sexta-feira, 6 de março de 2015

O espírito foi criado por Deus?

A visão do espírito ser defeituoso que você está falando, dentro da lógica humana está perfeita, mas, dentro da universal não. Deixe-me falar sobre isso...


Vocês acreditam que o espírito foi criado por Deus. Quando se diz isso estamos falando de uma obra física. Criar algo é manipular elementos para dar existência a alguma coisa. Você cria um carro, uma televisão, etc. Os elementos que surgem de uma manipulação humana são criados pelos homens.



O espírito não é criado por Deus, mas sim gerado por Ele. Não tenho como lhe explicar este processo nem muito menos estou falando em termos panteístas (o espírito sai de dentro de Deus): estou apenas lhe dizendo que a geração do espírito não tem nada a ver com manipulação. 



Se o espírito fosse criado por Deus, ele poderia ser perfeito, mas seria um robô. Se o espírito fosse criado por Deus ele seria um objeto que apenas responderia a comandos de acordo com a sua programação. Mas, isso não é real.



Como o espírito é gerado por Deus, ele não é um pau mandado, mas um elemento que possui, por herança genética, digamos assim, uma liberdade de agir. Como filho de Deus que ele é, possui a liberdade de agir de acordo com as suas crenças.



Isso vocês chamam de livre arbítrio. Ter a livre opção, aliás, é algo que causa também grande confusão no mundo humano. Ter a liberdade de opção não tem nada a ver com colocar a mão aqui ou ali, dar um passo neste ou naquele sentido, pois o espírito não possui nem mão para colocá-la em algum lugar nem pé para andar. Não tem nada a ver em dar um soco no rosto do outro, porque o espírito não tem mão nem cara para bater ou apanhar. 



Esta é a confusão que vocês seres humanos fazem com relação ao livre arbítrio. Esta característica existe, mas ela é do espírito e não do ser humano. Ele tem a liberdade de opção, mas esta liberdade não se expressa através do mundo dos sonhos, pois quem cria a história do sonho é a mente e não ele. O sonho não pode agir livremente porque ele é submetido ao anseio do espírito, ou seja, acontece depois que o ser universal já fez a sua opção.



“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio”. (O Livro dos Espíritos) 



O espírito tem o livre arbítrio, mas este não está em praticar atos físicos, mas sim em viver para esta luz que você disse que há dentro dele ou não. Acontece que este ser é como uma criança que vocês conhecem aqui na Terra.



Os infantes vivem num núcleo familiar onde recebem carinho, amor e respeito. São educados e orientados com amor. Nesta educação, os pais sempre buscam ensinar aquilo que é melhor para o futuro daquela criança, mas nem sempre é assim que elas vêm a educação que recebem. Como jovens rebeldes que acreditam saber o que é melhor para si mesmo, a criança se antagoniza com os ensinamentos dos pais. Isso, no entanto, não acaba com a pureza que está dentro da criança.



Da mesma forma, o espírito se rebela contra as orientações de seu Pai. É o exemplo de Adão e Eva que já falamos aqui. Elas se acham capazes de perceber tudo o que lhes cerca e julgar o que é melhor para si mesmo. Isso, no entanto, não acaba com a sua pureza, a luz que você disse existir dentro de cada espírito.
O que acontece é que quando o ser universal age contrário àquilo que o Pai lhe orienta, este brilho é ofuscado. Ele continua existindo dentro do espírito, mas não mais resplandece. É como quando a criança humana se rebela contra os pais: a sua ingenuidade não aparece.



Este é o caminhar do espírito. Durante a sua existência ele vai recebendo missões do Pai que se seguidas lhe levarão a um futuro melhor. Acatar os ensinamentos do Pai é viver para luz que está dentro de si, pois quando é esta a opção do espírito, ele integra-se à comunidade espiritual, à sua família. Mais uma vez volto à comparação com a criança humana. As missões do Pai são como as determinações que o pai humano dá. Ele diz ao seu filho que precisa estudar, que precisa portar-se com educação frente aos outros, etc. Todas estas diretrizes têm como finalidade levar o filho a ter um futuro melhor e integrar-se perfeitamente ao mundo dos humanos. Apesar da notória valia destes conselhos do pai humano, a criança se rebela contra aquilo e acha melhor jogar bola ou brincar de boneca do que estudar. Quando age assim, a sua pureza humana não aparece. Ela está lá, mas não transparece.



O espírito, assim como a criança humana, é orientado por seu Pai para que aprenda a portar-se de forma a ser um ser mais responsável e integrado à sua comunidade no futuro. Acontece que como tem o livre arbítrio, não segue estes conselhos e se rebela contra o Pai. Torna-se o anjo caído citado na Bíblia. Por causa disso começa o processo encarnatório. 



Eu diria, continuando com a comparação com as crianças humanas, que o processo encarnatório é como se fosse o castigo que o pai humano dá às crianças. São acontecimentos que tem por finalidade fazer o filho repensar no que fez e gerar uma oportunidade para realizar o que não fez. O filho humano que fica de castigo vai para o quarto estudar, já que na hora que era para fazer isso não fez. Deixa de fazer o que quer, mas tem que fazer o que é preciso para garantir sua perfeita integração futura à sociedade humana. Transfira esta visão para o mundo espiritual e você terá conhecido, então, a lógica e a necessidade do processo encarnatório.



O espírito perfeitamente integrado à sua sociedade espiritual é aquele que premia o coletivo ao individual. Se o processo encarnatório visa ajudar o ser universal a alcançar esta integração, é preciso, então, que ele torne-se universalista. Como tornar-se? Negando o individualismo.



O espírito que premia (opta) pelo individualismo, o eu, o ganhar individualmente, não está perfeitamente integrado à sua sociedade. É como a criança rebelde que apesar de orientada para estudar prefere brincar. Ela precisa ser ‘castigada’ – saiba que mesmo usando esta palavra não estou falando em penalizar – para ter uma oportunidade para aprender aquilo que não aprendeu. Este castigo, no caso dos espíritos em mundo de provas e expiações, é a vivência de uma encarnação.



O espírito que está encarnado em um mundo de provas e expiações vive uma personalidade humana criada pela mente. Esta mente, ligada à força que já conversamos, dá à realidade ilusória que ela cria a força de realidade, ou seja, dá ao individualismo a força de certo, de bom ou até muitas vezes de divino. Instigado por este sonho, o espírito que já foi orientado por seu pai como deveria se portar nestes momentos pode, então, optar por seguir esta orientação ou deixar-se levar pelo afã do momento.



Isso é o dormir. O espírito que vive o personagem como realidade é como a criança que, apesar de orientada por seus pais, se expõe a situações onde terá a oportunidade de optar em seguir os conselhos paternos ou optar por aquilo que lhe foi ensinado. É o caso da criança que orientado pelos pais da necessidade de estudar, vive momentos onde não há a presença deles e com isso tem que fazer a opção: aproveitar aquele tempo para fazer o que lhe foi recomendado ou submeter-se ao seu afã de satisfazer as suas vontades.



Quando esta criança opta por si mesmo e consegue realiza aquilo que quer no momento em que está longe dos olhares paternos, passa a acreditar que pode sempre fazer o que quer. Da mesma forma, o espírito quando longe de seu Pai (está encarnado) opta por manter-se dormindo, por dar asas ao seu individualismo, gera para si a convicção de que é certo, bom ou até mesmo divino ser individualista. Esta opção é como uma sujeira que empana a luz que você falou existir dentro de cada ser.



Para lhe fazer uma figura mais fácil de compreensão, pense numa lâmpada comum. Todo espírito é como uma lâmpada que possui um brilho interno que refulge. Só que aquele que encarnado se apega ao eu vai criando camada de sujeiras por fora dele. Esta sujeira são os conceitos – o certo e errado, o bom e o mal, o limpo e sujo – que estão na mente e que o espírito acredita que são verdades.



A sujeira não está no interior e por isso não empana a própria luz do espírito. Apesar disso, ela não permite o refulgir. Ela cria uma barreira que não deixa a luz interna do espírito brilhar. Todo espírito, portanto, possui uma luz interior, mas a de alguns não brilha, porque ele está encoberto por camadas de sujeiras


Como disse estas sujeiras são os conceitos individualistas que a mente cria. São as proposições de ser, estar e fazer que a mente gera através das formações mentais. Aquele que vive a encarnação dormindo, ou seja, acreditando ser o humano que a mente diz que ele é, acredita nestes conceitos e por causa desta crença a sua própria luz, o que ele é na realidade, não aparece. Na hora que desperta, ou seja, compreende que há uma realidade que não tem nada a ver com aquilo que a mente diz que é real, se limpa destes conceitos e aí, então, a sua luz, que sempre continuou existindo, pode, então, refulgir.



Joaquim de Aruanda

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