segunda-feira, 23 de março de 2015

GUERREIROS DA PAZ - 03

GUERREIROS DA PAZ - 03

• O alto comando dos inimigos da paz

Como estamos falando de batalhas, vou falar dos inimigos da paz utilizando-me da formação de um exército. Na verdade é assim mesmo. Assim como num exército, entre os inimigos da paz existem diversos níveis de combatentes. Como vocês só veem o primeiro, aquele que está mais próximo de vocês, não conhecem a ação dos demais. Vamos lá, então.


O general do exército dos inimigos da paz chama-se individualismo. Ele é a base de tudo. É o topo da pirâmide que acaba influenciando todo o resto. 



Ao falar deste inimigo da paz, não vou falar em egoísmo, pois existem muitas pessoas que acreditam quando a mente lhes diz que não são egoístas. Por isso, essas pessoas não compreenderiam a ação do general do exército inimigo. Por isso, vou falar em individualismo.



Ser individualista é pensar a partir de um eu buscando que este obtenha uma vitória, uma vantagem. Isso é ser individualista. 



Quando você está conversando com uma pessoa e essa fala que gosta do amarelo e você quer mostrar que o verde é mais bonito, está sendo individualista. Por que? Porque está pensando a partir do eu, da cor que gosta e querendo influenciar o outro para que goste da cor que você gosta.



Isso é ser individualista. Chamo ele de general porque está escondido no momento da vivência de um acontecimento. Ou seja, na hora que diz para o outro que o verde é a cor mais bonita, nunca pensa que está sendo individualista. Pelo contrário: a mente maquia e diz que está sendo bonzinho, que está amando o próximo, que quer trazer o bem. 



Por isso o individualismo é o general: ele está escondido, não aparece, mas influencia toda a ação que consciente. Influencia toda a vida externa dos guerreiros, que é o que lhe é apresentado como vida. 
Por exemplo: uma pessoa que reclama que o outro não lhe ama, não liga para ele. Esta cobrança parece algo amoroso, carinhoso, mas quem vive esta realidade não vê que está sendo egoísta, individualista. Não vê que está exigindo, cobrando coisas, para benefício próprio. 



A cobrança por algo tira a paz. Ela é um dos soldados utilizados pelo exército dos inimigos. Digamos que o guerreiro saiba disso e a combata. Só que mesmo que o guerreiro da paz a derrote nesta vivência, não vai ter paz. Por que? Porque o individualismo, que está por trás dela, vai agir em outro assunto, em outro aspecto da vida. Como o guerreiro não descobriu a presença do individualismo neste momento e não o combateu, a paz será perdida em outras oportunidades onde ele agirá. 



Portanto, este é o general do exército inimigo. É ele que distribui os soldados do exército e os influencia. 
Abaixo do general encontramos os tenentes, ou seja, aqueles que também não aparecem na hora da formação do pensamento, do causar a desarmonia entre o mundo interno e o externo, mas que influenciam nas desavenças. 



O primeiro tenente que vamos estudar é a intencionalidade. Se individualismo é pensar a partir do eu e querer para si, o que é querido é conhecido através da intencionalidade. É a intenção que determina o que é querido para si.



Veja o que está acontecendo na hora inimiga: o individualismo age por trás gerando um querer para si e a intencionalidade, que muitas vezes não aparece no pensamento, ou quando o faz, está maquiada, florida, criando algo para usar como instrumento da vitória. É essa ação que você que quer viver em paz não consegue enxergar e por isso é derrotado diversas vezes ao longo do dia. 



Para poder lhe enganar, a intencionalidade muitas vezes é maquiada, floreada, como disse. ‘Não, a minha intencionalidade é a melhor possível. O que quero é protege-lo’. Protegê-lo do que: do que não quer para você? Quem disse que ele não quer isso? Protegê-lo do que: do que você acha ruim? Mas, será que isso não é bom para o outro?



É essa ação da intencionalidade, do querer para si, do querer viver o que é querido para si, que acaba com a harmonia e por isso com a paz.



O segundo tenente é a posse. Possessão não é ter, mas querer administrar a vida do outro. É querer determinar o que o outro vai fazer, o que será ou como estará. É isso que é possessão. Possessão não é ter uma televisão, mas exigir que cada vez que aperte o botão ela funcione. 



A possessão é necessária ao individualismo. Isso porque se o individualismo é querer a ganhar para si, a possibilidade do ganhar vem através da direção da vida, dos acontecimentos, do que o outro é ou faz. Se você não direciona o outro, não diz o que ele tem que ser, como ganhará? 



Só que o outro também tem uma intencionalidade, uma individualidade, e quando quer que ele seja diferente do que quer ser, o que surge? A desarmonia, a desavença, ou seja, o fim da paz.



Então, fica bem claro que a posse é um tenente do exército dos inimigos da paz. Só que ela muitas vezes não é pressentida como inimiga. Isso acontece porque a realidade da possessão é maquiada, é florida pelo pensamento para que a sua presença como inimiga da paz não seja sentida. 



Isso acontece, por exemplo com aqueles que dizem assim: ‘eu lhe perdoo, mas nunca mais faça isso’. Esse tipo de pensamento é exatamente o instrumento dos seus inimigos lhe roubando a paz. 



Acreditando neles, viverá com a expectativa de que o outro vai atender o seu pedido, mas isso muitas vezes não acontece, não é mesmo? Ele pode até se subordinar por algum tempo, mas em algum momento a insurgência reaparecerá.



Primeiro tenente: intencionalidade. Segundo tenente: posse. Terceiro tenente: paixão.



Paixão é gostar, só que não se trata apenas de um gostar positivo, de um querer. Não querer algo é um paixão. Não achar algo bom, não achar algo certo, é uma paixão. 



Portanto, ser apaixonado é ter opiniões individuais sobre qualquer coisa. Ter opinião sobre as coisas, é ter, dentro de si, um inimigo que vai lhe roubar a paz. Isso porque não existem dois seres humanos que, em gênero, número e grau, tenham a mesma paixão. 



Por isso, o choque será inevitável. Um gostará do amarelo, outro do verde, um gostará de maçã e o outro de manga. Sempre, haverá desarmonia com o mundo externo que será causada pelo que você gosta ou desgosta. 



Só que esta paixão não é real: ela é apenas um tenente do exército dos inimigos da paz. Já repararam que existem pessoas que gostam muito de uma coisa, mas, de repente, quando aparece alguém igual, já começa a gostar de outra? 



Porque isso acontece? Porque a paixão está a serviço do individualismo, a serviço da vontade de satisfazer o próprio eu. Ela não é real. É por isso que o ser humano é tão volúvel. 



A paixão é apenas um inimigo que está aí para gerar desarmonia entre o mundo interno de um ser e o externo. Ela existe para servir ao individualismo e não para ser lógica, para ter algum nexo. Ela está aí só para causar desavenças, porque serve ao individualismo e não ao próprio ser. Como todos são individualistas, querem ganhar, a paixão serve como instrumento desta pretensão de ganhar e não ao que realmente se gosta ou se quer. 



Este é o terceiro tenente: a paixão. Ela existe para que o individualismo possa ser contemplado, para que a satisfação pessoal seja buscada. 



Fazendo um parênteses, deixe-me falar uma coisa: os três tenentes que falamos até agora estão presentes em todos os pensamentos humanos. O exército dos inimigos da paz não luta só com soldados. O soldado é o que você vê, mas a força do general e dos tenentes estão presentes em todo processo mental. 



Não há um pensamento que não esteja fundamentado no individualismo, que não seja construído com uma intencionalidade, uma posse e uma paixão. Não existe. Esses elementos sempre estarão presentes.



Isso é algo que o guerreiro da paz precisa saber. Porque? Porque na hora que não procurar estes inimigos, perde a paz. Na hora que não tentar descobrir a verdadeira intenção a verdadeira busca de satisfação do eu, não tentar descobrir como está querendo comandar a vida e qual a paixão que está dirigindo aquele pensamento, o fim da paz será inevitável. 



Mas, existem mais tenentes e quem já me ouviu antes está vendo que não estamos falando nada novo. Por isso, sabem que depois da posse e da paixão sempre falamos do desejo. Esse talvez seja o tenente mais forte, mais presente. Não há pensamento que não contenha um desejo. Mesmo que não seja explícito, ele está presente.



Desejo é vontade e tudo que é pensado é expresso através de uma vontade. Vocês não fazem nada sem que haja uma vontade, sem que haja um resultado esperado. 



Isso é vontade, isso é desejo: ter um resultado esperado. Não se prega prego sem estopa, diz o ditado popular, vocês não conseguem viver sem ter um raciocínio, um pensamento, sem que haja embutido nele uma vontade. Por isso, a atenção à presença desse tenente e a localização da sua ação, é fundamental para o guerreiro da paz. Deixando-se levar pelo soldado à disposição desse tenente, terá uma vontade, mas a vida terá outra, os outros terão outras, e aí o fim da harmonia é líquido e certo. 



Mas, há mais tenentes: as famosas quatro âncoras. A vontade de vencer, o medo de perder; a vontade de ter o prazer, ou seja, de ser contentado, e o medo do desprazer; a vontade da fama, que como digo sempre que não é aparecer na capa da revista, mas o reconhecimento, e o medo da infâmia; a vontade de ser elogiado e o medo de ser criticado.



Aí está todo o comando o estado maior do exército dos inimigos da paz. São esses que trabalhando, apresentando soldados através do pensamento buscam para si e com isso acabam lhe fazendo perder a paz. Aquele que se submete a esses tenentes e ao general não conseguem a paz. Vivem a perdendo.
Sempre, sistematicamente perdendo a paz.


Joaquim de Aruanda

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