terça-feira, 19 de maio de 2015

Há uma outra vida – Krishna

Participante: tenho a impressão que as pessoas conseguem sair mais fortalecidas dos problemas da vida, mas eu sempre sinto que não saio deles com mais capacidade para não sofrer.

Isso não é real. Toda vivência gera uma experiência que o torna mais forte para a próxima. A ideia que você tem é apenas uma criação da sua vida para que você não se sinta preparado para o próximo problema. Não é você que não sai mais preparado, mas a vida que lhe passa esta ideia. Portanto, não espere sair mais ou menos fortalecido: deixe ela se sentir como quiser. Saindo de um problema como sair, esteja em paz.


Como disse, é simples, mas para viver esta simplicidade é preciso que se lembre que a vida vive ela mesmo. Para se lembrar disso, é preciso que desligue o piloto automático. Deixar de viver a vida subordinado àquilo que ela criar.


Participante: isso é difícil porque parece que as situações são criadas sobre medida para que você acabe sofrendo.


Sim, porque a vida dá a sensação de que tudo é real. Isso é dado pela força de maya. É ela que gera a sensação de que o que está acontecendo é a sua vida, quando não é. É a história que já contei onde Krishna e um seguidor estão no deserto.


Durante o passeio de Krishna com um seguidor no deserto, o sublime mestre disse que estava com sede. Seu acompanhante afastou-se e foi a um rio pegar água para o mestre. Chegando lá viu na outra margem uma aldeia onde uma bela mulher lavava roupa no rio. Apaixonou-se no primeiro momento por ela.


Por causa desta paixão atravessou o rio e quis cortejá-la. Só que como era praxe na aldeia, só pai poderia autorizar a formação do casal. Por isso, o seguidor de Krishna apresentou-se ao pai dela pedindo autorização. Este lhe disse que dava, mas depois que o homem provasse o seu valor.


Para isso, foi trabalhar na lavoura da aldeia. Trabalhou com muito afinco durante duas plantações e colheitas. Trabalhou tão bem que o pai lhe deu autorização para o casamento. Viveu com essa mulher por bastante tempo. Teve dois filhos e quando eles já estavam crescidos houve uma enchente muito grande que arrasou a aldeia. Sua mulher e seus dois filhos, aqueles que o homem mais amava nessa vida, morreram no desastre.
Sofrendo, o homem ajoelhou-se ao lado do rio quando ouviu a voz de Krishna: eu ainda estou com sede. Tudo aquilo tinha acontecido, todos aqueles anos tinham passado não no mundo real. Foram ideias geradas pela vida daquele homem enquanto ele estava ajoelhado pegando a água para o sublime senhor. Tudo tinha sido só ideia, mas ganhara a força de realidade por conta da força de maya.


Isso é o que acontece com vocês. Todos os seres que imaginam-se aqui encarnados vivendo esta vida, na verdade encontram em seu próprio mundo vivendo a sua existência eterna. Enquanto isso acontece, há um mundo de ideias lhes sendo apresentada e que pela força de maya ganham o poder de se transformar em realidade.


Participante: mas, o achar que está aqui realmente parece muito real.


Sim, eu sei. Conheço o poder da força de maya. Krishna também sabe. Por isso, no início do Bhagavata Puranas diz assim:

Ó Uddhava, ó alma nobre, quando eu abandonar este mundo ele ficará privado de seu bem-estar e logo a seguir passará a ser dominado pelo espírito do mal, a deusa Kali, a destruidora e sustentadora da idade das trevas.
E tu também, Uddhava, tão logo abandones este mundo, não permaneças por aqui, porque os homens se entregarão ao mal na idade de Kali.


Superando o carinho que tens pelos parentes e amigos e renunciando a tudo, anda pelo mundo com um perceber equânime e fixa a tua mente completamente em Mim

.
Tudo o que acreditas conhecer através dos ouvidos, dos olhos, da consciência egotista e discursiva, da palavra e tudo o mais, dá-te conta d que é uma ficção do pensamento, simples fantasmagorias, destinas, portanto, a perecer.


O homem que não vigia seus pensamentos cai no erro de acreditar na multiplicidade das coisas. A crena na pluralidade conduz às egoístas impressões de mérito e demérito. As diferenças que parecem existir nas ações, nas não ações e nas ações ruins só dizem respeito ao homem que pensa no mérito e demérito.


Portanto, controlando teus pensamentos e os sentidos que eles contaminam, observa a este mundo como se estendesse em teu próprio íntimo e encara o teu ser como descansando em Mim, o Senhor Supremo da Yoga e da mente.


Auto realizando-te, vivencia-Me e estando com a mente apaziguada pela realização do ser e sendo eu mesmo o ser de todos os seres com corpo aparente, que outros obstáculos poderão impedir-te?
Suplantando as noções de mérito e demérito, de bem e mal, o homem lúcido, tal como uma criança, desiste de cumprir as ações proibidas simplesmente porque não vê nelas nenhum mal e executa inclusive as ações prescritas, só que livre da impressão de que conduzem ao mérito.

Capítulo 1 – versículos 4 a 11.

Não é exatamente o que dissemos?
Participante: e nós não queremos sair ..

Pai Joaquim

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