quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Há uma doutrina espírita dos espíritos e outra humana?

Participante: não compreendi... Há uma doutrina espírita dos espíritos e outra humana?

Sim, existe uma doutrina espírita dos espíritos e há uma que se utiliza dos mesmos ensinamentos, mas que está humanizada na sua interpretação. Ao longo de nossa conversa a diferença entre elas ficará bem clara, pois existem informações que existem na doutrina espírita dos espíritos que não faz parte da humana, aquela que é vivida pelos seres humanos que seguem esta religião. 

Vou lhe dar apenas um exemplo agora para que você possa compreender o que estou dizendo. A doutrina espírita humana não aceita Deus como causa primária de todas as coisas, mas apenas do que ela quer aceitar. Não aceita o Pai como causa primária de tudo, mas de apenas algumas coisas.

A doutrina espírita humana, por exemplo, não aceita Deus como Causa Primária dos elementos materiais. Crê que o vírus da gripe pode causar a doença por ação livre sua, quando em O Livro dos Espíritos se afirma o seguinte:

“07. Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas? Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária”.
Nesse texto está bem claro: existe sempre uma causa primária e esta está em Deus, como, aliás, consta da resposta à pergunta 01 do mesmo livro:

“01. Que é Deus? Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.
Apesar de tudo isso, os espíritas de hoje ainda acreditam que a propriedade dos elementos físicos pode agir livremente sem que o Pai tenha causado o acontecimento. E nem se pode colocar a culpa desta compreensão no próprio Kardec, pois ele compreendeu bem a questão:

“Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa”. (Comentário à resposta da questão 07).

Portanto, a doutrina espírita dos espíritos acredita que é Deus que dá a gripe ao homem e a humana crê que foi o vírus que se instalou por uma combinação fortuita no homem. Para estes recomendo a leitura da resposta dos espíritos à questão 08 de O Livro dos Espíritos:

“Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou por outra, ao acaso? Outro absurdo! Que homem de bom senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada”. 

Você poderia dizer que o tema que estou levantando se constitui apenas num debate ideológico, de uma questão de semântica, mas isso não é verdade. A compreensão sobre este tema traz profundos reflexos para o que estamos estudando: a vida humana para o espírito. Digamos que amanhã você tem uma atividade que se realizada lhe trará grande lucro, seja moral, espiritual ou até mesmo material. Digamos, ainda, que você não a consiga realizar porque contraiu gripe e não possa sair da cama. 

Como viverá este momento? Com certeza o viverá com angústia e pesar. Desta forma, naquele momento não estará agindo como um ser elevado, pois, como ensina o Espírito da Verdade na pergunta 115 de O Livro dos Espíritos, o que caracteriza a elevação de um ser é a vivência da felicidade que Deus tem prometido. 

Agora, digamos que você conheça a doutrina espírita dos espíritos. De posse deste conhecimento, que afirma que tudo é causado por Deus, certamente não se lamentará com o fato de não poder realizar o que pretendia, pois se a gripe foi causada por Ele é sinal que Ele não quer que você faça. Com isso poderá viver a sua doença em paz e harmonia e com isso provará que atingiu a perfeição.

Viu como não se trata de um debate ideológico? Trata-se sim de explicar a vida humana aos seres humanizados como ela realmente acontece para que eles possam aproveitar as oportunidades que tem de mostrarem a si mesmo que já aprendeu tudo o que estudou antes da encarnação. 

Como estes, existem diversos aspectos da doutrina espírita dos espíritos que são desconsiderados pelos seres humanizados, aqueles que seguem a doutrina espírita humana, e que precisam ser levados em consideração por aqueles que dizem buscar a união com Deus como objetivo de sua existência. 

Joaquim de Aruanda

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