quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Alimentação com carne

Participante: outro dia o senhor disse para justificar o hábito de se comer carne que Deus criou os animais e os colocou à disposição do homem. Com isso Ele não estava nos dando a obrigação de tratá-los com carinho e respeito e preservar a sua integridade, ao invés de disponibilizá-los como alimento?

Realmente eu disse que os animais foram criados por Deus e colocados à disposição do homem. Isso é uma informação bíblica que está no livro da Gênesis. Mas, com isso não afirmei que eles foram criados para que cuidasse deles como você imagina que deva cuidar. Isso é coisa da sua mentalidade humana...

Sei que os valores místicos deste mundo dizem que você não deve se alimentar dos animais, pois com isso estaria faltando com o carinho a eles e os estaria desrespeitando. O fato de precisar retirar a vida deles para que você se alimente, segundo a crença mística de alguns humanos, é um ato negativo para a elevação espiritual. Mas, será que é mesmo?

Se você não se alimentasse da carne dos animais, alimentar-se-ia de que? De legumes, verduras, frutos, raízes e caules. Com isso não estaria matando estes vegetais? Porque pode matar os vegetais, mas não pode matar os animais? Porque você acredita que eles não têm vida...

Saiba de uma coisa: a matéria sem o princípio vital não existe. É ele que dá existência à matéria. Sem ele, a matéria estaria morta.

“63. O princípio vital reside nalgum agente particular, ou é, simplesmente uma propriedade da matéria organizada. Numa palavra, é efeito ou causa? Uma e outra coisa. A vida é um efeito devido à ação de um agente sobre a matéria. Esse agente, sem a matéria, não é vida, do mesmo modo que a matéria não pode viver sem esse agente. Ele dá a vida a todos os seres que o absorvem e assimilam”. (O Livro dos Espíritos)

O vegetal que você come existe, tem cor, tem nutrientes? Isso quer dizer que ele está vivo. Nele correm o sangue representado pela seiva que as raízes retiram da terra. Tanto é assim, que quando são arrancados dela e este nutriente para nutri-las, elas apodrecem e morrem.

Sendo assim, lhe pergunto: que direito tem você de escolher a morte para o vegetal ao invés do animal? Que direito tem você de escolher preservar a vida do animal e decretar a sentença de morte para o vegetal? Será que escolher quem vai morrer é sinal de pureza?

Veja como a ação mística produz incongruências que vocês não conseguem ver. Muitos se acham melhores do que outros porque só se alimentam de vegetais, mas não veem que além de cometer um crime como o outro, ainda por cima se acham no direito de serem juízes que escolherão quem deve morrer e quem deve viver...

Este sentimento de achar-se com o poder de escolher entre a vida e a morte de alguma coisa é o que fere a elevação espiritual. Isso porque ele está ligado diretamente à questão da expulsão do espírito do mundo espiritual superior (o paraíso) que falamos. É desta forma, porque ele é fruto de um saber, de uma informação que foi transformada como verdade.

É por isso que Cristo ensina:

“Escutem e entendam. Não é o que entra pela boca que faz alguém ficar impuro. Ao contrário, o que sai da boca é que pode torná-lo impuro”. (Mateus, capítulo 15, 10 e 11)

O que lhe faz impuro não é o que você come, mas a crítica que faz aqueles que não atendem o seu parâmetro de alimentação. 

“O que entra pela boca vai para o estomago e depois sai do corpo. Mas, o que sai da boca vem do coração. É isso que faz alguém tornar-se impuro. Porque é do coração que vêm os maus pensamentos que levam ao crime, ao adultério e às outras coisas imorais. São os maus pensamentos que levam também a pessoa a roubar, mentir e caluniar. São essas coisas que fazem alguém ficar impuro, mas comer sem lavar as mãos não torna ninguém impuro”. (Mateus, capítulo 15, versículo 16 a 20).

O que lhe faz impuro é o que está no seu coração. Neste caso, o que lá está é o sentimento de superioridade que imagina ter sobre o outro só porque acredita no conhecimento místico que diz que não se deve alimentar de carne. 

O que lhe faz impuro é este sentimento que o leva a julgar-se apto a julgar o próximo e condená-lo. Julgar os outros é um crime, pois se trata de uma expropriação de direitos de Deus. Somente Ele pode julgar qualquer um, pois possui a Inteligência Suprema, ou seja, a capacidade suprema de discernir sobre o bem e o mal. 

O que lhe faz impuro é a adulteração da verdade universal. Onde nos ensinamentos dos mestres está vedada a alimentação com carne oriunda de animais? Se não está vedada, como alimentar-se delas sem matar os animais? Aquele que acha que a pureza da alma está ligada a alimentação, está mentindo e caluniando e roubando o direito do próximo alimentar-se daquilo que quiser. Portanto, não o está amando. Amar é respeitar o direito do outro ser, estar e fazer o que ele quiser, mesmo que o que queira seja contrário ao que você quer...

Quando vocês, aprisionados ao misticismo formado a partir de sistemas humanos de vida, defendem a alimentação formada exclusivamente sem a presença da carne oriunda dos animais, são como os fariseus que ouviram o ensinamento de Cristo que acabamos de citar. Os discípulos que também estavam presentes naquele momento ficaram preocupados com o aborrecimento causado aos fariseus por esta informação de Cristo, assim como alguns ficam aborrecidos quando são questionados pelos vegetarianos a respeito do seu gosto pela carne animal. Para estes, cito o que Cristo falou aos discípulos sobre os fariseus:

“Não se preocupem com eles! São como guias de cegos. E quando um cego guia o outro, os dois acabam caindo num buraco”. (Mateus, capítulo 15, 14)

Não se preocupem se o que comem lhes causa impurezas ou não, na visão dos outros. Ela é apenas uma crítica que lhe faz aquele que está apegado ao misticismo formado pelo apego a sistemas humanos e que determinam a pureza ou não de um ser. Mas, esta crença, é uma cegueira espiritual.

Joaquim de Aruanda

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