O barco
Todo ensinamento é como um barco que transporta
o espírito pelo mar do conhecimento. Este barco o leva do porto da “ignorância”
até o da “sabedoria”. É o transporte que leva os ignorantes para viverem em um
mundo onde serão sábios.
Entretanto, ninguém pode afirmar que conhece o povo
de algum lugar sem que tenha convivido com este. Pode visitar e conhecer pontos
determinados do novo lugar, mas só saberá perfeitamente como é lá se “viver” em
conformidade com os habitantes daquele lugar.
Por isto, não adianta apenas o
ser humanizado “passear” no barco entre os dois portos para dizer que conhece a
“sabedoria”: é necessário descer dele e conviver no mundo dos sábios para se
portar como tal.
Este pensamento nos leva a compreender que não se deve
apenas aprender, mas também praticar. Aquele que apenas vive “aprendendo”
idolatra o condutor, mas quando o barco voltar para a terra da ignorância, o ser
humanizado que não pratica o ensinamento continuará a bordo e não mais será
sábio. Afirmar que o “barco” é muito bonito, perfeito, limpo e arrumado (tem
lógica), mas não colocá-lo na prática não garante a vida em novas terras.
O
ensinamento é apenas um passaporte para a vida no novo mundo e não a própria
vida. Ao ser atingido o ponto de chegada, é necessário que se caminhe por neste
novo lugar, convivendo com seus moradores para que seja um deles. Apenas a
prática do ensinamento pode transformar o espírito em um sábio.
Durante
milênios a espiritualidade, comandada pelo Pai Supremo, tem passado
“ensinamentos” para os espíritos encarnados. Todos eles objetivaram transformar
a vida na carne (que premia a “ignorância” espiritual) para que ela sirva para a
conquista da glória (sabedoria) na vida espiritual. No entanto, os espíritos que
recebem estes ensinamentos prendem-se a eles apenas como “conhecimento” e deixam
de colocá-los na prática.
Cristo nos disse que devemos amealhar bens no céu,
onde os vermes e a ferrugem não os destroem. No entanto, fiéis e os próprios
“Senhores da Lei” das religiões oram e promovem cultos pedindo bens materiais.
Fazem promessas e pedidos a santos no sentido de obterem emprego, saúde, casa,
carro, comida e todos os bens materiais. Todas estas coisas são bens materiais
que serão roídos pelos vermes e estragados pela ferrugem.
O barco navegou
pelo oceano e mostrou a terra da sabedoria (buscar amealhar bens no céu), mas os
espíritos encarnados, por comodismo ou apego às coisas materiais, preferem
retornar à ignorância. Buscam o prazer imediato e não a felicidade eterna
prometida por Deus.
O sábio não pede que seus desejos se contemplem, mas
busca em Deus a força e o entendimento para superar a ausência das coisas
materiais. Ele não pede um prato de comida a Deus, mas sim a força para suportar
a fome sem “murmurar” para que possa ganhar o Reino do Céu.
O ensinamento não
pode ser apenas conhecido, decorado e adorado, mas deve ser utilizado a cada
momento da existência material do espírito. É preciso colocá-lo em prática a
cada segundo de vida material para que se alcance a “sabedoria” espiritual.
Cristo nos disse que apenas aquele que for “pobre de espírito” herdará o
Reino do Céu. O pobre de espírito não é aquele que não possui bens materiais,
mas aquele que não tem “desejos” a serem atendidos. O “pobre de espírito” é
aquele que ama tudo o que tem e o que não tem. Desta forma ele estará juntando
este bem (o amor) no céu para o gozo de sua vida eterna.
Aquele que busca
satisfazer as suas “vontades” materiais se tornará um rico, quer seja
monetariamente falando, como de saúde ou de alimentação. Lembremos que Cristo
também nos disse que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que
um rico entrar no reino do céu”. Aquele que tem os seus “desejos” atendidos, sob
qualquer prisma, é um rico, que dificilmente entrará no reino do céu.
Os
seres humanizados conhecem os ensinamentos, mas não os praticam. Ao invés disso,
fazem como os professores da Lei que penduravam em suas roupas os textos
bíblicos para provar o quanto sabiam. Para estes, temos o mesmo recado que foi
dado por Cristo: ai de vocês...
Caminhar na terra da sabedoria é conhecer o
ensinamento e aplicá-lo a cada momento da vida; enxergar os acontecimentos de
uma vida sob o prisma dos ensinamentos. Não importa qual seja o ensinamento que
você acredite, se não aplicá-lo a cada segundo de sua vida, você estará
navegando sempre entre os dois portos.
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