quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Participante: fale mais sobre a questão da intenção?

O que é intenção? É a motivação criada pela razão humana durante a participação nos acontecimentos do teatro da vida.

Intenção não significa ação, mas sim motivação. A ação acontece e o ego coloca nas ações que acontecem ou que acontecerá, uma motivação. 


Participante: é um motivo?


Não, não é um motivo: é uma motivação. 


Por que você veio aqui hoje? Não importa a sua resposta: esta é a sua motivação para vir. 


Participante: mas, se estiver aqui motivado por um objetivo espiritual?

Foi o que acabei de dizer: o ego cria verdades fundamentadas em conceitos humanos sobre santidade, reforma íntima, etc., para ludibriar o espírito.

Por que você está aqui? Porque quis vir, porque quis estar. Satisfazer o seu desejo de estar: esta é a real intenção que está no seu ego. Afirmo isso porque, apesar dessa sua aparente preocupação com a elevação espiritual, já houve dias em que poderia ter vindo, mas não veio. Se a preocupação com a busca da reforma é tão grande, porque não veio nestas horas? Porque não teve vontade, porque preferiu fazer outras coisas. Viu como a sua intenção de buscar a elevação não é tão grande?


A mente gera uma intencionalidade fundamentada em algo sagrado, divino, espiritual e, com isso, mantém escondida a real intenção. Por isso você acredita que está aqui por causa de uma busca espiritual, mas isso não é real. 


É isso que o ser encarnado precisa compreender: ele não pode aceitar as justificativas que o ego cria, pois a personalidade humana trabalha com motivações ilusórias para encobrir a verdadeira.


Portanto, por mais que imagine que é a sua motivação espiritual que lhe trouxe aqui, isso não é verdade: você está aqui por motivos materiais. Está aqui porque a razão criada pelo ego neste momento disse que era certo e bom, ou qualquer outra justificativa, estar aqui. Sendo assim, você está aqui por uma motivação baseada no eu, no individualismo. Está aqui por um valor material (ser bom para você, ser de seu interesse) e não pela busca espiritual.


Se você, a personalidade humana à qual um espírito está ligado, respondesse que não sabe porque está aqui neste momento, eu poderia dizer que haveria, então, uma motivação espiritual. Agora, enquanto souber porque fez alguma coisa, ou seja, tiver uma razão que afirme qualquer motivação para a prática de uma ação, afirmo que acabou-se o espiritualismo.


Ação sem intenção: essa é a base do ensinamento de Krishna. Por isso ele ensina assim aos seus pares (os espíritos): repousa em mim (Deus) e assista a sua vida. Sabe o que é assistir a sua vida? ‘Olha, ele está indo lá. O que vai fazer lá? Não sei. Voltará de lá? Não sei’. 


Participante: então, eu não tenho que me perguntar por que faço isso ou aquilo? Simplesmente faço. É isso? 


O que é se perguntar por que faz alguma coisa? É descobrir uma intenção, criar uma motivação para a ação. 


Se a personalidade humana age assim, o espírito não deve acreditar que a resposta a esta pesquisa é real, pois senão ele estará agregando uma intenção ao que é feito. 


Participante: o que falo então: fiz porque fiz?

Isso, você fez porque fez. Lembre-se: quem faz alguma coisa com intenção sabe o que faz. Se as ações praticadas pela personalidade humana são sempre fundamentadas no individualismo, o espírito que acredita que fez algo por algum motivo se torna individualista.

Apenas um detalhe: não estou falando apenas de intenções que vocês consideram erradas ou más: estou falando de todas as intenções. Mesmo quando faz alguma coisa com uma intenção considerada boa (ajudar os outros, por exemplo), ainda existe uma intenção na personalidade humana que é individualista e, portanto, esta ação passou a ser um ato egoísta.


‘Mas, Joaquim, você ficou maluco? Ajudar o próximo é um ato egoísta’, vocês me perguntariam. Eu responderia: sim, é, pois o ego possui condições para ajudar alguém. 


Se a personalidade humana cria razões que dizem que só deve ajudar a quem achar que deve e da forma que achar certo ajudar, esta ajuda transforma-se num ato individualista, pois atende a requisitos individuais. Apenas aquilo que é praticado sem submissão a nenhuma condição fundamentada em crenças e valores individuais pode ser considerada universal. 


Repare que o ser humano não ajuda indistintamente, mas apenas àqueles que ele considera que precise de ajuda. Mais: não os socorre da forma que os outros querem ser socorridos, mas da forma que ele, ser humano, acha que deve socorrer. Isso não é egoísmo?


Se a personalidade humana você fosse capaz de fazer sem motivação, ou seja, fazer por fazer e não fazer do jeito que quer, fazer com a intenção de agradar o próximo, ganhar alguma coisa e tantas outras condições que ela cria, eu poderia dizer que era universalista. Mas, como isso não acontece, não posso afirmar isso.


Agora ficou claro? Motivação é a razão que o ego propõe para o espírito durante a realização de ações. Essa razão não é real, mas apenas um elemento da grande aventura do espírito e existe para que esse possa fazer a sua provação. Por isso, essa razão deve ser abandonada. 


Joaquim de Aruanda
 

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