segunda-feira, 13 de abril de 2015

Como dialogar com as pessoas sem desagradar?

Participante: como se pode dialogar no mundo de hoje onde, por mais que você se esforce, vai estar sempre desagradando alguém com o que fala?
Falando sem intenções.
Participante: mas, o outro se sente ofendido com o que falamos e nós, presos às razões, nos magoamos. Sabemos que falamos sem intenção, mas o outro não sabe. Quantas vezes elaboramos cuidadosamente o que vamos falar e em contrapartida o outro se sente ofendido com o que foi dito.
Você falou de mais dois ou três assuntos em sua pergunta, mas ainda assim fica fácil falar da intenção.
Diga-me uma coisa: em uma roda como estamos aqui será que o que você disser magoará as todos? Não. Alguns se sentirão magoados, outros não. Não é assim?
Participante: correto.
Sendo assim, pergunto: você magoou alguém?
Participante: de certa forma sim, magoei alguma pessoa…
Não, se você tivesse a capacidade de magoar ou se suas palavras tivessem este poder, teria magoado a todos. Se alguns se magoaram e outros não, posso dizer que só sentiu esta emoção quem escolheu senti-la, ou seja, escolheu ficar magoado com o que você falou.
Na verdade não foi você quem magoou ninguém: o ego de quem recebeu sua ação, para poder criar uma realidade que servirá como prova para um espírito, escolheu a sensação de mágoa para reagir ao acontecimento ‘você falar’.
Na prática, o que aconteceu é que o ego do alguns espíritos disse a eles que o certo seria sentirem-se magoados naquele momento. Fez isso porque esta é a programação da aventura daqueles espíritos. Agora, o ego de outros, pelo mesmo motivo, disse aos seres que estão ligados, que não. Isso é o que está acontecendo na Realidade, no Universo, enquanto você está vivendo o falar e os outros o ouvir.
No Universo, longe das percepções que o ser humanizado pode ter, dos espíritos que estão participando deste acontecimento, alguns estarão ocupados em promover a sua reforma íntima. Estes, se lembrarão de desapegar-se das razões criadas pela personalidade humana à qual está ligado durante a aventura encarnatória. Com isso não se sentirá magoado.
Outros seres, aqueles que não estão neste momento vigilante quanto ao fato da elevação espiritual, ou seja, que não se preocupam com a reforma íntima, viverão a sensação gerada pela personalidade transitória. Com isso, além da personalidade, o espírito se sentirá magoado. Mas, a vivência dessa mágoa não é culpa sua.
O ego cria a sensação de ficar magoado porque esta é a prova de um espírito e o ser universal fica magoado porque não cumpriu o que Cristo ensinou (orai e vigiai): que culpa você tem? Por isso pergunto novamente: você magoou os outros ou eles se magoaram?
Essa é a primeira realidade que surge quando analisamos o mundo material a partir da realidade de ser apenas um mundo de encarnações e não um planeta com vida autônoma: ninguém é capaz de fazer nada a ninguém.
Se o outro decidir não receber o que você está fazendo de um determinado jeito, não viverá as emoções que o ego cria. Mesmo que você tenha a intenção de magoar, se o próximo estiver desperto e vigilante, não será capaz de magoá-lo. Se o próximo não aceitar a mágoa, você não magoa ninguém.
Por isso disse: a coisa mais importante na reforma intima é compreender que ela é a mudança do interno e não do externo. Quando o espírito se conscientiza disso deixa de se preocupar com o externo e passa a estar sempre atento ao interno.
Quando isso for sistemático para o espírito, ao ser criada a propositura racional de que se magoou alguém, o que será prontamente seguido da proposição da culpa, o espírito dirá: ‘isso é o meu ego que está dizendo e, por isso, tenho que me libertar dessa ideia’. Com isso, elimina duas sensações de uma só vez: a de ter ferido alguém e a culpabilidade.
Compreendeu? Esse é o primeiro detalhe na sua pergunta. Mas, como disse, existem outros assuntos embutidos nela. Permita-me comentá-los.
Segundo detalhe de sua pergunta: fico pensando em como falar com os outros. Por que você faz isso?
Participante: as vezes uma pessoa é querida e outras detestadas. Para não ferir aquelas que amamos, precisamos pensar em como falar.
Como diria Krishna, sua resposta parece até de um sábio, mas não é.
A razão humana diz que devemos agir com prudência para não magoarmos os outros. Apesar sido, quantas vezes você já ficou pensando como falar com determinada pessoa, encontrou uma forma de não magoá-la com suas palavras, mas quando falou saiu tudo diferente.
Participante: verdade. Quantas vezes estudei profundamente o que tinha que falar e no momento que falei saiu tudo diferente.
Por que isso acontece? Porque o ato acontece independente do que você queira que aconteça.
O que você vai falar para os outros acontece independente da sua vontade. A forma como as coisas acontecem não depende de você.
Lembre-se do que falamos até agora a respeito da encarnação ou vida humana: ela se consiste de realidades que são criadas pelo ego para a provação do espírito. Então, você não pode escolher palavras: só pode escolher se aprisionar ao ego ou não.
Você, ego ou espírito, não pode escolher palavras. É por isso que a personalidade humana decora um discurso para falar com os outros e quando participa da ação acontece tudo diferente. Quando isso acontece, a personalidade humana cria novas provas para o espírito: a contrariedade, a culpabilidade, etc.
Este é a minha resposta à segunda questão que você levantou com sua pergunta. Mas há mais uma. Você diz: depois eu fico chateado por que magoei os outros.
Quem é que ficou chateado? Você, a personalidade humana. Ficou chateado porque magoou o outro? Não. Ficou chateado porque a sua razão diz que você não deveria ter magoado o outro.
Na verdade você não está chateado por magoar, mas porque achava que não deveria magoar e isso acabou acontecendo. Ou seja, ficou chateado porque as coisas não saíram do jeito que você queria. Isso se chama individualismo. Foi ele que lhe fez sentir-se magoado e não o que os outros viveram a partir da sua ação.
Mas, quem ficou mesmo chateado com isso? A personalidade humana e não você, o espírito. Mesmo que o ego diga que você, o espírito, ficou chateado, não acredite nisso. Lembre-se: a personalidade humana não conhece as coisas do mundo espiritual. Por isso, como ela pode saber se o espírito ficou chateado ou não?
Na verdade, quem criou a sensação de ficar chateado foi o ego. Agora, repare num detalhe: ele criou a sensação de estar chateado; isso não quer dizer que ele ficou.
O ego não sente nada: ele cria sensações como provação para o espírito.
Volto a repetir: tudo é interno, tudo é dentro de você. Todas as realidades do mundo que você, a personalidade humana, diz que vive quando conversa com os outros e expôs na sua pergunta (escolher palavras, magoar os outros e se sentir triste por ter magoado alguém) são, na realidade, criações ilusórias do ego e não atos ou ações reais. Por mais que acredite estar acontecendo externamente a você, creia, está ocorrendo apenas no seu interior.
Depois das suas ações gerando realidades, acontecimentos, o ego vai criar novas provas para o espírito. Estas provas estabelecerão uma nova forma de proceder, ou seja, ‘tenho que pensar melhor antes de falar’, ‘tenho que não me meter na vida dos outros’, etc.
Mas, apesar destas conclusões tão bonitas que ele gerou, pergunto: você pode deixar de fazer alguma coisa? Não, porque você, a personalidade humana, vai sempre realizar o que for preciso para a provação do ser universal, independente da sua vontade. Afinal de contas, você é a grande aventura do espírito e não um elemento do Universo.
Quem precisa se preocupar com alguma coisa durante o transcorrer das atividades carnais é o espírito e não você, a personalidade humana. Como já vimos, esta preocupação não deve ser em alterar a forma de agir do ego, pois isso ele não pode mudar. O espírito precisa se ocupar em mudar-se internamente, ou seja, a forma como reage às proposituras do ego.
Aliás, a sua pergunta mostra bem quem é você: uma personalidade humana. Digo isso porque as suas razões denotam uma preocupação com mudanças externas. Você está querendo mudar por fora (o que faz) e não o seu interior.
Mas, você não pode mudar nada, não é mesmo? Você, uma personalidade humana, precisa ser do jeito que é para que um espírito tenha sua provação.
Ele, que também é você, é que deve mudar-se. Ele é que deve deixar de se apegar às coisas criadas pelo ego, alcançando, assim, o espiritualismo.
É ele que precisa deixar de acreditar que fez alguma coisa e atingir o nada sabe a respeito de qualquer coisa neste mundo. Ele é que deve dizer assim: ‘eu não falei, palavras saíram’; ‘eu não ofendi, o outro é que sentiu ofendido’.
Agora, se o outro se sentiu ofendido com o que você disse, isso não é um ato de desamor? Isso não é errado? Não: se ele, o espírito, se sentiu ofendido foi porque não se libertou da criação da sensação de ter sido ofendida gerada pelo seu ego. Por isso, não podemos chamar esta atitude dele de erro.
Apesar da razão humana dizer que ser agente para que o outro se sinta ofendido é mal, o espírito não deve cair nesta arapuca. Não deve dar crédito à ação do ego que quer obrigá-lo a se sentir mal porque, ilusoriamente, a ação terminou com alguém se sentindo ofendido. Pelo contrário: esta forma de ver as coisas do mundo é uma prova do amor verdadeiro ao outro.
Lembra-se que definimos que para a existência do amor real é preciso se dar liberdade ao outro de ser, estar e fazer o que quer? Se você sofre porque ele se magoou, está dando a ele a liberdade de se magoar? Dar a ele liberdade é não se constranger com o sofrimento alheio: ‘se ele quer se magoar, problema é dele. Por mim, ele é livre para viver o que quiser. Eu não vou sofrer porque ele está sofrendo’.
Joaquim de Aruanda

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