própria felicidade. Só alcançará a felicidade aquele que transformar
a vivência desse estado de espírito como fundamento principal da sua existência,
como objetivo primário da vida.
Para ser feliz é preciso se comprometer com
a busca da felicidade. É preciso transformar o estado de espírito de felicidade
em deus, naquilo que vocês adoram e veneram. Sem isso não se chega a ugar
nenhum.
O segundo elemento necessário para aquele que quer ser feliz é o
caminho. O que é o caminho para a felicidade? O conjunto de ensinamentos que
leve a se alcançar a plenitude do estado de espírito de felicidade. Sem um
caminho não se chega a lugar nenhum.
O caminho que vocês precisam para serem
felizes é o que estamos construindo com nossas conversas. Tudo o que for
necessário para que vocês consigam viver esta vida com a felicidade verdadeira
será comentado aqui.
O terceiro elemento é a sangha. Esse é um elemento mais
complexo de se entender do que os outros, pois vocês não têm a prática de viver
em sangha e até porque a própria palavra não faz parte do dicionário da língua
de vocês. Por isso vou me ater mais nesta questão.
A tradução livre do termo
sangha pode ser ‘uma comunidade de afins’. Se você não estiver vinculado a uma
comunidade de afins jamais vai conseguir ser feliz. Por que? Porque a mente é
extremamente traiçoeira e você é um bobo, é facilmente iludido por ela. A mente
cria e descria realidades sucessivamente sobre o mesmo assunto e você vive preso
ao que ela diz sem ver a hipocrisia e a irrealidade que está em tudo o que ela
gera.
A comunidade de afins, a sangha, é aquela que vai estar sempre pronta
para lhe mostrar que você está seguindo a mente. Isso, neste momento que estão
vivendo na sua busca é muito importante.
Quando falo da necessidade de
conviverem com uma sangha, não estou falando em abandonar o mundo, em viverem
isolados. Não estou falando em deixarem seus empregos e suas casas e passarem a
viver em meditação dentro de uma comunidade. Isso acontecia no tempo de Sidarta
e hoje ainda acontece com alguns, mas não é imprescindível.
O que estou
falando é que pelo menos em alguns momentos vocês precisam de um respaldo para
retornarem à rota da sua busca. O que estou falando é que para o buscador que
está exposto vinte e quatro horas por dia à força da mente é preciso que ele se
exponha a elementos que vão mostrar o desvio que foi tomado em algum momento.
Só o caminho, o conjunto de ensinamentos, não garante que o buscador vá
alcançar o destino. Isso porque, como falei sobre ler informações, a mente, a
partir do que foi ouvido, vai criar interpretações que ela dirá que é
verdadeira, mas não são. Tratam-se apenas de criações mentais que tem como
objetivo mantê-los presos ao que é criado.
Como vocês estão ainda no início
desta busca e como estão acostumados a acreditar nas formações mentais, abam se
iludindo, achando que aquilo que ela está criando é o certo, a verdade. Com isso
aceitarão que ela faça o trabalho por vocês e imaginarão que estão fazendo
alguma coisa.
Mas, será que a mente vai fazer um trabalho para libertá-los
dela mesma? Claro que não. Isso seria a mesma coisa que um suicídio e isso a
mente não fará. É por isso que é importante de tempos em tempos receber toques
que nos recoloque na rota que leva ao objetivo que é pretendido atingir.
É
neste sentido que a sangha, a comunidade de pessoas afins, que estão na mesma
busca, é importante. Ela é importante no sentido de cada um de vocês terem
momentos de contatos com pessoas afins que possam lhes ajudar a não se deixar
levar pelo que a mente cria.
Claro que alguns cuidados são importantes neste
momento. Um deles é ter cuidado com as criações mentais que a mente fará dizendo
que você já conseguiu, que já entendeu qual é o caminho, que sabe fazer
perfeitamente o trabalho. Para ajudar o outro a voltar para a sua rota é preciso
ter cuidado para não julgar.
Sei que para fazer este trabalho nos tempos de
Buda as pessoas juntavam-se num espaço comum e vivam em comunidades isolados do
mundo. Hoje isso não é mais preciso. Aliás seria impossível. Como com a internet
os ensinamentos estão disponíveis para pessoas em diversos pontos, juntar todos
num só lugar seria algo quase impossível, sem falar dos recursos financeiros que
muitos não disporiam para uma empreitada desse porte. Por isso, se me permitem,
vou dar um conselho.
Porque cada um de vocês não busca uma pessoa da sua
cidade ou região que compartilhe dos ensinamentos que conversamos, ou seja, que
tenha o mesmo deus e o mesmo caminho que você, e procuram criar uma convivência?
Não estou falando em construir um centro ou de encontrar uma sala para se
reunir. Não é isso. O que estou falando é ter contato com essa pessoa, seja
pessoalmente, por telefone, por e-mail, etc. Mantenha contato frequente com um
afim seja por que modo for. Com isso, cada um pode ter a possibilidade de, ao
mesmo tempo, ajudar e ser ajudado.
O que estou falando é de vocês procurarem
pessoas que estejam perto. Quando localizarem, troquem telefone, endereço de
e-mail, etc. O que estou querendo dizer é que devem tentar interagir com outras
pessoas que estão trilhando o mesmo caminho que você e que possuem o mesmo
objetivo de vida. O que estou falando é que não adianta apenas interagir com os
ensinamentos.
Hoje, vocês ouvem as palestras, leem os textos, fazem
anotações, mas só isso não adianta nada. Por que? Porque enquanto estão fazendo
isso a mente de vocês está criando verdades e você, como está desatento, já que
sua atenção não é na mente, mas no que está sendo lido ou ouvido, está
acreditando nelas.
Tem muitas pessoas no nosso grupo que já passaram por
esta experiência. São pessoas que durante muito tempo me ouviram, que foram ao
nosso site para ouvir conversas que não participaram e que, com isso, acharam
que já sabiam tudo. Em um determinado momento veio à mente e criou uma situação
dizendo que ele estava conseguindo a prática. Como estava desatento essas
pessoas acreditaram e só depois viram que não haviam conseguido realmente
alcançar o estado de espírito de felicidade.
Por isso é muito importante essa
aproximação entre vocês. Não para louvar Joaquim, para rezar, fazer trabalhos
espirituais ou seguir qualquer rito. O importante da aproximação de vocês é para
que dentro da afinidade um ajude o outro e seja também ajudado.
Se você vive
apenas do que ouve ou lê dos ensinamentos, não vai conseguir nada. Isso porque
quem lê ou ouve é a mente e não você. Os toques que cada um pode dar ao outro
durante o contato com os afins é o que realmente pode ajudar àquele que pretende
alcançar o seu deus.
Portanto, se querem um conselho desse velho – e o fazer
ou não o que estou aconselhando não vai mudar em nada nossa relação nem será
jamais objeto de julgamento por minha parte – busquem ter uma sangha, uma
comunidade de afins. Busquem outras pessoas que possuam o mesmo deus e caminho
que vocês para poderem se relacionar e assim um ajudar o outro, sem julgar o que
é certo ou errado, mas apenas para dar toques que facilitem a caminhada de cada
um.
Que vocês fiquem na paz!
Pai Joaquim
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