sexta-feira, 4 de julho de 2014

O HOMEM NOVO E O VELHO

Acho que agora que vimos todas as impurezas que tornam a razão um guia falível para aquele que quer comungar com Deus fica bem clara a necessidade de se libertar de todas as idéias que ela produz. Quando isso acontece, como dizem os espíritas, nasce um homem novo do velho.
“Eu afirmo que ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito. A pessoa nasce fisicamente de pais humanos, mas nasce espiritualmente do Espírito de Deus. Por isso não se admire de eu dizer que todos vocês precisam nascer de novo”. (João, 3, 5 a 7)
Muitos espíritas acreditam que nesta passagem do evangelho está uma afirmação da existência do processo reencarnatório, mas isso não é real. Esta frase foi dita à Nicodemus, um líder religioso dos fariseus, que acreditavam na reencarnação. Portanto, Cristo não precisava ensinar a existência deste processo a ele. Além do mais a própria pergunta de Nicodemus já nos leva a entender que ele não queria comprovações sobre este processo, mas sim saber como renascer:
“Como pode um homem velho nascer de novo? Será que pode voltar para a barriga da sua mãe e nascer outra vez?” (João, 3, 4)
É a esta questão que Cristo responde quando fala: “A pessoa nasce fisicamente de pais humanos, mas nasce espiritualmente do Espírito de Deus”. Ou seja, o mestre está falando que o ser humanizado nasce fisicamente da mãe e que precisa fazer um renascimento em vida, nascer novamente depois de já ter crescido fisicamente. Mas, quando fala disso, Cristo afirma que este renascimento precisa ter um elemento: ser feito a partir do espírito. Ou seja, ele afirma que o ser se humaniza a partir da barriga da mãe, mas precisa ao longo de sua existência mudar-se: precisa deixar de ser humano e tornar-se um espírito na carne.
Este é o processo que passa aquele que consegue se libertar da razão fundamentada pelo sistema de vida humana e que quer apenas defender seus interesses e obter vitórias. Ele renasce do espírito, porque passa a viver sem a defesa de seus valores e por isso não cobra que outros o siga. Ele renasce porque ao invés de contestar a razão do outro, aceita que cada um tenha a sua própria consciência sobre as coisas.
O renascimento, portanto, é necessário. Só para que isso possa acontecer, primeiramente é preciso morrer, ou seja, é preciso se libertar do jugo da razão má educada, soberba e egoísta. E aí reside o grande problema de todos aqueles que se dizem espiritualistas. É por conta da necessidade desta morte em vida que eles não aproveitam a elevação espiritual e vivem a felicidade Deus tem prometido nem comungam com Ele.
Apesar da claridade dos ensinamentos dos mestres, como vimos aqui, mesmos os espiritualistas não querem morrer como seres humanos, não querem matar o homem velho, para poder renascer um novo homem que seja estabelecido no espiritual. Apesar de se dizerem espiritualistas, apesar de dizerem que acreditam nos ensinamentos dos mestres, na verdade tem medo de atirarem-se no novo, que é a vida substanciada pelos valores espirituais. Por isso afirmo que suas crenças não são verdadeiras.
Os espiritualistas, na verdade são como todos os seres humanos: acendem uma vela para Deus e outra para o diabo. Vivem a vida dizendo que estão realizando um trabalho no sentido de aproveitar a encarnação, mas não querem abandonar os prazeres mundanos que a razão promete. Eles vão todas as quartas ao centro, as sextas às giras e aos domingos à missa ou no culto, mas no resto do tempo dedicam-se apenas a seguir o que a razão humanizada lhes diz.
Cristo ensina: ‘nem todos aqueles que chamarem Senhor, Senhor, eu atenderei’. Somente aqueles que no trabalho da reforma íntima forem além dos deveres religiosos e superarem as idéias de suas razões mal educadas é que ele se mostrará.
Estamos parecendo evangélicos ao citar por diversas vezes passagens da Bíblia, mas isso é preciso para que haja uma compreensão perfeita do quanto o trabalho que realizam hoje nada tem a ver com renascimento, mas que serve apenas à própria natureza humana.
Na Bíblia Cristo afirma aos seus seguidores: ‘as raposas tem sua tocas, os pássaros os seus ninhos, mas o homem não tem onde descansar sua cabeça’. Para aquele que busca a elevação espiritual, todos os momentos da vida se constituem em provações onde são tentados pela razão para buscarem o prazer mundano. Por isso, muito mais do ir ao centro, a gira, à missa ou ao culto nos dias programados para isso, ele se dedica vinte e quatro horas à morte que leva ao renascimento.
O verdadeiro espiritualista é aquele que se concentra a cada momento de sua existência em morrer para o velho e renascer para o novo, vive cada momento morrendo para a humanidade e renascendo para a espiritualidade. É para estes que estou falando. É para estes que estou mostrando a má educação, a soberba e o egoísmo da razão humana que surgem quando nos atentamos aos ensinamentos dos mestres.
Quando a razão diz a um espiritualista que o outro está errado, dentro ou fora do seu local de culto, ao invés de aceitar esta afirmação ele responde que Cristo ensinou que não se deve julgar. Quando a razão afirma que o outro agiu de forma incorreta, o espiritualista ao invés de acreditar nesta afirmação se lembra que primeiro precisa tirar a trave que o faz ver cisco os olhos dos outros. Isso é reforma íntima; isto é renascer. Só assim se pode comungar com Deus e viver a felicidade que Ele tem prometido.
Quem não faz isso, ou seja, acata as conclusões da razão humana convive com a humanidade, o que, no entanto, não é nada errado. Aquele que ouvir estes ensinamentos e conscientizar-se da necessidade do morrer para poder renascer, que faça o seu trabalho. Agora aquele que, mesmo tendo acesso a estas informações e assim mesmo decida permanecer vivo humanamente, que o faça. Jamais ouvirá de minha boca ou da de qualquer ser elevado, inclusive de Deus, condenação por esta decisão.
Deus jamais cobrará nada de quem fizer esta opção, pois foi Ele mesmo que deu aos espíritos o poder de livre optar. Se cobrasse, se condenasse ou punisse quem tomasse esta decisão, Ele seria injusto e parcial.
Para quem não quiser morrer para renascer o máximo que acontecerá será a permanência na sansara, ou na roda de encarnações. Ele terá que encarnar e reencarnar novamente durante muitos séculos até que um dia faça a opção pelo renascimento em vida a partir do Espírito.
Falo que um dia terá que executar este caminho que falamos agora, não porque acredite que tenha a razão, mas porque todos os mestres ensinaram que este é o único caminho para Deus. Apenas aqueles que renegam sua humanidade e buscam a comunhão com Deus pelos valores espirituais conseguem vencer os sistemas humanos de vida, a soberba e o egoísmo que não os deixa cumprir os dois mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Mesmo Buda, cujos ensinamentos pouco comentamos aqui, fala a mesma coisa. Quando argüido por seguidores que queriam se afastar da comunidade onde o Iluminado morava, lhes foi ensinado que a doutrina deste mestre se consistia em libertar-se do apego às suas posses, paixões e desejos. Foi dito mais ainda: que Buda ensinava assim porque sabia que esta forma de viver garante um bom lugar depois da morte. Como estas coisas são criadas pela razão humana, ao ensinar desta forma, Sidarta Gautama falou a mesma coisa que o Espírito da Verdade.
O que conversamos aqui, portanto é caminho único e certamente terá que ser percorrido algum dia pelos espíritos que encarnam num mundo de provas e expiações, no planeta Terra. Sendo isso verdade, porque não aproveitar esta oportunidade para fazer isso?
Aproveite; lute agora contra a sua razão e entre em comunhão com Deus: esta é a conclamação que faço a todos os seres humanizados.


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