quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

As escolhas do espírito

Além dos conceitos inerentes a cada papel da vida humana, as funções que o espírito exerce durante a grande aventura também são medidas por outros conceitos. Ou seja, cada um dos papéis que um ser humanizado pode vivenciar durante a encarnação são distinguidos com pesos ou valores conceituais diferentes. Vou dar exemplos do que estou dizendo. 

O papel de médico é muito mais valorizado na vida carnal do que um de lixeiro. O papel de proprietário de imóvel é mais valorizado do que o de inquilino. O de mestre ou professor é mais valorizado que o de analfabeto. 

Sendo assim, posso dizer que para as personalidades humanas existe uma escala de valorização para cada papel. Isso acontece para os seres humanos, mas, para o espírito que se prepara para a sua aventura, essa escala de valorização material não tem valor algum. 

Nenhum espírito pede para vivenciar o papel de médico, por exemplo, pela vontade de ser médico ou pela valorização desse papel frente à sociedade que irá conviver. Nenhum espírito pede para vivenciar a sua existência carnal em um papel de rico ou de pobre pensando como o ser humano pensa, ou seja, valorizando as coisas como o ser humano valoriza. 

O importante para o espírito não é o valor material que se dá a cada papel, mas se aquele personagem que irá vivenciar será instrumento fiel da sua provação. 

Então por exemplo, o espírito que precisa vencer a soberba de se imaginar deus, ser superior a tudo e a todos, que se imagina com a capacidade de dar a vida ou a morte para as pessoas, poderá vivenciar o papel de médico. No entanto, isso não acontecerá porque – vou usar palavra de vocês – ele está de olho grande no conforto material que essa profissão trará ou na repercussão do que ele poderá fazer em benefício da saúde dos outros, mas sim porque estas características são exatamente o que ele precisa para a sua provação.

Isso é importante: Deus só escolherá um papel para o personagem humano do espírito se ele contiver as características necessárias para que aquele ser possa fazer a prova que pediu para fazer. Isso é fundamental para se entender a grande aventura do espírito.

Digo isso porque essa escala de avaliação dos papéis é acompanhada na razão humana do conceito de que viver um papel bem avaliado é estar bem de vida. Os seres humanizados imaginam que aqueles que possuem fama, prestígio, saúde ou objetos materiais estão bem de vida e, por isso, imaginam, também, que os espíritos libertos da ação do ego se preocupam em ter estas coisas. Isso é uma ilusão.

Esta ideia é tão forte que até nos círculos espíritas, daqueles que compreendem que a vida é uma encarnação, a encontramos. Em O Livro dos Espíritos, logo depois do Espírito da Verdade afirmar que o espírito tem conhecimento do que viverá na encarnação porque escolhe o gênero de suas provações, Kardec pergunta: sendo assim, não seria lógico que todos escolhessem uma vida nababesca? O ser liberto da carne (Espírito da Verdade) dá então a lição: não, pois o que move o espírito liberto do ego não é o benefício material, mas o anseio de sair da sua maior aventura tendo realizado os objetivos pelos quais ele encarnou.

O espírito livre da ação da personalidade humana que sabe que é necessário para a sua elevação vivenciar uma existência onde haja penúria, sofrimento e doença, se entrega a ela em júbilo, sem desejar nada diferente.

Se para alcançar o seu ideal (aproximar-se de Deus) o espírito sabe que vai vivenciar uma personalidade humana que tem o corpo coberto de chagas, como faz a lepra, ou ainda a de um mendigo que vive andando no meio da rua em extrema carência, ele se entrega a tudo isso com o sorriso nos lábios, se tivesse boca para sorrir. 

Joaquim de Aruanda

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.