segunda-feira, 25 de abril de 2016

Sentir raiva

Alguém agora me pede ajuda porque do nada essa pessoa sente raiva dos outros, passando, inclusive, a agredir os outros. Não fisicamente, acredito eu, mas verbalmente, moralmente. Ela diz que não gosta do seu modo de proceder e, inclusive, ele está lhe causando maus físicos. Por isso me pede ajuda para mudar esse estado de espírito. Vamos lá ...

Primeiro precisamos compreender o que é raiva. Digo isso porque para vocês humanos esta emoção é um ataque ao outro. Só que ninguém ataca ninguém. Na verdade todos se defendem dos outros. 

O acesso de raiva não é um ataque a ninguém, mas sim uma defesa que é usada por uma pessoa. Vou tentar provar isso ...

Repare bem que existem raivas que surgem por nada. Toda expressão de agressão verbal acontece como reação a alguma coisa. O ser humano tem raiva de alguém, reage a uma pessoa falando de uma forma mais firme porque sentiu-se ameaçado em alguma coisa. 

Portanto, o primeiro grande detalhe para quem se sente incomodado em sentir raiva dos outros é saber que essa forma de reagir não tem nada a ver com ataque a ninguém, mas sim com defesa. Isso é importante aquele que quer ter o poder da felicidade saber para começar a ver em si o que foi atacado, qual ameaça foi detectada naquele momento em que a raiva surgiu.

O que estou querendo dizer é que aquele que é feliz quando ou depois que se expressa raivosamente tentará descobrir dentro de si mesmo que posse, que elemento seu foi, mesmo que ilusoriamente, ameaçado pelo outro. Ele precisa saber disso para poder combater a possessão. 

Posse é querer determinar o destino do outro, da outra coisa. Quando alguém fala alguma coisa e você tem raiva pelo que foi falado, repare bem se não pensa diferente, se não vê as coisas de outra forma. Se o motivo da sua raiva, por exemplo, é porque alguém acha uma coisa branca, repare se você não acha que é de outra cor?

É isso que precisa ser feito para poder trabalhar em si mesmo o contra-ataque que vocês chamam de raiva. Digo isso porque enquanto existir a verdade e a possessão, enquanto houverem patrimônios individuais que precisam ser defendidos, terá raiva. 

É inevitável. Ela pertence a natureza do ser humano. Sempre que ele é atacado reage e ela vem através da raiva. Dentro de suas diferentes escalas, mas a reação é sempre uma raiva.
Eis aí, portanto, o primeiro ponto do caminho para quem me perguntou sobre ter raiva. Não na hora que gritar, que brigar, porque aí é impossível, já que está dominado pela raiva, mas depois, reflita sobre o que a outra pessoa disse ou fez para poder descobrir em si mesmo aquilo que realmente lhe causa raiva. 

Tem um exemplo clássico que dou que dá para compreender o que estou falando. Se alguém lhe chama de feio e isso lhe causa raiva, quando analisa e descobre que foi o fato de ser chamado de feio que lhe causou raiva, pode entender que quer ser chamado de bonito. Quando faz isso vê a sua posse, o querer que todos lhe chame de bonito, e pode praticar a segunda etapa que lhe leva a fugir da raiva: libertar-se das verdades, das posses, das paixões e dos desejos. 

Este é o caminho. É preciso, não na hora, no momento ninguém consegue fazer, mas depois do acontecimento, ouvir o que a pessoa falou novamente, ver o que dentro de si mesmo foi ferido e que provocou aquela reação para poder se libertar da verdade, da paixão e posse. Sem isso, continuará sofrendo com a raiva.

Dito isso, deixe-me falar alguma coisa muito interessante. Você me pergunta se não tem jeito de se mudar o que sente. Eu respondo que não, não tem. Além do mais, porque você quer deixar de ter raiva dos outros, se isso não traz problema algum para a elevação espiritual? Isso só se torna problema para quem não quer ter raiva. 

O mal físico que diz que está lhe causando não tem nada a ver com a sua expressão da raiva nem com a emoção que está dentro de você, mas sim por sofrer por ser raivoso. A sua contrariedade não está no que fala nem no que sente, mas sim em não querer ser raivoso e ser.

Portanto, não se preocupe com atos. Não queira deixar de gritar com alguém, até porque não faz isso com ninguém que não mereça ou precise desta atitude. Concentre-se apenas em libertar-se verdadeiramente, inclusive da verdade de que não pode gritar com os outros. Da verdade que diz que é feio gritar com os outros, que é errado fazer isso. 

Libertar-se dessas coisas pode lhe ajudar. Agora, esperar que seja um ser humano politicamente correto, ou seja, alguém que trate todo mundo bem, não lhe ajuda em nada. Sonhar com isso só pode lhe causar contrariedade, porque é algo que não consegue ser, pois não faz parte da sua natureza e como Krishna ensina, ninguém pode agir diferente da sua natureza.

Não pense que o trabalho de libertação das suas verdades lhe levará a deixar de gritar com alguém. Lhe levará é a deixar de sofrer porque gritou com os outros e não a agir de forma diferente. 

Portanto, eis aí a sua resposta. Volte-se para dentro depois do acontecimento, liberte-se da verdade que causou o sentir-se ameaçado e, principalmente, liberte-se da ideia de que agiu errado, que aquela forma de proceder não deve acontecer e é feia, pois é isso que lhe causa o problema físico e não a ação para o outro.
Que esteja em paz.

Pai Joaquim

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