quarta-feira, 22 de abril de 2015

O fruto da ação

Participante: ontem você falou conosco sobre a faculdade espiritualista de vida e definiu bem uma coisa que eu estava passando. Na verdade até assimilarmos bem seus ensinamentos erramos. Eu fui fazer uma prova, achei que tinha saído muito bem nela e no dia seguinte quando fui conferir a prova cheguei à conclusão que o gabarito tinha que estar errado. Eu fiquei chateada porque tinha me esforçado muito, por ter estudado muito e na hora do vamos ver, me enganei completamente. Eu fiquei frustrada. Até chegar à conclusão que não era para passar, sofri um inferno astral.

Isso é coisa que acontece mesmo. Deixe-me, então, falar mais dessa faculdade espiritualista de vida. Venho falando sobre este assunto há algum tempo disso. Aliás, começamos a conversar na sua casa na vez que conversamos sobre vencer o anseio humano.


O que deixamos bem claro ontem é que um momento humano é composto por três coisas: o momento físico, que é o ato, a movimentação que acontece; o momento racional, que é a razão falando sobre a movimentação, dando valores a ele, dando soluções e comentários sobre ele; e o fruto da ação mental, que é o que chamam de emoção. É a depressão, o medo, a angústia, a preocupação, o gostar, o achar bom, o gozar. Esse é o fruto da ação e não a própria. A ação é o ato físico e o comentário mental que dá valor à ele. O ato físico em si não possui valor. Ele é um ato.


O que é mexer o braço? É o momento que o bração faz. Isso não tem valor específico. Depois que a mente gera um comentário e descrição sobre esta movimentação é que ela ganhar um valor específico.
A movimentação física do braço pode se tornar um apanhar, um bater, um tomar, um dar, de acordo com o valor que a razão mental atribuir a ela. Esse comentário gerado pela mente é que dá valor à movimentação física.


Até aqui para aquele que quer aproveitar esta encarnação e promover a sua elevação, ou seja, quer ser espiritualista, não há problema de forma alguma. Isso porque a movimentação e o comentário são o cabeçalho da prova. O resultado da ação ou fruto da ação, como Krishna chama, é que é danoso para quem pretende alcançar a perfeição nesta encarnação. Vou dar um exemplo para ficar mais claro.


Estava conversando outro dia com uma pessoa. Ela me disse que estava preocupada porque, no seu trabalho, estava ouvindo determinadas que os seus colegas expõe e não estava conseguindo aguentar a hipocrisia do que era dito, e por isso respondia a estas pessoas. Essa pessoa dizia que dava as respostas, mas depois ia analisar o que tinha feito frente ao que nós ensinamos e ficava chateada, pois achava que não tinha que dar resposta alguma, já que todos têm o direito de ser, estar e fazer o que quiser.


O que disse para esta pessoa é que dar resposta ou não é vida e é ação para quem vai receber. Se a pessoa precisa e merece receber aquilo, ela teria que fazer, querendo ou não, achando bom ou não. Além do mais, não há nada de errado em fazer isso.


‘Mas, dar a respostas atravessadas está contrário ao que você ensina’, ela me disse. Continuei insistindo: isso não tem problema. Você pode dar qualquer resposta aos outros porque isso é só ação, é só ato. Agora, o que não pode é comer o fruto da sua ação.


Qual o fruto da ação neste caso? Achar que o que fez é ruim, que não devia ter feito, se culpar, imaginar que feriu o outro, etc. Isso é o que você não pode viver neste acontecimento, porque é isso que faz mal à sua saúde espiritual.


Participante: é o resultado.


É o fruto da ação.


Porque isso faz mal à sua saúde espiritual? Porque essa reação sua é fundamentada no egoísmo. A resposta, não. O que foi falado não é fundamentado no egoísmo dela, mas sim a participação na obra geral. É o que o outro precisava e merecia para que o seu mental oferecesse um fruto da ação e aquela pessoa tivesse a oportunidade de não aceitar.


Achar errado o que disse ou imaginar que não devia ter falado é alimentar-se do seu próprio egoísmo. É viver à partir das próprias verdades. Isso porque, essa pessoa acredita no que ensino. Por isso, usar o que ensino para julgar o outro ou a si mesmo é um ato egoísta.


Participante: estas três etapas que você está falando, são do que mesmo?
São as três etapas do acontecimento. Ele é composto pelo ato físico, o comentário e valor que a mente dá sobre o ato físico e o fruto deste comentário.


Participante: só para ver se entendi direito. Uma pessoa fez alguma coisa que me contrariou. Isso é o ato.
Não. O ato é a palavra que foi usada, a ação que foi realizada. O declarar que o que foi dito é errado ou que aquela movimentação não deveria ser feita, é o comentário. Depois disso vem o fruto do comentário: a ideia de estar contrariada com o que aconteceu.


Participação. Certo. Voltando, ela fez uma coisa que me contrariou …


Não foi o ato físico praticado pela outra pessoa que lhe contrariou. Vamos colocar isso de uma forma diferente, de uma forma onde não exista uma segunda pessoa, porque no fundo é tudo entre você e você mesmo.
Você viu um ato sendo feito. Estava forma de declarar o que está acontecendo é melhor para aquele que não quer comer o fruto da ação, porque enquanto você imaginar que outra pessoa fez alguma coisa, dificilmente vai deixar de acusar o outro.


Então, você viu um ato, uma movimentação física, uma ação humana. Esse ato que foi percebido, foi alvo de um comentário pela sua mente. A partir daí, a mente oferecerá um fruto deste comentário. Por exemplo. Digamos que a sua mente tenha dito que aquela movimentação não deveria ter acontecido, ou que ela é um ataque à você.


Participante: ela diz que está certo ou errado, que eu gosto ou não.


Não é isso. Para a compreensão do comentário que a mente faz sobre o que está acontecendo, o gostar não pode ser usado, pois ele já um fruto do comentário. Você vê errado e como fruto dessa forma de ver, gosta ou não.


Participante: o compreender como errado vai produzir um resultado.
Sim, o certo ou o errado produzem um resultado e é ele que é o fruto da ação que Krishna diz que você não deve comer. É ele que é a prova do espírito.

Somente tens direito ao trabalho, não a seus frutos. Que esses frutos nunca sejam o motivo de seus atos, e nunca deverás ficar inativo.

Faça as suas ações no melhor de suas habilidades, Ó Arjuna, com sua mente ligada ao Senhor, abandonando a preocupação e o apego egoísta para os resultados, permanecendo calmo tanto no sucesso como no fracasso. O serviço sem egoísmo traz paz e tranquilidade da mente, que conduz a união com Deus.


O trabalho feito com motivo egoísta é inferior e está longe do serviço desapegado. Portanto, seja um trabalhador desapegado, Ó Arjuna. Aqueles que trabalham apenas para o gozo dos frutos dos seus trabalhos são infelizes (porque não se tem controle sobre os resultados).


Um carma-iogue, ou uma pessoa desapegada, torna-se livre tanto da virtude como do vício em sua vida. Portanto, esforce-se por serviço desapegado. Trabalhar o melhor das suas habilidades, sem apegar-se egoisticamente pelos frutos do trabalho, chama-se Karmayoga ou Seva.


Os carma-iogues estão livres do cativeiro do renascimento, devido a renúncia do serviço desapegado aos frutos de todo trabalho, alcançando um divino estado de salvação ou Nirvana.


Bhagavad Gita – Capítulo 2 – versículos 47 a 51

Se o mundo de provas e expiações e o de regeneração está ligado ao egoísmo, o fruto da ação é a sua prova, pois quando o aceita, você utiliza-se do egoísmo. Até então, ou seja, na movimentação física e no comentário que a mente gera, você não é um egoísta, porque é a sua mente que está trabalhando e não você.
Como já disse diversas vezes, a mente não é egoísta: ela propõe egoísmo. Você se torna egoísta quando aceita o fruto que ela lhe oferece, o fruto da ação mental.
Participante: complicado, não?


Não, não é. Trata-se apenas de parar de achar que alguém fez alguma coisa e que você sabe qual é o certo a ser feito. Quando fizer isso, você não terá culpas nem culpados e com isso estará livre de ter que comer o fruto da ação. Agora, enquanto imaginar que alguém faz alguma coisa e que o que é feito pode ser considerado como certo ou errado, você inevitavelmente comerá o fruto da ação.


Participante: voltando ao que estava falando sobre a minha participação recente num concurso, devo, então, reconhecer a frustração como fruto de uma ação.


Isso. Deve reconhecer que a frustração é o fruto de uma ação que a mente está lhe oferecendo.
Participante: como trabalhar para não ter esta emoção?


Agindo contra o comentário dentro das lógicas humanas. Vou falar mais disso.
Você foi fazer uma prova. Antes disso com certeza dedicou-se a estudar para se preparar. No dia da prova acordou e chegou no local em tempo para fazer a prova. Tudo isso é ato.


Depois que acabou de fazer, imaginou que tinha se dado muito bem, que tinha conseguido passar. Isso é comentário ao ato.


Agora constata que não passou. Resultado: frustração. Mas, porque você tem que se sentir frustrada se fez tudo o que precisava fazer? Porque se sentir frustrada se estudou, buscou se preparar e estar lá à tempo para fazer a prova? Porque se sentir frustrada, se você sabe que a sua dedicação não leva obrigatoriamente a vida a acontecer de um jeito, já que sabem que a vida caminha por si mesmo e não dentro de uma lógica humana? Porque se sentir frustrada se você acredita em encarnação e por isso sabe que a vida segue uma programação feita antes do nascimento?


Estes são alguns argumentos que pode usar para libertar-se de ter que viver o fruto da ação. Alguns, porque o argumento específico que deve usar eu não posso lhe ensinar Você precisa busca-los nos ensinamentos dos mestres, dentro de suas crenças ou qualquer coisa que queira, mas sempre usando algo que lhe gere uma caminho para que aceite o fruto da ação.


Só que isso é individual. Eu não posso lhe dar motivos dentro de um padrão, porque senão o que disser pode não ter efeito para você. Uns trabalham com a ideia de que Deus é a Causa Primária, outros com a ideia de estarem vivendo uma encarnação e que por isso possuem uma história de vida planejada anteriormente. Cada um tem uma ideia que a sua mente comprou mais, acreditou mais e é ela que deve ser usada. O que você sabe, o que acredita, é a arma que precisa usar junto ao comentário que a mente faz para que liberte-se do comer o fruto da ação.


Então, não posso lhe dar uma forma padrão para combater o comentário da mente. Isso é preciso que descubra em você mesmo. O que posso lhe dizer é que o que é realmente necessário é que reaja de alguma forma à frustração. Se não fizer isso, sentir-se-á frustrada com certeza.


Só há algo que é comum em todos nesta luta: o fato de não aceitar a frustração como algo que você está sentindo. Imaginando que a frustração é um sentimento seu, se sentirá frustrada com certeza. Se não deixar de se identificar com a emoção, não deixará de sofrer nunca, porque se imaginará frustrada. Se não ver que só ficou frustrada porque aceitou a frustração oferecida pela mente, sempre se sentirá frustrada

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