quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O cabeçalho completo da pergunta

Participante: tive um desentendimento com um parente e até hoje não nos relacionamos. Fiquei com muita raiva dele e sempre que o encontro ela se pronuncia. Sinto a raiva até o momento que perco o contato com ele. Só que depois que isso acontece, automaticamente me cai uma culpa. Me arrependo por ter vivido essa emoção com a presença dele. Fico pensando porque não evito a raiva quando ela vem. Como agir diante dessa montanha russa de emoções?

Salve!

Deixe-me dizer uma coisa. Já por diversas vezes tenho dito o seguinte: na hora da ação, não há como o ser controlar a mente. Não há como se afastar dela, deixar de dizer o que ela diz. Essa é uma regrinha básica para o trabalho da vivência da paz. Porque isso? Porque aqueles que ainda estão presos a agir de determinada forma querem alterar alguma coisa que está sendo vivida, e isso é impossível.

A ação de libertação da criação da mente se dá depois do ato ocorrido. Ela acontece quando em meditação, pensando os próprios pensamentos, não aceita o que foi proposto. 

Este é o primeiro grande detalhe. Ele é importante para nossa conversa porque na sua pergunta inteira só me falou de atos, de ações. 

Você poderia me dizer que isso não é verdade, porque me falou em sentir raiva. Acontece que esta raiva que está sendo sentida não é sua. Ela faz parte dos três mundos que o espírito vivencia enquanto humanizado: o da ação, da razão e da emoção.

Todo o processo mental que relatou na sua pergunta ainda é cabeçalho da sua questão e não resposta sua. Este é o primeiro detalhe que precisa se atentar. 

Pelo que posso entender da sua pergunta, quer arrumar um jeito do seu parente. Só que isso é impossível, pois quem está sentindo essa emoção com relação a ele não é você, mas a personalidade humana. Ela precisa ter esta emoção e por isso ela precisa existir. 

Para que ela precisa viver essa emoção? Para que você possa se libertar dela. Só que quando houver essa libertação, essa ação não acabará com esta emoção, com a raiva que está na personalidade. O único resultado da sua ação será não viver a raiva que existe na mente. Ela nunca levará ao fim da própria raiva.

Este é o primeiro detalhe desta questão. Deve haver uma compreensão de que tudo o que me foi relatado e que você vive não há nada a ser feito para alterar essa série de acontecimentos. É preciso que seu parente apareça, que a raiva surja dentro de você para só depois que isso acontecer possa agir. Como se age neste momento? Repense o que aconteceu e repare que a sua personalidade humana colocou a emoção raiva num momento e decida não vive-la. 

Só que você me relata mais do que viver a raiva. Afirma que logo depois que o seu parente vai embora surge uma nova emoção que lhe cobra o não ter feito mudanças sobre o que sentiu. 

Quem é que está lançando esta questão? Será que é algum espírito fora da carne querendo lhe ajudar? Não, é a sua própria personalidade humana quem lhe dá essa ideia e ao fazer isso já lhe dá uma nova provação, ou melhor, colocando a única prova que sempre esteve presente: a culpa. 

Na verdade, a emoção referente à presença do seu parente só existe na personalidade humana para que você, que já ouviu que não deve sentir raiva de ninguém, possa optar entre sentir-se culpado ou não. É por isso que a emoção que surge frente à presença do seu parente não pode mudar. Mais: não precisa ser mudada.

É aqui, depois que todo processo acabou – a presença, a raiva, o ir embora e o sentir-se culpado por não ter mudado – é que precisa haver uma ação. Ela deve ser contra o sentir-se culpado por não ter colocado em prática os ensinamentos.

A sua ação de libertação não precisa existir contra a raiva. Se fosse contra ela que devesse agir, não haveria posteriormente a culpa. Se fosse para agir contra a emoção que é vivida com a presença do seu parente não haveria posteriormente a culpa. 

Na verdade, a culpa é que é a sua prova e não a raiva. A história que a mente montou com relação ao seu parente serve apenas como alegoria para a mente poder lhe dizer que sabe tudo e não faz mais nada, não pratica nada. No momento em que ela lhe dá esta consciência é a sua hora de responder: ‘não faço e nem tenho que fazer, pois foi você, mente, quem criou tudo isso’. 

Repare como você aceita a culpa, como não está entendo qual a sua provação neste momento. Quando aceita a ideia de que seria muito interessante que fosse chamado atenção antes do afastamento do seu parente, você demonstra que está preso à intenção de deixar de viver a raiva. 

Esta ideia, que lhe parece algo bom, certo, santificado, na verdade é mais uma etapa do cabeçalho da sua questão. É por causa dela que leva mais a sério o ter que sentir-se culpado. Como não consegue deixar de sentir a raiva, acha que é culpado, mas isso é irreal. 

Portanto, não existe na sua prova nada a respeito da própria raiva. Sobre esta questão, esqueça. Concentre-se na questão do sentir-se culpado, pois toda a história que vivencia é apenas para lhe oferecer a culpa. É na hora que esta culpa aparece que precisa agir e essa ação não é para acabar com a existência da culpa, mas não sentir-se culpado como a mente quer que sinta-se. 

Ficou claro? Se quiser continuar a conversa, estou à sua disposição.
Esteja na paz de Deus.

Pai Joaquim

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.