sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

OS QUATRO ELOS

OS QUATRO ELOS

O ser em evolução dentro da etapa humana precisa libertar-se das quatro âncoras (vontade ganhar e medo de perder, busca do prazer e medo do desprazer, busca da fama e medo da infâmia, busca do elogio e medo da crítica) para alcançar a evolução. Entretanto, para libertar-se destas coisas, o ser precisa quebrar os “Quatro Elos” que prendem essas âncoras a ele. Vamos ver alguns detalhes destes elos antes de falarmos deles especificamente. 

Estes elos constituem-se de verdades relativas trabalhadas pela mente da personalidade temporária à qual o ser está ligado durante o processo de encarnação. 

Apesar de eles serem em mesmo número que as âncoras isso não quer dizer que eles forme pares com elas (um elo para uma âncora). Na verdade, todas as âncoras são presas pelos quatro elos. Isso quer dizer que as âncoras serão abandonadas todas de uma só vez quando o ser libertar-se de todos os quatro elos.

Esses elos representam fundamentos de vida, ou seja, a forma como a personalidade humana o utiliza o processo raciocínio...

Durante este estudo estaremos falando de morte, mas quando abordarmos este tema não estamos nos referindo a desencarne, mas sim na ‘morte’ necessária ensinada por Cristo à Nicodemos (a morte do humano em vida) para o renascimento do espírito.

“Eu afirmo que ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito. A pessoa nasce fisicamente de pais humanos, mas nasce espiritualmente do Espírito de Deus. Por isso não se admire de eu dizer que todos vocês precisam nascer de novo. O vento sopra onde quer e ouve-se o barulho que faz, mas não se sabe de onde vem nem para onde vai. O mesmo acontece com todos os que nascem do Espírito”. (João – 3,5)

Os seres humanizados possuem uma interpretação equivocada deste texto bíblico. Afirmam que aqui está um ensinamento da necessidade da reencarnação, mas não é a isso que Cristo se referia. Afirmo isso porque Nicodemos como mestre de uma tradição que conhecia o tema reencarnação não precisaria pedir a Cristo informação sobre isso. Na verdade o mestre estava falando em morte em vida, ou seja, o fim da consciência humana para a vivência com os valores espirituais. 

O medo que o ser humanizado sente desse processo é originário da preocupação com a perda da sua identidade, do seu “eu”, do conjunto de valores que compõe a sua consciência. Apesar desse medo, Cristo nos afirma em todos os seus ensinamentos que este conjunto de valores deve ser alterado ainda na própria existência corporal para que se entre no gozo da felicidade universal. Ou seja, é preciso que o ser na carne ‘morra’ (altere sua consciência) para que renasça do espírito (universalização dos seus conceitos) para alcançar o reino de Deus. Este processo ficou conhecido como reforma íntima.

Alterar a consciência é deixar de utilizar os Cinco Agregados com objetivos individualistas. Quando isto acontecer, o ser não será mais o que é, ou seja, não terá a mesma consciência que possui hoje. Este é o temor dos seres humanos: deixar de ser quem é.

Portanto, a morte que abordamos quando falamos no ensinamento “Quatro Elos” é exatamente a alteração do sentido com que se utilizam os Cinco Agregados e isto não implica necessariamente em sair da carne. É do temor da promoção da reforma íntima (fim do “eu”) que vamos falar. 

O ensinamento “Quatro Elos” é baseado em um suta budista sobre a “morte” (Suta Anguttara Nikaya IV.184 – Abhaya Sutta).

Agora podemos começar a conversar sobre os quatro elos...

No suta citado, que quando o brâmane Janussoni pede a Buda ensinamentos sobre o medo que sentem aqueles que estão face à morte (alteração da consciência), o Iluminado apontou os quatro elos que aprisionam as quatro âncoras. São eles:

A paixão pela posse moral (sensualidade);
A paixão pelas coisas materiais (corpo);
O individualismo (prática de coisas “más”);
A falta de fé (incompreensão dos ensinamentos).

Estes são os “Quatro Elos” que prendem o ser universal à visão ser humano, não permitindo a evolução espiritual. São eles que aprisionam o ser no desejo de ganhar, se satisfazer, ser elogiado e alcançar a fama.

PAIXÃO PELA POSSE MORAL

O primeiro elo que prende o ser humanizado as quatro âncoras é a paixão pela posse moral. O ser individualista imagina que apenas o que ele compreende das coisas é que está certo, é bom e belo. Tudo o que os outros acham diferente dele está errado, é mau ou feio.

A posse moral se caracteriza pela detenção da verdade. A paixão por possuir a verdade sobre as coisas é que leva o ser humanizado a querer ganhar sempre, se satisfazer, ser elogiado e ficar famoso. Sendo assim, quebrar este elo é abrir mão de possuir a verdade sobre as coisas. Para isso é preciso acreditar que todos os acontecimentos do Universo estão perfeitos porque partem da Inteligência Suprema, observados os parâmetros de Justiça Perfeita e Sublimação do Amor.

Este elo foi simbolizado na Bíblia Sagrada na história de Adão e Eva. A mulher foi tentada a comer a maçã (adquirir um conhecimento) para alcançar o poder de determinar o que é bom ou mau no Universo. As religiões que utilizam a Bíblia como livro básico afirmam que é necessário acabar com o pecado original (o ato de Eva) para alcançar o reino do céu. Assim sendo, a informação da quebra deste elo não é exclusividade do budismo, mas de todas as religiões que utilizam a Bíblia.

PAIXÃO PELAS COISAS MATERIAIS

O segundo elo que prende as quatro âncoras é a paixão pelas coisas materiais. O prazer advindo da posse das coisas materiais é que leva o ser humanizado a ter medo de perdê-las com o fim do eu transitório que vivencia. Enquanto houver a posse continuará havendo as âncoras, pois a posse leva necessariamente à vontade de ganhar e se satisfazer para poder ter a fama e o elogio. 

Portanto, para acabar com a ação destas âncoras, o ser humanizado precisa despossuir todas as coisas materiais. Para que isto aconteça é necessária a compreensão de que o Universo é a casa de Deus e que tudo que aqui existe pertence a Ele.

Se o Universo foi criado por Deus para servir aos seres no seu processo de evolução, podemos afirmar que as coisas materiais são instrumentos para esta busca. Assim, enquanto o ser necessitar delas, o Pai as colocará à sua disposição, tornando-o guardião temporário delas. Elas não pertencem ao ser, mas estão à sua disposição enquanto isso for necessário.
Mas, o que são as coisas materiais. Como já vimos em outros momentos, elas valem pela essência que o ser humanizado aplica a elas. Desta forma, o elo na verdade é representado no pensamento humano pela idéia de que qualquer objeto é seu ou de qualquer outra pessoa.
Sendo assim, para o ser humanizado romper com esse elo é preciso alterar a essência de sua vida. Ao invés de dar propriedade de alguma coisa a um ser humanizado, inclusive a si mesmo, é preciso compreender que tudo pertence a Deus e está apenas à disposição do ser enquanto lhe for necessário para a evolução espiritual. 

Só consegue se livrar da vontade de ganhar para se satisfazer e de ser elogiado para alcançar a fama aqueles que aplicarem a tudo a essência ‘é de Deus’ a todos os elementos materiais do mundo humano.

APREENSÃO QUANTO AO RESULTADO DA PROVAÇÃO

O terceiro elo é a apreensão quanto ao resultado da provação que o ser faz durante a vida carnal. 

Todo o ser humanizado que acredita em reencarnação sabe que a vida é apenas uma etapa da existência eterna do espírito onde ele faz as provações necessárias para a sua elevação espiritual. Sabe, também, que estas provações têm a ver com o abandono do gozo individual para alcançar a bem-aventurança e assim aproximar-se de Deus.

Pela consciência que o ser possui de ter buscado durante a sua humanização apenas a sua satisfação pessoal ao invés de universalizar os acontecimentos, sabe que causou ferimentos aos demais seres. Pelos estudos que já fez, compreendeu que precisa ‘expiar’ essas faltas em nova encarnação. Para fugir deste destino o ser humanizado prende-se ainda mais à visão ser humano que está vivenciando no momento, imaginando que desta forma estará fora do alcance da ação justa de Deus, pois ela só ocorrerá depois da morte.

A expiação de erros é chamada de carma, ou seja, um acontecimento traçado no sentido de expiar a situação de sofrimento que se causou ao outro ser. A idéia da existência do carma (a reação a uma ação) leva o ser humanizado ao medo, porque ele sabe que o esta reação se constituirá de um acontecimento que não satisfará os seus conceitos, ou seja, não levará a um prazer individual.

Fala-se muito em carma de vida passada, ou seja, expiações de situações de sofrimentos causadas em vidas anteriores, mas existe também o carma da vida atual. Este último é expiado nesta própria vida. Como no ditado popular, aqui se faz, aqui se paga.

Deus providencia situações na vida do ser encarnado para que ele inicie a expiação de suas faltas nesta mesma vida. Apenas quando isto não é possível, o carma é transferido para uma próxima encarnação. Como o ser humanizado imagina que sua vida de encarnado independe da vontade de Deus, não compreende esta ação imediata do Pai.

Aquele que entende Deus como causa primária das coisas vê a ação do Pai a cada segundo na sua vida perde o medo de carmas futuros, pois compreende nas situações que está passando a expiação de faltas desta mesma vida. Quem vê no Pai não um juiz severo que distribui pena, mas uma fonte de Amor Sublime que proporciona situações para que o ser possa evoluir, não tem medo do carma, quer desta vida ou de outra. Ao invés de sentir-se apenado, o ser participa da felicidade que é ter Deus como Pai.

Portanto, a forma de se quebrar este elo é alterar a visão sobre Deus: não vê-lo mais como um Juiz Severo, mas um Pai Justo e Amoroso que só quer que os filhos consigam evoluir na sua existência espiritual.

Este foi o ensinamento máximo que Cristo nos enviou. A Boa Nova trazida pelo Mestre é a compreensão da ação de Deus sobre seus filhos no sentido de proporcionar-lhes a entrada no reino do céu (felicidade universal).

FALTA DE FÉ

O quarto elo é a “falta de fé”. 

Este elo talvez seja o mais difícil de ser quebrado pelo ser humanizado, pois ele jamais será alcançado por comprovações materiais. Para alguns é fácil quebrar a posse moral, para outros, a posse dos objetos e muitos, ainda, conseguem perder o medo do carma, pois conseguem enxergar materialmente estes ensinamentos. O quarto elo, no entanto, jamais poderá trazer confirmações materiais, pois desta forma não existiria o merecimento.

A fé é um sentimento que foi descrito por Cristo no primeiro mandamento da constituição universal: ‘amar a Deus acima de todas as coisas’. A fé é expressa através do amor incondicional ao Pai e a resposta que Seus filhos podem dar a esse amor é a felicidade universal.

Não é esta a compreensão que os seres humanizados possuem da fé, pois eles costumam condicioná-las à satisfação dos seus desejos. Para amar a Deus (ser feliz), os seres humanos precisam de posses materiais, morais e de situações de não sofrimento. Estes, no entanto, não amam a Deus, mas a si mesmos. Apegado aos valores humanos, para que o ser alcance a fé em Deus é preciso que todos os outros três elos (posse moral e material e a não existência de situações de sofrimento) sejam satisfeitos.

Ninguém deve amar outra pessoa tendo motivos para isso, pois o amor não pode ter condições. Quem ama o outro porque é belo, ama a beleza e não o ser; quem ama porque o outro é amigo, ama a amizade; quem ama pela cultura, ama a sabedoria. 

Em qualquer caso que exista uma condição para o amor, não há este sentimento pelo outro ser, mas pela condição que ele representa.

Para quebrar o quarto elo o ser necessita não mais impor condições para o exercício do amor. A ruptura do quarto elo passa pelo fim da fé raciocinada, ou seja, pelo fim da análise do prazer que resultará por ter fé. Esta quebra só será alcançada com a fé incondicional a Deus: entrega e confiança total no Pai.

Para isto é preciso a perfeita compreensão dos ensinamentos deixados por todos os mestres. Nenhum deles criou condições para que se amasse a Deus, mas pediram que se tivesse uma fé incondicional no Pai. Todos os ensinamentos tiveram este objetivo, mas foram interpretados pelo ser humano de forma diferente, pois buscavam a satisfação pessoal. 

QUEBRANDO OS ELOS

Para alcançar a elevação espiritual o ser humanizado precisa, então, quebrar os quatro elos para que se liberte das quatro âncoras. Este é o trabalho que todos terão que fazer algum dia, pois como ensinou Kardec, todos um dia terão que evoluir independente de sentirem medo ou não. Este processo de transformação foi que levou diversos seres à elevação em uma de suas encarnações.

É um processo inexorável que todo ser humanizado tem que passar. O medo de enfrentar o renascimento apenas retarda o momento, mas não pode eliminá-lo nunca, pois faz parte integrante da existência do ser, como a morte física faz parte da vida carnal.

Além do medo do desconhecido (em que se transformará depois do renascimento) o ser humanizado tem o conhecimento inconsciente de que os quatro elos não podem ser quebrados passo a passo, mas que precisam ser rompidos ao mesmo tempo, o que exige um grande esforço. Por isto, encarnação após encarnação, o ser tenta quebrar os elos, mas não consegue se desfazer deles todos ao mesmo tempo.

Todos os elos agem e são dependentes entre si. A posse moral nutre a posse material, pois o indivíduo certo quer determinar a como as coisas devem acontecer. Já o fim desses dois elos depende exclusivamente do fim do medo do carma, já que na maioria das vezes esta ação divina fere as posses do ser.

Como perder tudo isso sem perder o amor a Deus nas situações de contrariedade? Compreendendo Sua ação no universo, ou seja, tendo fé.

O ser humanizado que busca realmente quebrar os quatro elos precisa atacá-los todos de uma vez, ou seja, abandonar o poder de determinar o valor das coisas, para poder abrir mão das posses materiais. Para isso precisa perder o medo do carma, amando a Deus mesmo que suas vontades não sejam satisfeitas.

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