quarta-feira, 1 de julho de 2015

Servir a um senhor

Uma pessoa me pergunta como viver para Deus no mundo capitalista, onde tem que estudar, se formar, trabalhar, ganhar dinheiro para sobreviver com dignidade. Vamos conversar sobre isso.
Estamos estudando questões de contrariedades. Por isso, a primeira coisa que tenho que fazer a partir do questionamento é descobrir a contrariedade que está presente. Para mim fica muito claro nessa pergunta que esta pessoa está contrariada porque se sente incapaz de viver para Deus porque tem que viver para o humano. Contraria-se porque precisa servir ao mundo humano e como não se serve dois senhores ao mesmo tempo, ela imagina que não consegue servir a Deus. Vamos tentar entender esta questão.
A partir dessa análise, vamos primeiro conversar sobre a questão de servir dois senhores para depois podermos falar da contrariedade que essa pessoa vive.
Cristo deixou bem claro: não se serve dois senhores ao mesmo tempo. O que é servir um senhor?
Participante: atender as expectativas dele …
É mais do que isso.
Participante: ser leal a ele …
Quase isso.
Servir a um senhor é dedicar-se a ele. É colocar a sua vida à disposição daquele senhor.
As respostas que vocês me deram está vinculando o servir a um senhor nos tempos modernos, mas pense na época medieval ou nos tempos do próprio Cristo. Aquele que servia a um senhor naqueles tempos é quem se colocava completamente à disposição dele. Era aquele que colocava até a sua vida ou morte à serviço daquele senhor.
Portanto, quando Cristo disse que não se serve dois senhores ao mesmo tempo quis dizer que não se coloca a sua existência à disposição de dois senhores. Não se pode colocar a existência à disposição de Deus e da materialidade simultaneamente. É isso que quer dizer a frase de Cristo.
Agora, o que é colocar a vida à disposição de Deus ou do mundo material? São esses questionamentos que precisamos nos fazer para entender o ensinamento. Será que isso tem a ver com atos, com comida, com bens materiais? Não.
É preciso que aquele que quer deter o poder da felicidade tenha em mente que vida não é aquilo que acontece dos olhos para fora. Vida é aquilo que se vive dos olhos para dentro. Vou dar um exemplo disso.
Uma pessoa pode praticar uma determinada ação, viver uma vida dos olhos para fora, sendo que dentro dela a intencionalidade e o mundo emocional seja completamente diferente do ato que está praticando. Por exemplo, uma pessoa pode lhe dar um dinheiro, um ato que parece possuir um determinado valor, só que ao mesmo tempo por dento está querendo lhe humilhar, lhe comparar, subornar. Ou seja, o ato está vivendo um tipo de vida, mas interiormente está sendo vivido outra completamente diferente.
É isso que aquele que tem o poder de ser feliz compreende: a vida é aquilo que é vivido no mundo interno e não no externo. Isso porque vivendo com esta visão pode atacar a contrariedade no exato lugar ela existe, ao invés de fazer isso onde não existe.
Aquele que sabe que a vida é vivida dentro de si mesmo ataca a criação mental. Aquele que não sabe disso quer atacar no mundo externo, como é o caso da questão que estamos conversando agora.
É preciso trabalhar? Ato … É preciso ter dinheiro? Ato … É preciso estudar? Ato … Nada disso faz parte da vida real, aquela que acontece internamente. Por isso, nada disso é serviço a um senhor. Isso é ação.
O serviço a um senhor acontece no mundo interno. Esse serviço será considerado como ao senhor material no momento em que o ser vivencia o tem que fazer alguma coisa no mundo da matéria.
Aquele que vivencia os momentos da existência carnal imaginando que tem que fazer alguma coisa, serve a um determinado senhor, nesse caso, à matéria. Age assim porque coloca a sua intencionalidade, o seu mundo interno, à disposição do mundo material.
Esse serviço consiste-se caracteriza-se apenas pela entrega da intencionalidade e não tem nada a ver com as ações que são praticadas. Isso porque este ser pode colocar-se internamente à serviço da materialidade, mas mesmo assim nunca estudar, trabalhar ou ganhar dinheiro. Para isso basta apenas achar que materialmente tem que agir de determinada forma, que tem que praticar determinados atos.
É esta a diferença que os seres humanizados precisam compreender para poderem servir a Deus e ao mesmo tempo estudar, trabalhar, ganhar dinheiro, crescer materialmente, etc.
Cristo nunca atacou os ricos, aqueles que possuíam bens. Tanto isso é verdade que seguidores do mestre eram comerciantes ricos e famosos. Cristo nunca os mandou parar de comerciar nem os expulsou do convívio com ele.
Este é o ponto principal para o trabalho de libertar-se da contrariedade de não conseguir viver para Deus. É saber o que é viver para, como se entregar, o que é servir a Deus. Se não souber isso, ainda continuará achando que para servir ao Senhor terá que passar fome, que não pode ter dinheiro, bens nem família. Só que todos os mestres tiveram tudo isso. Aliás, Krishna era um príncipe, era rico.
Esse é o ponto de partida para exercer a sua felicidade: saber o que é servir a Deus ou à matéria. Por isso, vamos conversar um pouco mais sobre este serviço.

Pai Joaquim

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