segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Aquele que conheceu o mundo encontrou um cadáver

“056. Disse Jesus: aquele que conheceu o mundo encontrou um cadáver, e aquele que encontrou um cadáver, o mundo não serve para ele”.

“aquele que conheceu o mundo”

Todos os enviados de Deus afirmaram e afirmam que o ser humano é mais do que se imagina. Chamaram a esse “mais” de alma ou espírito. Não importando a palavra, o que eles afirmaram é que o ser humano é composto por matérias carnais que possuem um prazo determinado de existência e alguma coisa a mais que tem eternidade. É este “algo mais” que muitos seres humanos não conseguem identificar, não conseguem achar dentro deles mesmos.

Kardec nos deixou o ensinamento de que existem “três coisas que são o princípio de tudo” (“Livro dos Espíritos” – pergunta 27). Essas três “coisas” são: “matéria, espírito e Deus, o criador, o pai de todas as coisas” (pergunta 27).

Os espíritos em evolução não conseguem ainda compreender Deus porque falta a eles “um sentido” (pergunta 10 do Livro dos Espíritos). A “coisa” matéria é “o laço que retém o espírito; é o instrumento de que ele se serve e, ao mesmo tempo, sobre o qual exerce a sua ação” (pergunta 22). Quanto à “coisa” espiritual, a espiritualidade informou a Kardec que é “o princípio inteligente do Universo” (pergunta 23). 

Tudo o que existe no Universo é composto por estas três “coisas” ou “reinos”: matéria, espírito e Deus.
O ser humano não poderia ser diferente, ou seja, não poderia ser único no Universo. Todo ser humano é composto por elementos destes três reinos. 

Buda Gautama deixou como ensinamento que para se alcançar elevação espiritual há a necessidade de se compreender que tudo no Universo é composto e não único. O ser humano é composto de matérias (minerais, líquidos, gases, vegetais e animais), de espírito e de Deus. Ele não é único, pois tem em si cada uma das demais “coisas” do Universo em quantidades variadas, ou seja, é composto do somatório de todas essas coisas.

“Encontrar o mundo” é querer manter a unidade do ser humano e não compreender a sua multiplicidade, não querer entender a sua composição em “coisas” universais, já informadas a Kardec. Encontrar o mundo é considerar-se ser humano e não um composto formado pelas “coisas” universais.

Para se alcançar elevação espiritual é necessário que se tenha consciência do todo formado pelas diversas “coisas” do Universo. A elevação começa com a consciência da Primeira Verdade Universal: você já é um espírito, apesar de estar habitando uma massa carnal. É preciso abandonar a convicção que só nos tornaremos um espírito quando houver o desencarne.

Toda vida do ser humano necessita ser modificada, pois ela não contempla esta verdade. Jesus nos alertou que devemos buscar possuir bens no “céu” e não na Terra. Levar uma vida em busca da satisfação material, deixando as “conquistas” espirituais para depois do desencarne, é “encontrar o mundo”.

“encontrou um cadáver”

Outro ensinamento de Sidarta Gautama (Buda), nos diz que as “coisas” do Universo não são permanentes: elas se transformam constantemente. Tudo que existe vive uma etapa sob uma forma e na etapa seguinte se transforma. A folha que cai vira adubo, o animal vira alimento. A folha não acabou, mas continuará a “existir” como fertilizante, o animal “viverá” como o alimento para o ser humano ou outros animais. A água do rio se transformará em chuva; continuará existindo quando fizer parte de uma planta com seu fruto e voltará ao rio pelos lençóis d’água subterrâneos depois de ser expelida dos corpos físicos pela urina.

Isto foi transmitido a Allan Kardec e repassado por ele aos espíritos encarnados:

“A matéria inerte se decompõe e toma nova forma ...”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 70).
O ser humano, aquele que se imagina uno, não vê as coisas universais como seus próprios componentes, não consegue entender esta impermanência das coisas e imagina que a morte do corpo físico é o fim. O cadáver, neste ensinamento, simboliza o fim. 

Aquele que encontra um cadáver imagina que houve um “fim” para ele e necessitará de um recomeço sob nova forma, pois a coisa espiritual (espírito) ainda não está presente dentro dele. Para aqueles que ainda se consideram unos, existe sempre um fim de alguma coisa e o início de outra.

Se o ser humano é um composto de todas as coisas universais, a coisa espiritual (espírito) já existe dentro dele. Quando alcançar esta consciência o ser compreenderá que a morte é apenas uma transformação da sua matéria física em alimento para outras formas e que a coisa espiritual é ele mesmo, o ser inteligente.

Esta coisa espiritual (espírito) sempre existiu e compôs o ser humano durante toda a sua existência. Na “morte”, ela apenas se liberta do “laço que a retém” (corpo físico). O espírito vive eternamente, independentemente de estar aprisionado ou não à matéria carnal.
“aquele que encontrou um cadáver, o mundo não serve para ele”

A não compreensão ou aceitação desta existência espiritual faz com que os espíritos na carne não compreendam a universalidade das coisas. Existe no universo um equilíbrio perfeito entre as coisas. Sem amarras, os planetas giram em órbitas perfeitas ao redor do sol e a lua afeta as marés do oceano.

Buda deixou nos seus ensinamentos que o universo é interdependente, ou seja, tudo se relaciona, todos os fatos acontecidos influem em todas as coisas, como ondas que se propagam. 

Para haver vida há necessidade de oxigênio. Se em um país a poluição for grande, todo o planeta e o Universo serão afetados por ela. Os efeitos do trabalho de um grupo de espíritos são sempre sentidos por toda humanidade. 

Para que exista este balanceamento perfeito das coisas há a necessidade de um comandante supremo: Deus. É o Pai, o Criador, a Inteligência Suprema que causa todas as coisas universais para que este equilíbrio seja mantido. Deus age assim para proporcionar a cada ser elementos necessários para a sua evolução.

Portanto, o mundo espiritual não é individual, mas sim coletivo. Todos os espíritos com certo grau de evolução compreendem esta correlação entre as coisas e buscam sempre alcançar o “bem” da coletividade e não a satisfação pessoal.

O ser humano, ou seja, o espírito que não “vê” o universo dessa maneira coletiva, não consegue compreender a necessidade dessa interdependência das coisas e, por isso, busca apenas alcançar seu prazer próprio. O mundo do ser humano é individualizado, ou seja, existe para satisfazer os seus anseios pessoais.

No entanto, se essa satisfação pessoal fosse realizada, todo o equilíbrio universal seria afetado. Em proporções minúsculas, podemos ver isto acontecer no próprio planeta Terra. Os países mais desenvolvidos não abrem mão da sua industrialização, que afeta com a poluição todos os seres humanos. O homem represa as águas dos rios porque busca mais energia elétrica para impulsionar o seu futuro, mas se esquece que com isso os animais e vegetais sofrem as consequências.

Aquele que não encontrar a coisa espiritual dentro de si mesmo não conseguirá entender esta interdependência das coisas e continuará a ser individualista. Deus, porém, não pode satisfazer os desejos de uns em detrimento de outros, pois Ele é a Justiça Perfeita.
Por este motivo, o mundo não serve para aquele que não encontra em si a coisa espiritual (espírito). Os acontecimentos da vida de um ser humano nunca poderão apenas satisfazer seus anseios pessoais, mas sempre serão comandados por Deus para que o equilíbrio universal se mantenha. É da não visão desta ação divina (Justiça Perfeita) que o ser humano vê nos acontecimentos a “injustiça”.

Quando os anseios do ser humano não são atingidos ele sofre, pois nos seus conceitos, ele tem seu próprio “querer”. Para que ele viva no mundo de Deus, onde todas as coisas são justas e amorosas, é necessário que o ser humano abra mão do seu individualismo e aceite todos os acontecimentos como fonte de uma Inteligência Suprema, que age objetivando manter o equilíbrio universal.

Alcançar a felicidade universal é entender-se como um ser composto pelo todo, um ser individual, mas não individualista e ter fé no comando do equilíbrio do universo, pois ele é mantido para que a Justiça Perfeita se imponha com Amor Sublime. 

Joaquim de Aruanda

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.