quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Dificuldade na questão da elevação espiritual

Participante: a dificuldade na questão da elevação espiritual talvez seja de encontrar a pequena linha que separa o Universo do espírito encarnado. 

Não há linha que separe você do Universo. Tudo que lhe vier pela mente é subordinado ao sistema humano de vida. Portanto, não há duas partes separadas por linha alguma. Vou dar um exemplo para mostrar isso.

Algumas pessoas vieram a mim e disseram que estavam com a intenção de comprar um terreno onde pudessem morar comunitariamente colocando em prática os nossos ensinamentos. Esta ideia à primeira vista parece interessante para a busca da elevação espiritual, já que vivendo regido pelos ensinamentos dos mestres eles estariam libertando-se do sistema humano de vida, mas isso não é real. 

O que os mestres ensinaram é que é preciso fugir do sistema humano de vida. O que caracteriza a vivência dentro deste sistema? O haver código de normas que regem os relacionamentos, necessidade e obrigação de determinada forma de agir. Tudo que contiver estas características é humano. 

Acontece que antes de comprarem o terreno, aquelas pessoas estabeleceram qual deveria ser a forma padrão de agir: de acordo com os ensinamentos. Com isso criaram um sistema formatado a partir de uma norma e criaram obrigações e necessidades para aqueles que ali iam morar. Ou seja, criaram um subsistema de vida fundamentado em conceitos diferentes, mas ainda subordinados ao sistema humano de vida. Para que eles conseguissem viver fora deste sistema teriam que não normatizar coisa alguma, ou seja, não ter padrões que deveriam ser seguidos. Como o ser humanizado não sabe viver assim, já que a anarquia para ele se transforma num padrão a ser seguido e que gera necessidades e obrigações que espelhem o padrão anarquista, é impossível estabelecer uma vivência dentro do sistema espiritual de vida. Sendo assim, não há linha fina que você possa perceber separando uma coisa da outra, pois neste mundo só há uma coisa: o sistema humano de vida.

Lembre-se do que eu disse: o pensamento é a expressão do sistema humano de vida. Não importa que conceito ele use, está sempre subordinado a um sistema que cria normas, gera obrigações e necessidades. 

Eu diria que a mente humana só consegue funcionar a partir das características do sistema humano, por mais que afirme querer se libertar deste sistema. Na verdade, ela só troca as verdades, mas mantém as características do processo humano sempre presente. Lembra-se do movimento hippie? Pois é, ele lutava contra o sistema societário daquele momento. Mas, o que aconteceu com as pessoas que participaram deste movimento? Apegaram-se aos ditames dele e começaram a desarmonizar-se com os que não participavam dele.

Este é o problema dos subsistemas humano de vida. Eles muitas vezes possuem verdades diferentes de outros subsistemas, mas como a mente só funciona a partir da normatização, da geração de obrigações e necessidades, as novas verdades, mesmo que fundamentada em liberdade, acaba tornando-se uma prisão. Com isso, a desarmonia com quem não quer aquele tipo de liberdade é só questão de tempo.

A questão da liberdade, do sentir-se livre para fazer o que quer, para viver como quiser, é algo muito interessante. Isso porque para vocês a liberdade torna-se uma prisão. Vocês se aprisionam a liberdade.
Lembro-me que uma vez quando dizia que o ser humanizado não devia usar calçado se não quisesse, alguém me disse que ele era obrigado a usar porque no seu emprego havia a obrigação disso. Disse a esta pessoa que ele devia se senti tão livre que não era obrigado a não usar o sapato. Vivendo esta liberdade ele poderia ir ao emprego calçado e isso não o incomodaria. 

Ser livre não é só praticar aquilo que se quer. Isso é prisão. Quem tem a norma que diz que deve usar a sua liberdade para fazer apenas o que quer, criou uma obrigação e necessidade e com isso se escravizou à norma. Livre é aquele que fazendo ou não o que quer não perde a sua felicidade. Este não possui obrigação ou necessidade de fazer nada e por isso qualquer coisa que faça não interfere na sua felicidade e não o desarmoniza com o mundo.

Aliás, a questão dos subsistemas formados a partir das características do sistema humano de vida é muito importante de ser entendida, já que vocês possuem um subsistema ‘vida religiosa’. Cristo ensinou: meu jugo é leve, ou seja, eu não crio obrigações, necessidades. Mas, vocês lidam com os ensinamentos que os mestres trouxeram como um código de normas que todos precisam seguir e geram a partir deles necessidades e obrigações para si e para os outros. Ou seja, transformam um ensinamento que deve libertar os seres de um rígido sistema normativo numa norma que gera obrigações e necessidades.

Na Carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo afirma: o homem não é aceito pelo cumprimento da lei, mas pela sua fé. Para justificar sua informação cita o caso de Abraão que guiado por Deus estava disposto a matar seu filho único, mesmo isso sendo contra a lei. A fé, a entrega com confiança, supera a subordinação a qualquer código normativo, pois ela é a expressão do amor a Deus acima de todas as coisas. 

Portanto, mesmo que um ser aja em desacordo com um código normativo, se ele participar desta ação entregando-se ao Senhor, isto será muito mais útil à elevação espiritual do que aquele que deixa de fazer qualquer coisa porque existe uma norma que diz que aquilo não deve ser feito. A ação do primeiro foi mais importante para a questão da elevação espiritual porque ele viveu a liberdade que todos os seres têm; já o segundo, perdeu neste sentido porque se submeteu a uma obrigação gerada por uma lei. 

Voltando à sua pergunta, então, respondo que não há linha que separe os dois sistemas de vida, porque o espiritual não está disponível para ser vivido por vocês, já que só vivem a partir do que a mente cria. 

Joaquim de Aruanda

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