segunda-feira, 1 de junho de 2015

Jeronimo e a Vulgata (bíblia)


Emoção é razão

Participante: o que faço para amenizar/melhorar/blindar minha sensibilidade? Estou tão sensível que dói! Às vezes nem quero sair de casa com medo de ver algum bebê ou criança passando necessidade. Não sei o que fazer…
Você me fala em sensibilidade emocional, mas como na grande maioria das coisas humanas, vocês não fazem a mínima ideia do que seja isso. Por isso, antes de falar em como blindar, mudar, restringir a sensibilidade, precisamos conversar para compreender perfeitamente o que é ela. Só depois dessa compreensão é que poderemos, então, falar como fazer isso.
Primeiro quero lhe dizer uma coisa. Vocês confundem emoção com sentimento. Emoção é uma sensação humana; sentimento é uma vivência espiritual.
São duas coisas diferentes. Mas, o que difere uma da outra? A razão. A emoção, por ser sensação humana, é atrelada a uma razão. Vou lhe dar um exemplo para ficar claro o que digo.
Você diz que tem medo de sair à rua porque pode encontrar uma criança sofrendo. Porque sofre quando vê uma criança abandonada? Existem milhares de razões para isso. Será sua mente que as criará. Poderá dizer que ela não merece sofrer, que pessoas não devem passar por necessidades, que a criança é um anjo e que por isso não merece vivenciar sofrimento.
Essas são razões para que justifica o fato de viver um sofrer. Quando há essa razão para que isso aconteça, não está vivendo um sentimento, mas uma emoção. Porque isso? Porque o sentimento, por ser espiritual, não carrega consigo nenhuma razão para existir.
Tenho dito que amar é um verbo intransitivo. O que isso quer dizer? Que não existe o eu amo aquela pessoa. O que existe é apenas amar. Sempre que o amor tiver um destinatário, haverá um motivo para existir: ‘amo tal pessoa porque ela faz isso ou é desta forma’. Isso é emoção, razão, e não sentimento. Você ama não por amar, mas porque a outra pessoa faz aquilo.
O espírito não tem motivos para amar. Não tem motivos para ter sentimentos: ele apenas vive o sentimento.
Essa análise é importante porque você fala que possui o padrão emocional aflorado e imagina que com isso precisa trabalhar suas emoções. Mas, se a ela é causada pela razão, não adianta trabalhar o seu lado emocional; Agindo assim, mesmo que consiga blindar as emoções, novas razões virão para que você viva aquela emoção.
Portanto, quando fala em mudar, blindar, precaver-se das emoções, temos que começar a entender que o trabalho precisa ser feito na razão e não na emoção propriamente dita. Precisa trabalhar o seu conjunto de verdades para que eles nãos sejam geradores de sofrimentos. Só assim, blinda o seu lado emocional. Quando não houver mais razões para sofrer, não terá mais esta emoção.

Pai Joaquim

Instrumentos do carma

Participante: então, uma das provas dele seria aceitar a crítica, o conselho? Digo isso porque ele realmente não aceita que digam o que tem que fazer. Então, a prova dele seria ouvir o que as pessoas dizem e seguir o que elas falam?
Não. A prova dele é aceitar que as pessoas têm o direito de falar o que ele deve fazer.
A provação não tem nada a ver com o seguir o que os outros aconselham, pois neste caso estaríamos falando de atos. Atos acontecem, eles fazem parte da prova, mas não são respostas.
O que ele precisa entender é que a mãe, e as demais pessoas, tem o direito de falar o que fala. Mais: que tudo que dizem faz parte da prova dele. Por isso as pessoas têm o direito, ou melhor, o dever de falar.
A prova dele não está no seguir ou não o que é aconselhado, mas em querer controlar o controlador, aquele que quer dizer o que ele deve fazer. É querer que as pessoas só reclamem do que ele quiser que elas reclamem. É querer que os outros só critiquem o que ele quiser que seja criticado. Digo isso porque tem coisas que a esposa e a mãe falam e ele aceita.
Essa é a prova: não dar aos outros o direito de exercer o papel que nasceu para viver na sua vida. Quem tem essa prova precisa aprender a dar às pessoas esse direito. Para isso é preciso saber que ninguém faz nada à outra pessoa porque quer, porque acha melhor, porque acha bom. Tudo o que qualquer um faz para o próximo tem a ver com o planejamento da encarnação.
É o que chamamos de interdependência. A sua esposa se encontrou com você porque já estava determinado que ela teria uma forma de ser específica e você precisava para a convivência diária de alguém que tivesse essa forma de ser. Por isso vocês se encontraram, a mente disse que se gostavam e a força de maya deu o sentido de real a esse gostar.
Portanto, o problema não está no que ele faz nem no que os outros falam, mas nele achar que eles não têm o direito de falar. Por isso ele acabou de dizer que ela não deveria ser igual à mãe. Quando ele quer determinar como ela deve ser mostra que quer controla-la. Justamente por causa desta aceitação dela não ser o que ele esperava que fosse é que sofre.
O problema está neste aspecto; não tem nada a ver com mais nada. As palavras que ela diz, o que aconselha que deve ser feito, não tem nada a ver com o sofrimento dele. O sofrimento decorre apenas do achar que ninguém tem o direito de chamar atenção para determinadas coisas. Se ele desse esse direito aos outros, não sofreria.
Se a pessoa ao lhe criticar fala do passado ou do futuro, se pega pesado ou leve, isso não importa: são apenas palavras. Mantendo-se firme na consciência de que está vivendo uma prova, não sofrerá.
O que essa moça é sua? O que são todas as pessoas que você convive? Instrumentos da sua prova. São agentes do seu carma. As pessoas estão lado a lado, convivendo uma realidade juntos, porque contém na personalidade delas os instrumentos necessários da prova do outro. Se não tivesse, nunca se relacionariam. Portanto, elas têm mais do que direito de falar de você: têm o dever de agir assim.
É assim que você precisa analisar o mundo. Precisa parar de imaginar que está convivendo com pessoas, de que está mantendo relações de companheirismo, marital, paternal, de amizade, porque estas relações não existem. Quando dois seres humanos se encontram sob qualquer título, o que existe é a vivência da provação de cada ser universal encarnado e um é instrumento do carma do outro.
A partir disso, é preciso entender que a ação que o outro pratica estará sempre exatamente dentro do que precisa para a sua provação. Ou seja, os outros têm que lhe cobrar e criticar, devem tentar lhe dominar para que possa abrir mão da exigência que ela não lhe controle, ou seja, querer controla-la.
Não estou falando em acatar o que dizem e agir como elas esperam, mas de entender que cada um tem o direito de lhe cobrar qualquer coisa. Como agirá depois da cobrança, isso é outra questão.

Pai Joaquim

A Força de Maya

Quando se coloca a vida dentro deste aspecto que estamos colocando, resultado da posição atual do espírito no universo, o entendimento fica mais prático e também fica mais fácil se encontrar saídas para as raízes do sofrimento. Quando acha que o que vive é carma de convivência de outras vidas com este mesmo espírito, chegará à conclusão que não pode fazer nada, que não há nada a ser feito, a não ser sofrer nesta existência. Essa resignação não é felicidade: é só resignação.
O que você precisa é resolver o problema e não apenas resignar-se. Precisa aprender alguma coisa. É por isso que estou lhe orientando dessa forma: analisando ponto a ponto a questão. Aliás, é isso que precisam fazer com qualquer acontecimento da vida para poderem alcançar a felicidade.
É preciso que sempre analisemos ponto a ponto o acontecimentos da vida para que possamos, ponto a ponto, irmos fugindo da ação da força de maya, a força que dá a impressão de real às coisas deste mundo. Isso é algo que batermos muito nessa série de conversa que teremos com nosso grupo: a força de maya, o acreditar na realidade criada pela mente. Não estou falando só da realidade física, mas de outras que vocês não veem.
Por exemplo: você gosta de fumar?
Participante: eu não …
E você, gosta?
Participante: eu gosto …
Como é que você sabe que não gosta e como é que ele sabe que gosta?
Participante: eu já fumei um pouco e hoje não fumo mais.
Pode me dar qualquer justificativa que quiser, mas ainda não entendeu que nem você gosta nem ele não gosta. Na verdade é a mente de vocês que diz se gostam ou não. É ela que determina o que você gosta ou não.
Você só acha que gosta do que a mente afirma gostar porque a força de maya está presente. É ela que gera a certeza de gostar ou não de alguma coisa.
Esse é um aspecto importante para podermos analisar quando falamos de busca da felicidade: nós só achamos que sentimentos alguma coisa por conta da força de maya. Na verdade, quem possui sentimentos por qualquer coisa é a mente e só acreditamos que somos nós pela ação da força de maya.
Preso à ideia de que é você que gosta e agindo dentro da natureza primária do ser humano, egoísta, sempre exigirá da vida que o que gosta aconteça. Como ela não se subordina ao seu querer, quando isso não acontecer, sofrerá.

Pai Jaoquim

Meu maior problema: a vida cria os outros

Estes são dois aspectos que você precisa tornar-se consciente do viver para poder acabar com seus problemas. Primeiro é preciso compreender a vida, o viver a vida. Depois disso é preciso compreender que tudo que ela fala dos outros são apenas argumentos para lhe prender ao individualismo.
O momento que dou mais gargalhada é quando alguém me diz que sabe os motivos pelos quais os outros, que conhece a intenção das outras pessoas. Como se fossem capazes de ler pensamentos.
Participante: ainda não …
Não, mas vocês imaginam que sim.
Se veem uma pessoa na rua fazendo uma coisa, vivem uma análise completa da ação que está sendo praticada. Podem nem conhecer a pessoa, mas com certeza acham que sabem com certeza absoluta o que a pessoa está fazendo e para que pratica aquela ação. Agem como se fosse a vida de vocês, como se fossem vocês que estivessem praticando a ação.
Esta é outra propriedade da vida. Ela lhe apresenta a sua vivência, mas também apresenta a dos outros. Não sei se lembra, mas que já disse que não existe um mundo fora. Todos estão dentro de você. Porque todos estão dentro de você?
Você convive com as pessoas da sua família, do seu trabalho, das suas comunidades, com os seus amigos. Isso é certo?
Participante: sim.
Não. Você não convive mais ninguém, a não ser a sua própria vida. Se ela é aquilo que lhe é apresentado, onde estão as outras pessoas que interage?
Participante: na minha cabeça …
Na sua vida.
Participante: elas também me são apresentadas.
Isso.
Sabe quem são seus amigos? São criações da vida que ela usa para lhe apresentar algumas ações.
As pessoas com quem você imagina que interage não são independentes para fazerem o que querem na sua vida. Estou falando isso porque você acha que quando está com outras pessoas cada ser está vivendo a sua vida separadamente. Isso é real?
Participante: acho que sim.
Sim, cada um está vivendo a sua vida separadamente, mas na vida de cada um está o outro.
Participante: o senhor está falando isso porque o outro que está na minha vida não é exatamente aquele que eu penso que é.
Esqueça isso. Não interessa. O que interessa não é se ele existe isoladamente ou não. O que precisa entender é que ele é algo que lhe é apresentado pela sua vida e não um agente que pratica ações na sua vida. Ele é mais um elemento que a sua vida lhe apresenta.
Você não fala com outras pessoas: a conversa é mais um elemento que a sua vida lhe apresenta. Isso vale tanto para o que você diz quanto para o que o outro fala. A sua vida é aquela conversa e a do outro apresenta a ele a mesma conversa. Ou melhor, apresenta a interpretação que ela dá àquela conversa.
Isso é fundamental ter consciência para libertar-se do medo de perder. Porque? Porque achando que os outros são independentes e por isso imagina que eles ganharão de você. Não, eles não são independentes e nunca ganharão nada que é seu.
Eles não são independentes: foram criados pela sua vida. Por isso, numa situação ninguém ganhará e ninguém perderá nada. Sem ter esta consciência não conseguirá viver o dane-se convictamente. Sempre ficará se defendendo dos outros. Aí não adianta se separar da vida, entender que é a vida que está fazendo, porque ela vai lhe apresentar que o outro está ganhando alguma coisa e você acreditará que isso é real.
Acreditará que o outro irá reagir de tal forma, que ele acabará fazendo alguma coisa, que amanhã ele pode se vingar. Entendeu agora?
Esses são os aspectos que você e todo e qualquer ser humano precisa ter para alcançar a paz: entender a vida e saber que é ela que cria os outros. Como disse, cada um tem a sua vida, mas a sua lhe apresenta tanto você como os outros e a do outro apresenta a ele tudo o que está na existência dele. Os outros são um elemento da sua vida; na deles, você é mais um elemento.

Pai Joaquim

A vida é um espelho do espírito

Só que para chegar a esse dane-se, tem outra coisa, que também faz parte da vida e que você precisa estar atento: as regras morais da sociedade.
Veja que a vida é tão sacana que não contente em lhe dar sofrimentos fundamentados em ideias individuais, ela usa de argumentos societários para justificar o que está lhe dando. Neste ponto, você precisa entender que esses argumentos societários não são verdadeiros: são apenas um argumento da vida para lhe fazer aceitar o sofrimento.
Participante: para justificar os valores que dá ao que está apresentando.
Apenas para reforçar a ideia de que você está errado. Se não entender esta questão e se prender a esses argumentos, não conseguirá fazer o trabalho do mandar se danar o que faz.
No início falei das quatro âncoras. Disse que a vida trabalha a partir da vontade ganhar, por exemplo. Está certo isso?
Participante: sim
Não. A mente não quer ganhar: ela quer lhe prender.
Querer ganhar é querer ser melhor, ter mais do que o outro, ser o bonzão. A vida não tem essa vontade. Ela só não aceita ser pior do que os outros. Só o fato de não ser pior do que o outro, para ela isso é uma vitória.
É dessa forma que ela foi constituída, pois a provação do espírito está diretamente ligada à posição deste ser no universo. Você é um espírito dentro de um mundo de provas e expiações. Isso quer dizer que é um ser que ainda possui individualismo, egoísmo. Por isso a sua vida também o é.
Na verdade, quando ela lhe propõe não aceitar ser pior do que o outro, a ter menos que o próximo, está explorando que você possui, uma forma de viver que cultua. Faz isso para que vença suas próprias imperfeições.
Por isso, ela possui este padrão de ação. A vida explora o querer ganhar, o não perder, porque isso faz parte da sua provação. Ela age o tempo inteiro usando deste argumento. Em qualquer situação que lhe for apresentada, por trás das criações mentais, a vida vai estar jogando com a intenção de ganhar ou de ter medo de perder.
Não é apenas num momento que ela funciona assim. Ela sempre usa este argumento. Não importa qual seja o problema que qualquer humanizado tenha, ele nasce da intenção de querer ganhar. Se não houvesse essa intenção, a ação seria a mesma, mas não haveria o sofrimento.
Não importa qual seja a situação, este desejo está presenta na criação mental que a vida lhes apresenta. Mesmo que ela esteja no inconsciente, está por trás da criação mental, argumenta a ideia.
Portanto, a vida sempre joga com isso. Foi o que lhe disse no início. Perguntei porque você acha que agir da forma que age é errado? Porque a sociedade considera dessa forma. A partir daí, você estará sujeito a ser julgado pelos outros e isso, para você que não quer perder, é uma derrota.
A ideia de ser considerado como errado e por isso sofrer uma derrota, está presente em todos os problemas que vocês vivem. De uma forma indireta, inconsciente, mas está. E você precisa saber que este anseio está presente naquele momento, porque senão não conseguir dizer o dane-se que vai libertá-lo do sofrimento.
Por isso é preciso viver internamente com a consciência de que aquele pensamento está querendo lhe fazer ganhar algo. Só assim o seu dane-se poderá ter valor. Se ele não for dito com a consciência de que com ele vai perder e que isso não importa, será apenas um paliativo e com a perda, o sofrimento será vivido. Para poder fazer isso com segurança, precisa compreender que o que a vida fala que os outros pensam não é verdade.

Pai Joaquim

Nada é importante

Saber disso é importante: porque? Porque tira o peso que a própria dá a determinadas criações. Retira a importância que ela atribui a determinadas coisas que lhe apresenta.
Nada é importante. A importância que se dá a determinados aspectos da vida é ela mesmo que cria e lhe apresenta.
Participante: todos os acontecimentos, por mais importantes e fundamentais que aparentam ser, tem a mesma importância das atividades chulas da vida.
Exatamente. Este é um aspecto importante para se ter consciência.
Estou dizendo isso porque você não vai vencer o problema de agir de determinada forma – não estou falando em vencer a ação, mas a ideia de que essa ou aquela ação são um problema – enquanto estiver vivendo com o peso que a vida dá ao que acontece.
A sua ação ser um problema é uma ideia que a vida está lhe apresentando. Ela não é um problema: só se torna porque a vida diz que é. Para fazer essa afirmação, ela cria uma escala de importância para as diversas ações que cria.
A escala de importância entre as diversas ações que a vida cria é feita por ela mesma. Mais: não segue lógica alguma. Para uns determinadas ações são consideradas como importantes, para outros essas não têm importância alguma. Ou seja, a vida joga com a escala de valores dependendo do trabalho que cada um precisa realizar.
Participante: o que o senhor está falando é certo. Digo isso porque o que faço às vezes parece um bicho de sete cabeças, mas às vezes não tem importância alguma.
Sim, porque ela joga com a importância que se atribui aos atos. Numa hora diz que aquilo é fundamental; noutra não dá a mínima importância. Faz isso justamente para que você se perca no trabalho que tem para fazer.
Em determinados momentos ela afirma que esta ação não tem problema algum. Como vive com a ideia de que é você que pensa, respira aliviado imaginando que conseguiu se libertar do problema, que a partir de agora está livre desse peso. Com isso se desarma. Você acha que fez, que venceu, que acabou com o problema.
Só que no momento seguinte ela volta a lhe apresentar o valor de problema para aquela ação. Pronto, você está de volta para o buraco.
Participante: isso. Às vezes é como se essa ideia nunca tivesse existido.
Isso pode acontecer com você porque está dentro da sua programação, dentro do seu enredo. Só que tem outras pessoas que ela não tira. Permanece angustiando o ser o tempo inteiro com o valor de errado.
Você, como disse, ainda consegue se libertar do valor que a vida dá aos atos algumas vezes, mas há pessoas que não conseguem a existência inteira. Esses, além de se amargurarem por fazer o fazem, ainda têm preconceito contra aqueles que fazem a mesma coisa. Por viverem presos ao valor que a vida apresenta, se criticam e acusam os outros. Na verdade, sofrem em dobro.

Pai Joaquim