quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O espírito já é perfeito em si

Participante: aprendi nas doutrinas orientais que o espírito já é perfeito em si. Ele possui amor, paz e outras qualidades inatas. Qual a razão do ego existir sendo que a essência do ser é perfeita e por isso não há perfeição a ser alcançada? Seria a encarnação como um playground para o espírito?

Primeiro, as doutrinas orientais não falam em espíritos, mas sim em ser. Espírito é uma idéia específica do espiritismo. As doutrinas orientais não tratam o elemento universal da mesma forma que você, que conhece o espiritismo. 

Segundo detalhe: as próprias doutrinas orientais monistas falam que o espírito é uno, único e estável. Por isso não podemos dizer que o elemento universal com que elas trabalham tenha amor, paz ou raiva. Ele é uno e único, ou seja, é sempre a mesma coisa. O que este ser tem você pode chamar do que quiser, isso não importa. O que realmente importa é você ter a consciência de que ele não possui variações.

Terceiro aspecto que quero levantar a partir da sua pergunta. O próprio Buda explica a necessidade da reencarnação falando que o ser universal ao longo de sua existência se suja, se polui com as criações dos cinco agregados. O espírito, que eles chamam de ser universal, se polui quando se apega ao ego. Sendo assim, quando o espírito encarnou na primeira vez ele se suja e por isso precisa de uma nova encarnação para se limpar. 

Agora repare que eu falei em sujar-se e não em alterar a sua essência. Como disse, para estas doutrinas o espírito é uno, único e estável, ou seja, permanece sempre inalterável. Só que quando ele se polui, precisa se limpar. Para isso é que existem as encarnações. Elas não existem para que o espírito alcance nada, pois ele já é tudo o que pode ser, mas para que o ser se limpe da poluição adquirida em uma encarnação anterior.

Portanto, a cada nova encarnação o espírito tem a oportunidade de limpar-se da sujeira adquirida com a anterior. Não conseguindo limpar-se totalmente ou ainda adquirindo mais sujeiras, este ser precisa encarnar novamente para fazer este trabalho. Com isso se estabelece a roda das encarnações ou sansara que tanto Krishna quanto Buda, os mestres orientais, afirmam existir.

A sansara ou roda de encarnações, portanto, é um processo de limpeza do espírito e não de melhorar a sua pureza. A essência do espírito não se altera com o resultado das encarnações, mas apenas a sua poluição. 

A partir de tudo isso que lhe falei, posso dizer que o processo encarnatório trata-se de um instrumento para o espírito retornar à grandeza que já é e não se elevar interiormente como vocês acreditam. 

Joaquim de Aruanda

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