quarta-feira, 8 de abril de 2015

Valorize o que é seu

Participante: engraçado que sempre falo isso. Sempre digo que precisamos valorizar para os outros tudo o que temos.
Não estou falando de valorizar para os outros, ou seja, de também fazer propaganda enganosa. Estou dizendo que é preciso que valorize para si mesmo tudo o que é, tem e faz.
Não estou falando em valorizar da boca para fora para aparecer como humilde para os outros. Estou falando que precisa dar a si mesmo um grande valor àquilo que tem, não importando o que seja. Vou dar um exemplo para explicar o que quero dizer.
Uma pessoa uma vez se lamentou comigo porque sempre sonhou com sua casa freqüentada constantemente por amigos, mas não conseguia isso. Em resposta lhe disse: ‘eles não podem vir e o culpado disso acontecer é você mesmo’. Essa pessoa estranhou o que disse e pediu que eu explicasse.
O que acontecia com esta pessoa? A primeira coisa que ela fazia quando alguém chegava a casa dela era desculpar-se pelo estado da casa: pelo sofá que tinha um rasgo, por ter alguma sujeira, etc. Isso parece prova de humildade, mas na verdade é uma ação que inibe que os amigos visitem sua casa. Isso porque as pessoas sentem o constrangimento de quem está recebendo e por conta desta sensação que causam acabam evitando novas visitas.
Na verdade, aquele constrangimento era a própria dona da casa que sentia. Ela se constrangia por conta do estado de seus móveis e, por isso, já nem convidava muitas pessoas a visitá-la. Mesmo assim, as poucas pessoas que iam sem serem convidadas, não voltavam porque também se constrangiam com o constrangimento dela.
Este é o grande problema do ser humano. Ele sonha em ser feliz, mas não consegue viver isso porque não valoriza por que tem, é, faz e possui. Ao agir assim, causa constrangimento a si e a muitos, inclusive o sofá, e para proteger a sua felicidade, aqueles que se constrangem afastam-se daquele ser.
Apesar de não valorizar, o sofá velho daquela pessoa era de suma importância para ela. No dia a dia de sua existência era ele que sustentava o peso do corpo da dona da casa para que pudesse descansar. Rasgado ou não, era aquele móvel a fonte do descanso daquela pessoa e isso era abandonado pela desvalorização que ela fazia dele.
Agora, pergunto: será que esta pessoa sentia-se bem dentro de casa? Será que uma pessoa pode se sentir bem num ambiente se não se sente bem com os móveis que o compõe? Não se sentindo bem em casa, este ser humano, que não percebia que a fonte do seu mal estar estava na sua insatisfação com o que tinha, buscava culpados do seu estado de espírito. Aí começava a atacar um e outro que convivia causando mais sofrimento.
Se perguntasse a esta pessoa àquela época o que a faria feliz neste aspecto, certamente ela me diria que seria a aquisição de móveis novos. Só que não tinha condições para isso e por este motivo sofria. Na verdade não é a ausência de móveis novos que a fazia sofrer, mas sim o não valorizar o que tinha. Se ela valorizasse o que tinha, será que precisaria de coisas novas?
Participante: a culpada disso é a televisão que fica mostrando a propaganda de móveis novos…
Não seja tão rápido em sacar a sua arma, ou seja, não seja tão rápido na crítica. Lembra-se do que eu falei? Não são só os meios de comunicação que fazem a propaganda. A pessoa que tem um sofá novo também faz a propaganda que constrange quem tem um rasgado.
Como você é rápido no saque da arma, lhe digo: ainda não critique esta pessoa. Não a chame de propagandista da oferta do mundo que acaba levando outro ser ao constrangimento.
Imagine que quem tem um sofá rasgado vá à casa de alguém que comprou um novo. O fato de a amiga ter o objeto do sonho poderia ser o causador do sofrimento daquela pessoa, mas isso ainda não é real. Acontece que a pessoa visitada queria comprar um modelo mais luxuoso. Como não teve condições financeiras para isso, também se constrange com o sofá que tem.
Aparentemente ela está fazendo propaganda de um sofá novo, mas por dentro também está sofrendo porque não conseguiu comprar um melhor do que aquele. Sendo assim, ela também não pode ser considerada como culpada da propaganda. Na verdade se há um culpado em qualquer situação da vida é o próprio ser humano e a culpa dele se constitui em não valorizar o que tem.
Valorizar o que cada um tem é a única saída para se ser feliz nesta vida, principalmente agora que um novo tempo, que será marcado pelo ataque aos desejos de cada um gerando carências, se instala sobre o planeta. Não fazer isso em discurso para os outros, da boca para fora, mas valorizar tudo o que é, tem e faz para si mesmo. Para isso diga a si: ‘olha que maravilha o sofá rasgado que eu tenho. Ele é maravilhoso porque é o que tenho e é aquele que na minha intimidade me serve como instrumento do meu descanso’.
Não agindo desta maneira, o ser humano será tragado pelas expectativas que a mente cria, pois a cada dia se cria novas possibilidades, novas coisas e ele não tem condições de acompanhar toda a oferta do mundo. Por isso, sofrerá. Sem valorizar o que tem haverá sempre algo novo para substituir o elemento que o ser humano possui e como não conseguirá possuí-lo sofrerá.

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