sexta-feira, 10 de abril de 2015

Relacionamento em grupo

Participante: mas, ainda dentro da questão que exista apenas uma pessoa que esteja em desacordo com o pensamento do resto do grupo, digamos que haja uma atividade comum e por conta do trabalho desta única pessoa o grupo não alcance o seu objetivo. Assim mesmo as pessoas não devem reclamar deste?
Não, não devem reclamar… Vou explicar isso…
Vejamos uma opção onde um grupo, onde você esteja incluído, tenha que produzir num trabalho dez unidades de alguma coisa. Claro que a atividade pode ser para realizar algo que não possa ser medido, mas apenas para facilitar nossa conversa vamos tratar o trabalho deste grupo como o de produzir algo mensurável. Apesar do plano de produzir dez unidades, digamos que tenha conseguido apenas nove porque uma das pessoas não produziu o esperado.
Pergunto: porque a produção de nove se reflete em você como pouco?
Participante: porque faltou o trabalho daquela pessoa…
Não, não é por isso. Na verdade, você sofre com a produção de nove unidades porque estava esperando produzir dez.
Veja como o ser humano é interessante. Ele joga fora a felicidade de ter conseguido produzir nove unidades de qualquer coisa por causa de apenas uma unidade que faltou para completar aquilo que era esperado. O grupo conseguiu se reunir e produzir nove unidades, mas ao invés de louvar este fato, simplesmente joga no lixo todo o esforço despendido para esta produção apenas porque falou uma unidade.
Se hoje este grupo conseguisse produzir nove, mesmo esperando fazer dez, e amanhã produzisse a mesma quantidade e por uma semana inteira conseguisse diariamente a mesma produção, veja que maravilha de resultado seria conseguido. Mas, não, você reclama que o grupo não produziu o esperado, mesmo que o que deixou se ser feito seja uma ínfima quantidade, e com isso corre o risco de amanhã produzir nenhum por conta do desânimo que se abateu pela produção de hoje.
Portanto, o problema não é aquela pessoa – dentro da lógica humana ele é o culpado pela produção de nove unidades – mas sim você, o desânimo com o qual vivenciou a produção de nove unidades seja lá do que for. O seu desânimo é o problema, porque amanhã ele pode lhe influenciar e ao invés dos nove acabar produzindo oito, o que, face à forma como se recebeu a produção de nove, será considerado um desastre total.
Voltando, então, à sua pergunta, eu afirmo que não há o menor problema na ação de alguém que não leva o grupo a realizar o que é planejado, mas sim nele esperar por determinada produção. Se este grupo não tivesse expectativa com relação à quantidade a ser produzida, com certeza qualquer conquista seria comemorada e assim ninguém seria criticado por seu trabalho. Esta é a minha resposta ao seu questionamento, mas vamos aproveitar a oportunidade e ligar nossa conversa de agora com o que vamos falar ainda hoje.
Na verdade, e isso é uma característica do ser humano, quando você o acusa de ser o responsável por não atingir o objetivo pretendido pelo grupo, está desrespeitando o trabalho dele. Como disse, esta é uma característica do ser humano: ele não respeita o trabalho dos outros quando o que pretende não é conseguido. Mas, este ser trabalhou e com isso contribuiu para as nove unidades produzidas.
Com este desrespeito o que conseguiu na realidade é desestimulá-lo para o trabalho do dia seguinte e com isso a produção do grupo vai diminuir no dia seguinte. Como ele trabalhará menos por conta da falta do estímulo, você o criticará mais e com isso a produção no terceiro dia cairá ainda mais. Quem foi que saiu perdendo? Todos. O grupo, porque cada dia vai produzir menos, e aquela pessoa porque além de trabalhar terá que aceitar as críticas dos outros.
Repare: aquele elemento pode ter trabalhado menos que os outros, mas mesmo assim realizou algum esforço. Ao não premiar este esforço – não falo em elogiar, mas pelo menos não criticar – você contribuiu para que o grupo produzisse menos no dia seguinte e ainda coloca a culpa sobre os ombros do outro.
Voltando, então, à sua pergunta, o grande problema dos grupos humanos não é a existência de uma pessoa que trabalhe com menos dedicação e por isso produza menos, mas sim o grupo ter a expectativa de determinada produção. Quando isso existe e a produção não é alcançada, logo será descoberto um bode expiatório para levar a culpa do não atingir a meta. Com isso, ao invés de glorificar o que foi produzido, o grupo sofre com a ausência do que não foi.
Quero apenas lembrar o que já disse por diversas vezes. Se em qualquer momento da existência houver um culpado pelo acontecimento, tenha certeza de que este é você. Tenha, ainda, a certeza de que esta culpa está sempre ligada à expectativa com a qual você vivencia os acontecimentos do mundo.
Ao falar tudo isso pode ter a certeza que não estou criticando ou acusando qualquer um do seu ou de qualquer grupo. Estou apenas ajudando a todos que queiram viver numa comunidade sem regras, mesmo que ela seja feita apenas por duas pessoas que se encontram casualmente, a vivenciar o relacionamento com felicidade. Para que a felicidade esteja presente na vida dentro de uma comunidade, com qualquer quantidade de pessoas, é preciso que o ser humano se desprenda de suas expectativas. Só assim, a contribuição de qualquer um para o bem comum, mesmo que seja menor que a de outra pessoa, será sempre glorificada e não criticada.
Além do mais, como falar de algo fundamentado numa ausência de regras se ainda há uma expectativa de produção? A expectativa de produzir dez peças que alguns do grupo tem se transforma numa regra e com esta vivência o objetivo de uma comunidade onde todos sejam livres acaba.
Joaquim de Aruanda

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