quarta-feira, 8 de abril de 2015

Dar razão ao próximo

Participante: o senhor nos ensina que devemos doar a razão ao próximo. Isso se consiste em deixar o outro fazer o que quiser, mesmo que isso me prejudique. Agindo assim, chega um tempo em que se você não coloca para fora o que está sentindo isso toma grandes proporções. Como agir?
É justamente na hora que o que é feito pelo outro cria uma reação dentro de você que chega a sua hora de trabalhar em prol da sua felicidade. Vou explicar isso…
Sentir que está sendo prejudicado pelos outros é normal, a mente sempre irá criar. No momento que esta criação lhe chega ao consciente é que é a hora de você trabalhar a sua relação com o mundo mental a questão do sentir-se prejudicado.
Com relação ao outro, esqueça-o, pois ele não existe. Todo o seu trabalho nada tem a ver com o outro, mas ele é realizado somente em você por você mesmo. Não sei se vocês já tomaram conhecimento de um trabalho que fizemos durante o estudo de O Livro dos Espíritos. Neste trabalho falamos da função espelho, ou seja, dissemos que o próximo é um espelho seu. Todos com que você se relaciona são espelhos que refletem você. Não o você externo, mas o seu interno, aquele que nem você vê. Vou lhe explicar isso…
Digamos que alguém tenha feito alguma coisa e você se sentiu prejudicado. Neste momento tenha a consciência de que ele naquele momento só serviu para refletir alguma coisa que está dentro de você, para levar ao seu consciente algo que está presente no seu mundo interno e que nem tinha conhecimento. No momento em que a mente cria a idéia de ter sido prejudicado, afaste o agente daquela situação e vire-se para o seu interior.
Tendo se sentido prejudicado, raciocine sobre isso. O que é sentir-se prejudicado? É imaginar que perdeu alguma coisa. Para que a idéia de ter perdido é necessário que haja no seu mundo mental a idéia de ter algo. Sendo assim, o que aquele espelho está fazendo ao agir daquela forma na sua frente é mostrar-lhe que ainda imagina possuir alguma coisa. Eis, então, a hora de executar o seu trabalho.
Aquele que quer amar-se e que quer viver em felicidade precisa trabalhar a idéia de possuir qualquer coisa, pois enquanto esta consciência existir em algum momento ela será usado para lhe dar a sensação de ter sido prejudicado. Vou dar um exemplo para a coisa ficar mais clara. Digamos que você tenha uma carteira de documentos. Digamos que alguém a tirou. Isso com certeza lhe levará a viver a consciência de ter sido prejudicado.
Por que isso acontece? Porque imaginava que a bolsa é sua, lhe pertence e quando ela não está mais em seu poder a sensação de prejuízo aparece. Agora, se você viver apenas a idéia de que detém a guarda da carteira, no momento que ela não estiver mais sob a sua, poderá contentar-se em saber que ela agora está sob a guarda de outra pessoa. Por isso afirmo que a sensação de prejuízo com que vive o fato de não ter mais carteira não foi causada por quem a tirou, mas pela existência dela lhe pertencer.
Eis aí o que a função espelho executa. A pessoa agindo frente a você lhe mostra o que no seu mundo interno lhe causa desconforto. Enquanto estivermos preocupados com o que o outro está fazendo não conseguiremos vencer a nós mesmos para nos mantermos em paz. Só quando entendermos a ação do próximo como um instrumento para refletir nosso mundo interno podemos encontrar o caminho para a vivência em paz e harmonia.
Quando falei com as pessoas inicialmente sobre a comunidade disse a elas que era uma ótima oportunidade para trilharem o caminho da felicidade. Como? Usando as ações dos outros com quem convive para descobrir o que vai no seu mundo interno. Só assim poderão se conhecer a ponto de combater a raiz do seu sofrimento. Mas, o que foi que aquelas pessoas fizeram? Firam criar padrões de ação na vida comum. Que padrões cada um queria por no código que regeria a via na comunidade? Aquele que estivesse de acordo com as suas concepções, com as suas verdades. O que aconteceria se o companheiro aceitasse a regra? Jamais vocês teriam chance de conhecer o seu mundo interno e descobrir o caminho que precisam seguir para alcançar a plenitude da felicidade.
A vida em comunidade que serve como instrumento para a caminhada no sentido de aproximar-se de Deus é exatamente contrária àquela que vocês imaginam. Ao invés de eliminar as possíveis zonas de atrito entre as pessoas, quem se dispõe a viver uma vida comum precisa se expor à crítica e ações prejudiciais dos outros. Só assim a função espelho se pronunciará e cada um saberá o que precisa fazer.
Acho que foi por isso que cristo ensinou:
“Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores”. (Mateus, 5 11)
Face a tudo que falamos, posso dizer que cada vez que alguém lhe dá um prejuízo, na verdade, você está tendo uma oportunidade de reconhecer que verdade sua está fazendo surgir dentro de você esta sensação. Digamos que num trabalho de grupo alguém tenha feito menos do que era esperado. É por isso que você se sente prejudicado? Não. O que lhe causa a sensação de prejuízo é o fato de contar que ele produzisse determinada quantidade. Se você não contasse com isso, não importa o quanto ele fizesse, não se sentiria prejudicado.
Mesmo que uma pessoa lhe afirme que produzirá determinada obra, não acredite nisso. Pode ser que, mesmo com todo esforço dele, não seja possível completar o trabalho e aí você sofrerá. O que lhe causa este sofrimento não é o que ele produz, mas sim a expectativa que você criou no quanto ele produziria. É ela que vai justificar a sensação de prejuízo que a mente criará e não o serviço executado pelo outro.

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