sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Ensinamento de Buda

É por causa da importância do trabalho do despossuir que no sutra que estudamos há algum tempo (Devadha) quando os discípulos de Buda, os bikus, vão se viajar para viver em outro lugar o Iluminado pergunta a eles: vocês sabem o que eu ensino para poderem passar para os outros? Eles dizem que não sabem e que procuraram Buda antes da partida justamente para ouvir isso. 

O mestre pede então a Sariputta, que era um seguidor de Buda que havia compreendido bem o que o Iluminado ensinava, que fale e ele diz: o Buda ensina que você não deve ter apego às posses, paixões e desejos. Ou seja, ele diz que você não deve ter convicções dos comandos que a sua mente cria para outras pessoas e dos desejos que ela gera de que esses comandos sejam atendidos. 


Repare que Sariputta não fala em não ter posses, paixões ou desejos, mas não estar apegado a estas coisas, não ter convicção. Por conta deste ensinamento é que lhe digo que quando sua mente disser que aquela pessoa deve agir de tal forma, você deve dizer que não sabe se ela deve ou não agir conforme o pensamento espera. Deve fazer isso porque este é o trabalho do desapego. 


Só para deixar bem clara a importância deste trabalho, no encerramento do sutta que citei, Sariputta diz que Buda ensina isso porque sabe que quem conseguir desapegar-se vive esta vida em paz e terá melhor colocação na próxima vida. 


Acho que esta informação resume bem tudo o que estamos falando. Você se libertar do saber religioso que dá esperanças de uma vida humana melhor e se libertar da presunção do saber que lhe faz criar um mundo fantasioso no qual só você vive e onde quer comandar os acontecimentos ditando a determinadas pessoas e coisas o que deve ser feito e esperando que eles façam. Viver deste jeito lhe causa, nesta vida, problemas sérios, que são os sofrimentos, e não lhe garante uma boa colocação noutra vida.


Sabe por que viver deste jeito não pode lhe fazer bem nem nesta nem na outra vida? Porque querer esperar ganhar nesta vida, querer conhecer o que vai por dentro dos outros, querer dominar o outro sendo o comandante de tudo que ele tenha que realizar ou esperando que o outro aceite a canga que coloca nele, não pode ser considerado uma expressão de amor ao próximo e de amor a Deus sobre todas as coisas. É só por isso que na outra vida você não tem uma boa colocação. 


Como disse, jogue fora os quinze anos que vocês me ouviram, jogue fora todos os anos onde buscaram alguma coisa no tocante à evolução espiritual e guarde apenas esta conversa. Falo isso porque a questão da elevação espiritual se resume nestas três coisas: libertar-se do saber religioso, da presunção de saber e da possessão. Não há mais nada... 


Na hora que você não esperar receber nesta vida, estará exercendo a fé: amor a Deus acima de todas as coisas. Na hora que conseguir parar de ser o senhor dos outros, de ser aquele que ensina o que o outro tem que fazer e esperar que seja feito, terá amado o próximo como a si mesmo. Todo resto é sofisma, é sabedoria religiosa para lhe manter preso à morte. 


Joaquim de Aruanda

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